quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

estrear estrelar

às vezes a gente vive como se a estréia pra valer estivesse sempre prestes a acontecer. E deixa alguns detalhes pro grande momento, esquecemos que o momento é agora, é já. E em algumas épocas do ano quando algumas das convenções celebram e marcam a passagem do tempo mais nitidamente é que nos damos conta de que o relógio nunca parou e sempre estivemos no palco. Somos protagonistas, temos platéias, críticos, amigos; temos amores. E não atuamos apenas em dramas ou comédias, na verdade o bom da vida está em participar de todos os atos, de todas as histórias possíveis. É importante perceber também que nada se faz sozinho e que precisamos de todos a nossa volta, assim como também somos indispensáveis. É amar o próximo como a si mesmo. Acho que a mensagem de Cristo é perfeita e não carece de considerações, carece de ações.

Feliz Natal a todos e um ano novo cheio de paz, saúde e amor!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

aspas

"alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma ."
Guimarães Rosa

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ato

penso em
você
dis - pensa

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

nome ar

A.C

(...)
Amor,
só a pele não,
Sua alma
ou o seu assunto de suma
importância
e os contrastes fortes:
nome sobre o nome.

Armando Freitas Filho

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

enquanto isso

"De longe parece mais fácil/ Fragil é se aproximar/Mas eu chego..." Zélia Ducan

Pedaços de presente, bocados de passado formam a paisagem bucólica que ando desenhando, desdenhando mesmo dispondo de poucas cores, vale a tentativa, a arte. Os erros só são percebidos depois de uma segunda olhada, umas releituras. Paciência. É necessário mesmo conviver com as limitações, ah se a gente pudesse controlar tudo, até os defeitos. Nos contentaríamos com a perfeição? Talvez, ou talvez buscássemos a beleza naquilo que destoa; que é diferente e singular na sua imperfeição, o encanto também estaria aí? O risco é apenas o de não encontrar, de não se encontrar. No mais as tentativas de se desprender desse ponto de vista sempre individualista e por isso mesmo solitário continua. Já se consegue ver que é uma barreira pra outros mundos, possivelmente mais interessantes ou no mínimo mais diversos, divertidos já que se constroem a muitas mãos. Isso exigirá tolerância, sensibilidade. Se aquela história de que pra mudar o mundo, basta começar mudando a si mesmo, eu já dei o primeiro passo... Avante!

sábado, 4 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ya estoy de vuelta

Eu disse que tudo não passava de algo passageiro e logo, logo eu estaria na outra banda, tocando o barco e dançando outra música. Estou aqui e conto, canto. Insisto mesmo na melodia do novo dia amanhã que será melhor. Alguns falham, outros confirmam, a maioria; ainda bem. Eu quero alimentar sempre essa esperança delicada que carrego como quem cuida de algo muito frágil e valioso. Há sempre o risco do excesso de zelo, ou receio, mas tudo vale mais a pena pela aventura de levar adiante o entusiasmo pela vida, ávida.

sábado, 27 de novembro de 2010

notícias

Os dias passam preenchidos do tempo e dos fatos corriqueiros e pouco percebidos, parece que não contam, só parece. Vez ou outra um flash de consciência desdiz, já é tarde. Prossigo, sigo sempre na direção dos meus sentidos e sentimentos. Explico com psicologia barata a melancolia esporádica das horas, e as grandes questões da minha vida, num mesmo lugar comum. Tomara que não procedam, que as razões sejam outras, mais fáceis e eu acerte num golpe de sorte, desatenta. Continuo sem ter algo a dizer, mas mando notícias para a perseverança. Convido a novidade para uma visita, quero andar por aí de braço dado com a leveza, alegre. Volto logo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Como estrelas na terra



A frase que ficou nessa primeira vez que assisti Taare Zameen Par - Every Child is Special, que significa, "Estrelas na Terra - Toda Criança é Especial ", essa obra prima do diretor indiano Aamir Khan foi a fala do próprio, que também é um dos atores principais do filme, o professor de arte Ram Shankar Nikumbh:

"Poucos de nós conseguem enxergar fora da moldura."

O filme diz um pouco disso, da nossa visão limitada em relação ao quanto as pessoas, o mundo são especiais. Mas diz muito mais, com certeza. Lindo, emocionante e indispensável. Fosse vc eu ia correndo assistir, enquanto isso sinta o gostinho aqui: http://www.taarezameenpar.com/

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Racismo, política, mídia, internet, liberdade de opinião. Dois ótimos artigos pra gente refletir :

http://colunistas.yahoo.net/posts/6225.html Michel Blanco
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php Maria Rita Kehl


Porque aqui nós somos a favor do respeito, da igualdade de direitos e nordestinos, com orgulho!

Peace and love, now!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

nuance

no fim do dia quando me sentia tão bem, estar bem e o azul desse céu com aquela aparência de infinitude e beleza, contagiante como sempre. E logo depois, a dor de rasgar o tecido ilusório e denso onde costumamos nos acomodar, dói mesmo se enxergar tão verdadeira, tão suscetível a acreditar no que sempre esteve dissipado e invisível. A própria inconstância nos empurra pra esse frágil abrigo do desejo. Que se sabe nunca realizável porque sua essência está no intangível, no futuro. É difícil lidar com a probabilidade, com a exatidão das coisas. É dolorido se desencantar. Mas passa, mais passos e, já me sinto sob novo encanto daqui a pouco. Eu canto a ousadia, eu conto com a poesia dessa vida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

como seria bom se assim fosse

Autoanálise

As pessoas se bastam, eu não. Preciso de cada um e de todos. As pessoas se deixam, eu não. Carrego no peito cada ser amoroso. Sei como amar alguém, mas não como deixar de amá-lo. Dizer ao coração a esse apague, àquele esqueça em mim é vão. O insensato músculo não ouve e ininterruptamente bate. Por isso, não pense alguém poder um dia me perder. Ninguém me perde enfim, só eu me perco de mim.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

sim

a verdade liberta mesmo, acho bonito saber ser quem se é de verdade e tentar ser feliz

assim , como a Cris

Que tambem emociona e alegra a gente em:
http://parafrancisco.blogspot.com/
e http://www.hojevouassim.com.br/

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada

V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

Manoel de Barros, daqui

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

nota

voltava pra casa com aquela saudade vontade de chegar. o sol refletia no retrovisor tão na medida de claridade entre ofuscar e deixar ver que beleza. um vento perfeito no rosto. e o crepúsculo dos mais bonitos que já vi às 17:32, exatamente. o céu de Brasília num tom encantador, com ares de liberdade. o mundo parece se harmonizar. me sinto feliz. agradeço a Deus esse raio de consciência sobre as coisas mais simples e etéreas, naturais. o momento se esvai rumo a noite, com um jeito de hora que poderia ser eterna. chego aqui sob enlevo do fim do entardecer, escrevo. boa noite.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sur-realidade

Antes de mais nada, Manoel de Barros: "É preciso desformar o mundo."

Não é do meu feitio fazer críticas do tipo, há profissionais mais indicados, mas ando ansiosa com o tcc e o horário eleitoral com seus candidatos mutantes, tentando se metamorfosear no ideal de político do brasileiro a cada nova aparição, dá nos nervos de qualquer cristão. É tanta inconsistência, dá vergonha alheia cada frase ensaiada, cada gesto zero genuíno, cada má intenção que há por trás.

O fato é que também pensei no resgate dos mineiros do Chile, um milagre da vida, da tecnologia, de esperança, que não vale por ser tanto; tem que render, tem que ser transformado em espetáculo. Agora, ainda mais virá a mídia, especular, transformar cada minuto de tudo aquilo em dinheiro, em assunto, em lucro; até não agüentarmos mais ouvir, claro, só até o dia de ir assistir ao filme, em sua estréia mundial. Que mundo louco, onde o valor e o alcance de coisas insignificantes e fatos históricos, importantes, se igualam na sua efemeridade enquanto produto midiático, enquanto o produto descartável indispensável e mais cobiçado do momento.
Não há tempo pra escolhermos, pra conhecermos, pra nos posicionarmos, tudo nos sobeja tão brutalmente, que nos sentimos levados pela onda, a onda desse tsunami informacional, cultural, social e todos os “al” desse caos globalizado. Saudade de quando o mundo era o meu quintal e a população e a vida acontecia nos limites do pequeno povoado onde nasci. Saudade da privacidade, da simplicidade, da naturalidade, da viva-cidade enquanto meu lugar no mundo. Será que isto é um apelo a momentos necessários da nossa solidão enquanto indivíduos? Tudo é tão divulgado, tão devassado, pouco resta de nós mesmos, do nosso aconchego, do nosso sossego.
Pronto! passou a vertigem. Que saudade é mais da lembrança. E eu gosto é do caminho fluído para o futuro, já disse aqui. Mas pensemos nisto. Em preservar uma essência humana, uma compaixão, o amor, sim. Seja meu apelo o maior dos lugares-comuns. Eu acredito, tanto quanto os poetas e os profetas que sem amor nada vale a pena.

E também por fim, Manoel de Barros, com toda licença de eu também dizer pra me desculpar pelas queixas:
"Eu sempre guardei nas palavras os meus desconcertos."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

carinho


Recebi um selinho da minha amiga Edna : http://felcriando.blogspot.com/. O blog dela é que é de excelência pela criatividade, beleza e paciência com que faz a sua arte, olha que bonito! Bom, como tenho de indicar outros blogs, e sou muito indecisa, indico não apenas oito, mas todos os blogs que listo como preferidos e os seguidores de primeira dessa versão minha. Merecem. A regra pra receber está aqui.


Obrigada!

sábado, 9 de outubro de 2010

vem!

http://www.youtube.com/watch?v=JQlKMX2LLHg&ob=av2e

Do lado de cá- Chimarruts


Aqui há espaço para se cantar a vida, colorida.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

entretantos


o marasmo aqui se dá pela agitação de lá, do lado de onde a gente navega, nas ondas revoltas da realidade, não a virtual. O tempo, ou melhor a falta dele, ou melhor ainda a desorganização diária nos dá a impressão de que chegamos e partimos toda hora e nem dá pra apreciar o lugar, o momento, as pessoas. Nos apegamos mais a navegação que ao destino. A outra impressão é de que todos estão indo do mesmo modo, pelo simples impulso de seguir sem saber direito dos motivos ou mesmo do caminho. Mas é assim, consideremos então ao menos o movimento dos remos, dos rumos e sigamos viagem, eu volto noutra hora pra dizer do que vi por aí...

au revoir...
Cora (eu, ensaiando uma outra versão)

da consciência

Sei não, difícil tirar o olhar, dessa estreiteza onde a dor se encontra. Ampliar a visão para o que é diferente de nós. O mais contraditório é buscar a verdade sabendo que corta, machuca, nos separa de nós mesmos um pouco antes, quando não sabíamos. Mesmo assim prefiro os acontecimentos, a realidade o mais dura que seja. Escolho sempre a luta que é seguir “apesar de”, escolho sempre a resignação que dignifica, a resistência que impulsiona a viver, seja lá como for.
Alguma coisa deve ir embora quando a alma se deixar lavar, e o que restar conto com a memória, para que guarde somente o que for indispensável pra retomar quando necessário a coragem de buscar a verdade novamente, e sentir novamente a intensidade dessa descoberta; e de novo resistir e continuar sempre consciente e lúcida por mais dolorido que seja, do próprio valor, dos próprios defeitos e ser grata pela vida, a minha desse jeito que ela é.
A condição sublime de existir sempre está acima, para mim, de qualquer momento de desamor, de desilusão. Acho que começo a entender que os ciclos vivenciados, sempre se encerram para dar lugar a outros, às vezes iguais, às vezes melhores, mas sempre imbuídos dessa temporalidade, desse contínuo, que nos liberta para as possibilidades do amanhã, e eu acredito, repito, esperançosa.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

da falta

"Eu te agradeço por esse afastamento lento e gradual e pela viagem interrompida por seus perpétuos atrasos causados pelo medo de tirar os pés do chão. Agora, a cada dia eu preciso de uma roupa nova desde que minhas malas foram extraviadas para sempre com todo o nosso excesso de bagagem. Eu te agradeço pela honestidade da sua omissão tão previsível que sempre confundi com meus presságios. Essa ida sem despedida que você covardeou: eu finjo que não sei, você finge que não foi. E a gente segue inventando que ainda se interessa pelo que começamos a construir juntos, num outro contexto, pra realçar nossos vínculos. Eu te agradeço a descoberta de que se não seguimos juntos nessas coisas do amor, seja porque talvez
eu, veterana
enquanto
você ama-dor".

Marla de Queiroz
via A ilha de um homem só , que diz também do que é muito mais bonito, o amor suficiente.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

"A vida é nova a cada dia. " Gregorio Marañón

Nos esquecemos disso, da novidade trazida por cada novo dia. Estava pensando outro dia que nossos maiores sofrimentos decorrem desse apego ao tempo, aos fatos passados. De certa forma não querer pensar além, não querer pensar diferente significa "estar preso" a uma idéia, às vezes tão forte que nos toma a alegria, a energia de enxergar a mudança, a passagem para outros acontecimentos mais presentes, mais recentes, e por isso essencialmente mais significantes.
Não pensamos assim, preferimos nos agarrar ao fato intenso e triste que já não existe, só no nosso sentimento. Por isso não me canso de me beliscar para a efemeridade daquilo que nos afronta, que nos enfraquece. Lembro a mim mesma da importância de lançar o olhar adiante, para o amanhã, no mínimo para o hoje, sempre de forma esperançosa, que é a forma mais leve de se viver e ver a vida. Eu busco sim e não quero esquecer nunca de prezar pelo que é singelo, delicado e bonito nas atitudes humanas, gosto de vivenciar a poesia, mesmo onde ainda não se pensou, não se escreveu; acreditando sempre nas possibilidades surpreendentemente boas desse mundo.

Carpe Diem ...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quanto à mim,
tenho que lhes dizer
que as estrelas são os

olhos de Deus vigiando
para que tudo corra bem.

Para sempre. E, como se sabe,
sempre NÃO ACABA NUNCA.


Clarice Lispector.

da afabilidade

Tomei esse espaço como lugar reservado para os desvarios verbais, hoje, relato eventual do fervilhar das idéias e sentimentos, às vezes em sintonias diversas. Nesse momento servirá de diário, para o registro do dia, do afago recebido nos cabelos, do deslizar delicioso do dedos entre as mechas dos fios negros dos cabelos. E isso já não é muito? Quando a gente anda um pouco anestesiado do mundo, indiferente a tudo?
De repente um gesto, um toque despretencioso que não se sabe intencional ou não no sentido carinhoso da ação. O que importa? É que de repente nos sentimos sensíveis aos pequenos contatos, aos acenos sutis da delicadeza, da amizade ou do amor. É pena que sejamos tão insensíveis normalmente, cotidianamente e só em curtos instantes muito raros nos voltamos para as possibilidades de dar e receber afeto, sem obrigação, sem cobrança, sem malícia. Espontaneamente.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

click!


" Quero brincar, meus amigos de ver beleza nas coisas."
Hilda Hilst
[e nas pessoas] digo eu.

Lembrete

Ei, Ana

Quando for possível não dar confiança pra ansiedade. Afinal de contas se preocupação resolvesse alguma coisa, muita gente nem precisaria levantar da cama, sair da casa, se mover. Mal damos conta do que realmente podemos fazer, do que importa na verdade. Segue a filosofia do ar. Leveza. Entende? Do ar = Doar. É questão de espaço apenas. Que tal doar-se? Sem dor, apenas ser. E já será um grande movimento em favor da vida, da alegria, das coisas boas que sempre queremos. Não é isso sempre a razão da pressa? Então? Vamos temperar o tempo ao sabor do vento, da liberdade. Será melhor. Garanto. Na verdade não, mas confio. E o mais, não é assunto pra bilhete, é assunto pra cartas, livros, novelas, sonhos e dia-a-dia. Nos vemos.
PS: Abre a janela que é pra entrar uma brisa. Faz bem.

Aitak

domingo, 29 de agosto de 2010

em verdade

“Mesmo que me falte as palavras, mesmo que eu não saiba louvar .Te louvo, te louvo em verdade”

Alguns dias sem inspiração pra nenhuma frase. Hoje tive vontade de contar as histórias que nunca contamos porque são as mais triviais e só excepcionalmente, como hoje, reparamos. Uma senhorinha agitava os braços numa alegria incontida durante os hinos em meio à pequena multidão apática, que mal seguia a coreografia já tão domingueira. Alguns se entreolham, sentem-se constrangidos, imaginem, só porque aquela velhinha não tem vergonha alguma de expressar sua fé, sua emoção. Ah eu invejo essa liberdade de ser quem se é independente do que vão pensar. Na outra ponta uma jovem chora por motivos que acho, todos ignorávamos; uma graça alcançada, uma tristeza, uma dor, não se sabe. Ainda falta a coragem de me aproximar, oferecer ajudar, nunca sei o quer fazer numa situação assim, acho que a maioria age como eu, prefere ficar indiferente, distante, embora comovida. Depois de um tempo a moça já não chora; ela guardou para si e já de novo agüenta sozinha o motivo das lágrimas. Não saberemos. No banco à frente, um bebê de colo solta o riso mais franco, mais lindo e mais puro que só os bebês sabem.
E eu ali no meu canto com a minha alegria contida, a minha dor bem guardada assim como o meu riso, pensando em nossas semelhanças, nossas fragilidades tão iguais, nossas diferentes maneiras de buscar a felicidade, de buscar Deus, domingo na missa.

sábado, 21 de agosto de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ocaso ou Acaso

um sol ilumina
teu lugar
de pensar em mim

pensar que me ilumina
frêmito efêmero
dia que termina

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

encantada

A escrita nos liberta dessa inércia consciente. Dessa vontade não realizada de querer dizer algo que não dizemos, fazer algo que não fazemos. Eu que digito a primeira palavra não sou a mesma ao final do texto. Estou sob esse encanto da palavra, que só se quebrará com um beijo compreensivo de quem me leia, e mais que me compreender, entenda além de tudo que eu nunca disse, além do silêncio e da página em branco. Enquanto espero imaginando esse conto, vivo na história da vida real e a noite me diz agora, que é hora de virar a página do dia.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

passageiro

"O tempo é uma coisa criada. Dizer 'Eu não tenho tempo', é o mesmo que dizer, 'Eu não quero'." Lao-Tzu
A respeito dessa sentença que me parece tão lógica, uma precisão matemática eu diria. Exatamente às 14 :34 eu entendi que aquela resposta igualmente dada a mesma pergunta como todas as outras vezes, significava aquele algo. Aquele algo muito óbvio que por isso mesmo teimamos em não entender. Mas isso é a prova real de que até essa resistência tem limites. Os fatos são para serem considerados e as desculpas, são só alimento pra continuarmos com nossa incompreensão consentida. Então não percamos tempo com divagações que a lucidez é uma virtude (tanto quanto alguns desvarios) . Se a hora for essa como eu acredito que seja. Boa viagem, que seu trem já vai partir e minha passagem é pra outro destino, outro lugar, outro dia, outro desejo, outra história. Adeus.

sábado, 7 de agosto de 2010

incertezas
Pensei que o não e o sim bastassem, e agora me surpreendo a permanecer nesse não sei o que, imprecisão, talvez não entendidos. Pelo jeito as coisas, os fatos e as palavras não fizeram pacto de correspondência biunívoca e nem eu. Porque se fossem velhos conhecidos meus, esses sentimentos; saberia como nomear, como agir. Enganei-me com a idéia de repetição, o mundo não é linear, é multidirecional, e ao contrário do que eu deveria estar: confusa; acho que encontrei o gosto por todas essas possibilidades da incerteza.

desiguais

-Eu quero encontrar alguém especial.
-Eu não. Quero encontrar alguém comum.

sábado, 31 de julho de 2010

o que era isso, que a desordem da vida podia sempre mais do que a gente? o real roda e põe diante. homem, sei? a vida é muito discordada. tem partes, tem artes. a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. verdade maior. é o que a vida me ensinou. requeria era sarar, não desejava céu nenhum. as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – no que elas vão sempre mudando. afinam ou desafinam. eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa. atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. sertão é onde os pastos carecem de fechos. quero o outro perto, eu distante de mim. hoje em dia eu nem sei o que sei, e, o que soubesse, deixei de saber o que sabia. a gente só sabe bem aquilo que não entende. meu coração é que entende, ajuda minha idéia a requerer e traçar.


João Guimarães Rosa aqui

quarta-feira, 28 de julho de 2010

"Uma outra coisa é o verdadeiro canto. Um sopro ao nada. Um vôo em Deus. Um vento." Rainer Maria Rilke

Senhor, eu sei que devia agradecer todos os dias por todas as coisas, mas humanamente vivemos, sob nossas emoções e sentimentos, mesmo assim quero agradecer por hoje, assim imperfeitamente, por esse dia, onde nada extraordinário aconteceu, mas hoje o cansaço que meu rosto refletia foi substituído pelo ânimo, o bom ânimo e, um contentamento brilhou nos meus olhos, eu vi. Não é sempre que enxergamos o lado bom das coisas, não é sempre que nossas expectativas sempre tão egoístas são alcançadas, melhor assim. Mas às vezes sim, nossa alegria transborda, seja por vaidade ou motivos outros, subjetivos. E me sinto feliz porque minha experiência de fé em ti permite minha experiência de fé na vida, nas pessoas, fé em mim. E quando esse sentimento de satisfação se expande assim, é que tomamos um pouco de consciência da grandiosidade do mundo e de nossa pequenez, que não nos faz menos especiais. Ah! esse divino milagre de existir. . .

domingo, 25 de julho de 2010

quebra-cabeça

Não tem jeito, temos que ir aprendendo e lidando com o que a gente acha que é e o que realmente é que as pessoas estão pensando e sentindo. Lidar com a incerteza e a insegurança é talvez o grande segredo das pessoas realmente felizes. Ainda não li esse livro. Ainda não li vários livros que nos ensinem a viver, a viver bem; mas eu duvido que seja necessário. Na verdade desconfio que também tenhamos que conviver com esse não saber tudo, com essas falhas, com as partes que temos pra formar a imagem, pra significar. Interpretar como se já conhecêssemos o todo e agir como se tivéssemos razão; ainda podemos sempre voltar ao início e tentar de novo quando errarmos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

pretexto

Eu peço desculpas por outros motivos, eu continuo achando que disse o que deveria dizer e fiz o que deveria fazer, eu só acho que não valeu à pena, que não houve entendimento, que não houve intensidade, que não houve interesse. Quando o auge do meu egoísmo me diz que não houve afeto, no sentido mesmo de alguma transformação esperada, algum gesto, algum silêncio, algum afago pelo tom, pelo toque, então me desculpo e espero que se desfaçam todas as impressões, que se diluam todas as expectativas ainda ocas. O motivo é sempre egoísta, infelizmente. Eu pretendo aprender a usar as palavras para as finalidades para as quais foram pensadas, e deixar de dar sentidos diferentes, que fujam das convenções. Quando eu vou aprender a linguagem dos sentimentos alheios e deixar de falar apenas meu próprio idioma?

domingo, 18 de julho de 2010

intervalo

Essas últimas horas, as mais recentes, vieram doloridas; carregadas de palavras, as boas e as não tão; se misturaram, ai já viu, é a densidade ideal para a formação desse estado anterior à lágrima. Espaço ideal pra sensação de indefinição dos fatos e acontecimentos. Momento ideal pra não saber o que calar e por isso escrever. É tudo ideal demais pra realidade que preenche o resto do tempo. Leminski já disse bem:

tudo dito,
nada feito,
fito e deito
Eu já escrevi textos e poesias sobre outras pessoas, mas a única criatura que me faz querer escrever o tempo todo é você, Ana.
Você vê o que um simples "estou com saudades de você", faz?
Ana, é isso que acontece. Eu e você somos nós, Ana, e eu amo isso existir.
Mas eu odeio também nós não sermos nós plenamente. É a parte mais estranha, porque por Deus, Ana, eu sinto saudades de um tempo que nunca existiu! Isso não é possível e, procurando explicações, eu só encontro duas: ou nós dividimos, numa outra vida, esses tempos, ou eu estou ficando louco. E eu lhe digo, Ana, eu lhe digo: eu estou crendo que a explicação real é a segunda.
Eu não queria fazer isso com você, de forma alguma, mas eu não posso mais suportar essa dúvida na sanidade se não disser: Eu seria capaz de qualquer absurdo, só para poder ouvir de perto as coisas que você me diz.
Ah, Ana, eu estou ficando louco, louco, louco. É tão triste se sentir assim, minha doce Ana, tão triste. Jamais eu gostaria que você sentisse a metade dessa tristeza, eu não suportaria vê-la assim.
Ana, quando você achar que eu estou indo embora, que a sanidade está me abandonando de fato, por favor, encontre uma forma de me trazer de volta, não me deixe cair nos devaneios da insanidade, por favor não deixe, Ana.
Por favor, não tenha medo de mim só porque estou louco. Pegue na minha mão e diga que vai cuidar de mim, que vai fazer o possível para que nós fiquemos juntos. Eu acho que se ficar mais tempo longe de você, as coisas vão piorar muito, Ana.
Você me faz bem, minha querida, jamais se esqueça disso, e se por algum motivo eu não voltar, por favor, se lembre com alegria dos momentos que passaríamos juntos.
Daniel Ramalho
Quer ficar encantado como eu? Acreditando que um sentimento tão intenso, tão bonito e tão forte pode existir de verdade porque alguém foi capaz de escrever coisas assim?
Então vai lá: Os muros da realidade já não bastam e sonhe... rs

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Blogagem Coletiva: "Tempos de Criança"
Infância

Difícil olhar pra ontem e não me emocionar; sim porque foi ontem quando eu era a menina magrela de cabelos compridos que sempre ouvia dizerem pra mãe: “corta esse cabelo que tá sugando ela, por isso é tão magrinha.” Eu só arregalava os olhos e pensava sobre o mistério dos cabelos longos. Era sempre assim, eu queria entender tudo, eu absorvia o mundo e por não dar conta de carregar, tinha medo, e tentava agir como gente grande, pois parecia mais seguro. Eu era sempre aquela que alertava que não arriscava, me responsabilizava por tudo e por todos. A menina sensata e quietinha, mas na minha cabeça a vida era aventura, e sempre senti o perigo dessa peripécia que é viver.
Minha imaginação me salvava de crescer antes da hora. Inventava histórias para as brincadeiras, onde goiabeiras, cajueiros eram casa, avião e cidades; os animais pacatos no pasto perto de casa sofriam mutações e muitas vezes eram os monstros que motivavam a correria em pânico, e os dias da minha infância corriam mais divertidos. Não precisava de nada que eu mesma não pudesse criar. Talvez daí venha a resignação de agora. Esse não esperar muito dos outros e do mundo. Porém isso não significa limitação e comodismo, eu só acho que tudo continua grandioso demais, encantador demais pra eu dar conta, e continuo tentando crescer, para estar segura, eu continuo tentando entender o mistério de ser criança, de ser gente.
Texto comemoração aos dois anos do blog É o menino - homem?. Vivas ao menino Abraão

terça-feira, 13 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

pensamento do dia com trilha sonora

Um raio de leveza chegou pela fresta do muro e foi suficiente pra escancarar o sorriso e enxergar a vastidão da existência, lá fora. Veio a coragem pra sair ao mundo, pra desfrutar o dia. Ah como é bom, se indispor e se dispor mais com a vida; encará-la com o punho fechado, às vezes; mas com os braços abertos, sempre.

Música: Eu apenas queria que você soubesse - Gonzaguinha

terça-feira, 6 de julho de 2010

enleio

Embora continuem as dúvidas
sobre os termos e sentidos
não deixo de escrever,
ler e reler a história de mim.
Um dia eu interpreto.

Queira mas não me entenda,
não busque saber cada detalhe.
Compreenda meu gosto
pelo mistério de ser eu.

Sou do signo de sagitário
e a profecia do papel de bala
diz que não suportamos análises;
a liberdade é minha bandeira.

Tenho uma parte que é só poesia
- por outros meios não me revelo -
Só essa arte me desvenda.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Habitat

Poesia não se escreve
com girassóis
ou lírios.
Versos são cílios –
melhor, ciscos –
no olho
que não chora.
Escrevo porque abraço
ouriços.
Vivo isso.
Piso ruínas.
Habito-as.
Leandro Wirz (pra não esquecer a poesia diária)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

prece

O cansaço meu Deus, o cansaço
De ouvir, de falar, de chorar
Não permita, meu Deus, não permita.
Quero ver e amar e sentir.

Essa vida, meu Deus, essa vida
É só tempo, é um vento que vai
Quero paz, meu Deus, quero mais
Muito mais que eu possa pensar

Que eu entenda, meu Deus, a pendenga
esse mar entre o outro e eu
Essa luta, essa dor, essa onda
de querer, sem saber, só viver.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Acredite

Eu não acredito em mim quando devia. E isso dói mais que quando alguém me joga alguma palavra agressiva na cara. Eu pensei que isso não fosse mais possível. Não alguém me jogar palavras grosseiras, mas eu me desacreditar um pouco. Não uma dúvida - dúvida, mas uma incerteza meio magoada de será que o outro tem razão?
E por uns bons momentos eu me esqueço que eu não importo com o que pensam a meu respeito, e fico insatisfeita com a minha falta de amor-próprio justamente quando é mais necessário. É tão triste perder tempo com ouvir bobagem que eu choro. Choro também porque eu esqueço as coisas importantes e bonitas e das pessoas importantes e que eu amo.
Me decepciono por não saber ser imune ao meu julgamento. Eu devia saber conviver a mais tempo, e perdoar e esquecer. Eu não quero perder um minuto com o que não devia ser considerado de jeito nenhum e foi. Por isso faço questão de encerrar esse episódio agora, e acabar o mal estar como a sugestão que li outro dia: “desmaia logo que passa”. Eu quero gastar cada lágrima com algo que valha a pena.
Segundo minha olhada em meus arquivos, esse tambem não havia sido publicado é de outubro de 2009.
Embora o contexto do texto tenha se diluído no tempo, a regra aqui é escreve - publica. Então... me avisem se eu já o postei antes.

Previsível

“insensível, insensível você diz..." *

Pois como disse o poeta: "Mas a vida era a vida, e tudo mudou". Não posso ser cem por cento previsibilidade, com tanta admiração e surpresa com que olho o mundo a minha volta; a certeza enfadonha deve está na vista de quem olha; e quem me olha sem encanto, sem espanto não vai ver nada que já não conheça, e mesmo assim seria contradição, pois todo dia nós já somos outros, talvez mais velhos, outros.
Acredito mesmo que tudo esteja de acordo com a percepção que temos das pessoas e de tudo a nossa volta. Pra mim tudo é estranho, desconhecido até acontecer, até existir, até ser sentido. Tudo que acontece traz algo nunca visto, nunca sentido. Aquilo que passa pelos meus sentidos se transforma por todas as impressões, idéias e experiências que sou eu. Do cumprimento amigável de um desconhecido na rua a um gesto rude de um amigo, tudo é intensamente surpreendente pra mim e eu tento agir como se tudo fosse normal e razoável. Porque as menores coisas para mim são imensidões, as insignificâncias são imprescindíveis e tudo tem um valor imensurável, afetivo.
Tudo me afeta, me constrange e me comove de uma maneira sobrecomum e por isso não entendo como alguém pode ver o mundo e as pessoas como se fossem triviais e simples. Eu sigo tentando descobrir cada pessoa ao mesmo tempo em que sei desse mistério infinito que cada um carrega por dentro. E por tentar compreender eu simplifico, subestimo; pra em seguida ficar abismada novamente com o que cintila escondido em cada um e só vez em quando escapa.
Então não posso reduzir tudo ao que é previsível e ao que não é, sou mais que isso, sou tudo isso.
Texto escrito em setembro de 2009. Acho que não havia publicado, se já alguém me avise.
* verso de Insensível - Titãs

quinta-feira, 10 de junho de 2010

coisa alguma coisa

Minha alegria anda numas coisas sem nome, indefiníveis de tão abstratas. E ando junto com ela nesse estado entre dormindo e acordada, ouvindo tudo ao meu redor, mas percebendo muito pouco do que é real. Repito a indiferença e o individualismo que tanto aborreço e tenho medo do outro ser apenas um espelho meu como já li em algum lugar em outras palavras. É um absurdo preferir tudo que é diverso de mim e só consegui andar carregada da minha subjetividade impassível. Quero devaneios súbitos pra sair dessa sonolência trivial, pois a experiência é muito pouco pra julgar os sonhos. Preciso buscar sabedoria na poesia; desconfio que só a prosa não me baste.

sonolência

Penso que a indiferença seja algo muito triste, temo que a falta do que dizer, esse não sentir nada, relacionado ao passado e ao futuro, seja um indício, indolor e insensível disso que já não há nome porque se dissolveu como se nunca houvesse existido, uma tristeza inerente que não sentimos, conforme todo o resto.


pensei isso dia 25-05-10 e escrevi, hoje novamente isso me veio à mente, melhor publicar. Vai que é um pensamente insistente né?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.
Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.
Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

Cecília Meireles

nada como uma pitada de filosofia e psicanálise pra argumentar a favor do happy end

"Justamente, li nestes dias um livro que me tocou, "Éloge de l'Amour" (elogio do amor, Flammarion 2009, ainda não traduzido para o português), de Alain Badiou; é a transcrição de uma breve entrevista do filósofo francês.
Nela, inevitavelmente, Badiou constata que, em nossa cultura, a visão dominante do amor é a de uma espécie de "heroísmo da fusão" dos amantes, que, uma vez consumidos por sua paixão, podem sair de cena (para não se tornar ridículos) ou sair do mundo e morrer (para se tornar sublimes).
Contra essa visão, Badiou define o amor mais como um percurso do que como um acontecimento: segundo ele, o amor precisa durar um tempo porque é "uma construção".
Confesso que fiquei com medo de que o filósofo nos propusesse amores tagarelas, em que os amantes não parariam de discutir a relação (claro, para construí-la). Por sorte, não se trata disso. Então, o que constroem os amantes?
Geralmente, explica Badiou, minha experiência do mundo é organizada por minha vontade de sobreviver e por meu interesse particular: vejo o mundo só de minha janela.
Certo, ao redor de mim, há muitos outros de quem gosto e aos quais reconheço o direito de também sobreviver e promover seus interesses.
Mas o fato de eu respeitar esses meus semelhantes não muda em nada meu ângulo de visão. É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela.
Entende-se que o amor assim definido exija tempo. Quanto tempo? Um mês, um ano, uma vida, tanto faz. Consumir-se na paixão pode ser rápido, mas reinventar o mundo a dois é uma tarefa de fôlego.
O amor segundo Badiou, em suma, é uma aventura, mas que precisa ser obstinada: "Abandonar a empreitada ao primeiro obstáculo, à primeira divergência séria ou aos primeiros problemas é uma desfiguração do amor. Um amor verdadeiro é o que triunfa duravelmente, às vezes duramente, dos obstáculos que o espaço, o mundo e o tempo lhe propõem".
Contardo Calligaris - Leia o texto na íntegra aqui

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eu mesma não gosto de vir aqui e olhar o post de vários dias, mesmo que eu não tenha nada novo a dizer, deixo aqui um poema, umas palavras que não são minhas; e que contém a novidade do belo, porque o que nos comove, o que nos abisma, sempre traz a cintilância do primeiro olhar, sempre encanta...
Vá saber

não sei se faço bem
nada do que faço bem,
se bem me faz
o que por bem conheço,
ou se mereço o nome que me fiz,
de quem no espelho busca o avesso,
de si mesmo
o vértice oposto.

posto que todo ser me contamina,
e cada nota
recompõe a pauta,
o que mais me ensina
é o que desconserta,
e o que me completa
sempre mais me falta.

João Angelo Salvadori

quarta-feira, 26 de maio de 2010

previsão

Ontem no finzinho do dia, o céu se encheu de nuvens escuras, o vento anunciava e ao longe dava pra ver que já caía água, era questão de minutos e iria chover. Fique feliz, fiquei ansiosa, queria chuva. Cheguei a casa e olhava pela janela de vez em quando, esperando; mas ai o céu foi “limpando” e a noite desceu estrelada sem nenhuma gota cair. Desesperancei. E hoje quase no mesmo horário, sem nenhum aviso, sem nenhum preparo, sem minha espera, sem eu lembrar a minha vontade, choveu. Caiu um toró. Fiquei muito feliz. É por essas e outras que eu não deixo de acreditar no improvável, no inesperado. Fico agradecida quando Deus nos ensina que ainda existe um tempo que não controlamos, ainda existe esperança, mesmo quando a gente já não mais espere.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Motivos

Acho que não estou tão ruim assim, depois de mais uma rotina árdua de trabalho, um trânsito intenso pra chegar a casa e ainda consigo ver emoldurado um céu parecendo àqueles céus após chover, como se o dia tivesse tomado banho. Uma luz avermelhada do pôr do sol, muito limpa e um pouco nostálgica, trazia uma saudade daquelas que não lembramos bem de quê, mesmo assim bonito demais. Senti-me Cecília Meireles olhando da sua janela. Será que todos estavam admirados desse jeito? Ando bastante impressionável pelas coisas desimportantes para muitos, ando bastante desligada daquilo que se espera de pessoas como eu. Hoje, novamente estou a favor da falta de pressa, estou a favor da câmera lenta para cada ato da cena, para cada ação. Ah se a gente parasse pra prestar atenção no que vemos todos os dias, aposto mesmo, como a poetiza, a gente se surpreenderia ao ver...

escrito em 20-05 mas postado hoje, segundo a norma do escreve se publica, desse blog, e só por ela .

segunda-feira, 17 de maio de 2010

abaixo a ditadura do relógio!

O dia não cabe as nossas tarefas, trazemos na bolsa textos pra ler, anotações a cumprir, preocupações cotidianas, datas e prazos pra entrega dos trabalhos do curso, as contas não ficam de fora, os afazeres domésticos; e o tempo escorre no nosso cansaço, nos cochilos em que estamos ausentes ocupados com nossos hábitos indispensáveis. Loucura se parássemos, sentássemos numa praça qualquer a olhar o corre-corre das pessoas, inconcebível esquecermos nossos compromissos e responsabilidades para vagarmos por aí, divagando e olhando um passarinho solitário que voa atordoado longe de sua árvore.
Não cabe a poesia nas nossas horas, não cabe um pouco de ócio, não cabe abandonarmos as normas, o roteiro. E tem horas que a gente pensa que é apenas personagem autômato de um game eletrônico, programado para dar as mesmas respostas limitadas, os mesmos saltos, os mesmos gestos e as coisas se repetem indefinidamente, entre um intervalo e outro enquanto o programa esteve desligado. Quando é que vai sobrar um pouco de liberdade para o não compromisso, para lagartear, para viver lentamente e sem ansiedade esse curto espaço de tempo em que estamos nos transformando em outro ser e sem precisarmos ter consciência desse milagre? Quando poderemos viver o tempo que não está no relógio, dividido, medido, programado?
Não fosse a minha hora de ir dormir eu ainda faria mil reivindicações contra essa vida regrada, mas amanhã acordo cedo, tenho que estar no trabalho antes das oito. Isso é o que eu chamo de tragicômico? Ou está mais pra TPM*?
*Tempo Pós - Moderno

quinta-feira, 13 de maio de 2010

evidente
No dicionário, procurando a palavra que daria nome ao post, intuição. "Ato de perceber, pressentimento. Primeiro lance dos olhos". Sim, foi um primeiro lance dos olhos, foi aquele ato falho sutil, foi aquele olhar diferente e já era. Nada pode ser mais como antes. Uma mulher não pode fugir a essas magias peculiares. Basta o nosso olho num relance perceber aquele movimento imperceptível a todos os demais e quebra-se o encanto que nós mesmas havíamos nos lançado. Pluft! Finito. Ainda não é possível ignorar esses sinais dos sentidos; aflorados, alarmados como que dizem: Pare! Não continue!
E eu só queria seguir nesse estado de encantamento, mas houve o primeiro lance dos olhos...
(texto urgente, sem rascunhos)

sábado, 8 de maio de 2010

dia-rio

Levei a tarde para dormir, com a desculpa de um cochilo após o almoço e quatro horas depois volto a prestar contas ao dia; que cansou de me esperar e já deixou o comecinho de noite das seis horas pra uma conversa. Ouço o tempo dizer o mesmo de muitos adultos na minha infância: “Quem muito dorme, pouco vive.” Finjo que não escuto, pela velha superstição de que as palavras ganham força, quando bem assimiladas, escutadas e quando repetidas com estes intuítos. E saio a fazer as pequenas tarefas que preenchem o espaço entre o despertar e o deitar, tudo muito mecanicamente, sonolenta. Faço um café, ligo o pc, faço um pouco do trabalho que trouxe pra casa, envio emails. Desisto de olhar se as novas disciplinas do curso já iniciaram. Leio um desses blogs lindos que deixam a gente num estado de encantamento agudo.
O sono da sesta deve ter sido mesmo exagero, pois sinto a vida ainda devagar como no poema de Drummond. Os sentidos não captam toda a velocidade do mundo fora das paredes. Toda preocupação e caos do cotidiano, momentaneamente se desbotam e penso em tudo e em todos com delicada sensação de sonho, como se tudo não passasse de uma história de ouvir e não do real (penso que tem um pouco de felicidade não razoável em mim nesse momento).
Fecho os olhos um pouco pra despertar devagar pro habitual. E aos poucos lembro da repetição que me espera amanhã, e também do inesperado, graças a Deus; embora a blusa colorida de três babados, pendurada no pegador da porta do guarda- roupa me lembre também do quanto as horas passam uniformes e semi prontas. E espero o sono do restinho de hoje.

terça-feira, 4 de maio de 2010

impressões

Não sei direito o que se passou, e por não saber, também nem sentir ao certo, se alegria ou não. A incerteza e o engano foram maiores que dois, mesmo que até aqui estivessem em letras maiúsculas, sob muita ênfase. Agora apenas borrões, e a tinta escorrendo salgada de um lado do rosto. Fica ainda mais difícil entender o que está escrito se os olhos embaçam, embora tenha sido dito literalmente em alto e bom som, mas não foi de bom tom. E por falar em cores, o colorido seguiu a ordem alfabética da vida e agora está dolorido, nem dá pra tocar senão quebra; se desmancha como um sonho, não um doce. Foi o bastante pra acordar, bastou perceber que eu também já estive naquele papel. Mas esperava que ao contrário de mim, você errasse o texto, os gestos e surpreendesse inclusive eu.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

encantamento

no silêncio da tarde
meu corpo se encheu de
espantos

e beleza nenhuma havia
senão sob o prisma desse
medo

Mariana Botelho

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura

Paulo Leminski

segunda-feira, 26 de abril de 2010

(Tudo me parece um sonho. Mas não é, disse ele, a realidade é que é inacreditável.) Clarice Lispector
sabe quando a gente ouve uma música e viaja? Foi assim que aconteceu comigo, depois de uma melodia dessas de voar. Por um momento eu não me contive, e parecia que o mundo inteiro era eu, desde o céu meio avermelhado com nuvens escuras no fizinho de tarde quando eu olhei pela janela e tudo parecia mais lento, tão parado quanto aquelas nuvens que se moviam imperceptivelmente; será que eu experimentei o sentimento do mundo? Eu era todos e tudo. Eu era cada pessoa triste e alegre, que ria ou chorava ou pensava e não sabia então, o que era isso de todos os sentimentos possíveis juntos. E pareceu que foi um daqueles momentos em que os olhos se abrem momentaneamente para o fato da existência, e a consciência de ser e estar aqui é maior e melhor que qualquer outra sensação, é sublime apenas ser eu, ver, ouvir, tocar, cheirar, sentir, amar e ter fé, por um milésimo de segundo na humanidade inteira. É passageiro, mas comovente, tanto que o corpo não aguenta essa verdade, esse mistério e os olhos choram, sem saber nem porquê. Acho que por isso é instantãneo e raro, talvez...

sábado, 24 de abril de 2010

vagalumes

http://www.youtube.com/watch?v=psuRGfAaju4


pra ver e ouvir e ouvir...

sobre uma certeza nunca esperada

Uma pessoa querida se vai, uma saudade imensa fica; uma certeza de que a vida é breve, tênue e que ontem mesmo a gente era criança e se admirava dos mistérios do mundo. E ainda agora vemos que as coisas não mudaram tanto assim. Apenas crescemos, mas ainda nos abisma a mesma vida, o mesmo mundo incompreensível.


em 18-04-10

terça-feira, 13 de abril de 2010

amo isso*

"Um passarinho pediu ao meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu pra santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor
o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as
árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se
transformara, envaidecia-se quando era nomeada para
entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos
brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela
permanência em árvore porque fez amizade com muitas
borboletas.”

Manoel de Barros no livro Ensaios fotográficos.

vi no blog que só tem coisa bonita

*by Thiago

terça-feira, 6 de abril de 2010

melodrama

na verdade se isto não é uma mistura de sentimentos que não se definem, deveria eu criar um termo entre enternecimento e desapontamento (pra não usar outra palavrinha da qual não me agrado). Aqui dentro as coisas se confundem e quando o que eu já esperava acontecer acontece, supreende-me. Contraditório não, maluquice mesmo. Ainda bem que o remédio trago comigo, o humor, o bom humor. Além do mais a vida muitas vezes é apenas arte, e depende apenas do ponto de vista como já disse Chaplin, para ser vista como drama ou comédia. Eu to aprendendo a me distanciar, a mudar de lado, a olhar de outra ponta pra mesma cena. E por enquanto, mesmo sem entender direito, eu esboço um leve sorriso.*
*texto não revisado/ escrito direto no blog

segunda-feira, 29 de março de 2010

Agora que a verdade vem

Chega a doer
este poema no corpo.
Um soco
que desnorteia
e me põe sentado
à beira da cama.
Encontrar meu rosto
no espelho dos teus versos
tira meu ar,
arranca meu chão.
O clarão da luz tão forte
por um instante cega.
Mas tudo bem.
Agora que a verdade vem
eu sei para onde eu vou.

Leandro Wirz

sexta-feira, 26 de março de 2010

a Luta

Se Deus segurasse toda a verdade oculta em sua mão direita e, na mão esquerda, a persistente luta pela verdade…e dissesse “Escolha!”, eu humildemente me curvaria diante de sua mão esquerda e diria: “Pai, dá-me a luta. Porque a verdade pura é para Ti somente”.

Gotthold Lessing
Epígrafe do livro Verdade, uma história, de Felipe Fernández-Armesto (Record)

via Palavra Aguda , idem

quarta-feira, 24 de março de 2010

respirar livremente

não gosto de escrever nada nesse estado, meio "engasgada" em que costumo ficar, mas como sempre tomando como desculpa ser esse o espaço "meu" para todas as formas de expressão, inclusive essa, aqui estou como todas as outras vezes; para não dizer nada como todas as outras vezes e expandir-me (palavrinha que assim como o título eu encontrei para substituir essa que não gosto de pronunciar, nem escrever) em outras palavras, ditos não ditos, subentendidos, implicítos e afins e como todas as outras vezes, ou a maioria, em que me encontro nesse estado urgente de por pra fora o que não quer descer sentimento a baixo; sem rascunho.
por isso começo como se já estivesse no meio do assunto que não será contado, mas inflama, incomoda como uma espinha de peixe que nem vai nem volta. E ainda não é só isso, mesmo considerando que já disse tudo que queria dizer e mesmo assim não passa essa impressão de que nada foi dito, porque nada do que foi teve o efeito esperado, e nunca tem. Esse é o problema, dizer não basta, agir não satisfaz, mas esse incômodo das coisas que não tem solução, dessas humanidades como decepcionar-se, entristecer-se, não poder ser feliz com as coisas como são e como aconteceram; nos fazem escrever textos como esses. Desconexos, porque não é algo que se transcreva, que se represente fielmente, é algo de sentir como todas do gênero e portanto inexplicáveis; mas eu já disse que a intenção aqui não é explicar. Fui um pouco coerente agora.
Quem sabe eu só precise lavar os olhos e ganhar aquele banho na alma que vem de brinde, quem sabe como não ficar desse jeito me conte. Ou melhor, não me conte, porque no fundo no fundo eu sei que isso tudo é um dom, o de poder viver e ter consciência (em parte) desse extraordinário presente e que só percebo como uma chateação porque estou num outro ponto de vista, mas se eu me colocar a perceber sob outros olhares este momento, vou me sentir feliz, mas feliz do que os momentos em que realmente penso ser.
PS: funcionou, estou me sentindo ótima agora
PS2: ainda melhor depois de reler os comentários lindos do post em link -lavar os olhos.( Gracias de novo a vocês)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fartura

Digo mesmo a partir do meu próprio exemplo contrário, não devemos economizar certos sentimentos. Limitar tempo em questão de contato, impor limites em questão de interesse, de afeto. Condicionar atenção e cuidado. Priorizar assuntos. Reduzir demonstrações. Não devemos. Em matéria de ser e sentir é preferível que abunde, que transborde, que sobre; assim não vai faltar e ainda dá pra dividir com mais alguém.
Acho que sempre tive pouca fé nas pessoas, ainda falta perder muito dessa desconfiança, ainda falta retribuir antes mesmo de receber. Mas ultimamente o pouco, o mínimo não tem me convencido; é possível sempre melhor. Antes eu nunca pensaria assim, mas hoje acho que algumas coisas boas não tem que acontecer só em novela, e filmes com happy end. A realidade tem que ser boa o bastante pra inspirar as histórias, tem que ser muito mais, porque é real, embora os sonhos sejam imprescindíveis. E é de onde vem esse desejo, é do ato de sonhar alto, sonhar o infinito e o impossível que as coisas podem acontecer como esperamos, e se não, a semente tem que estar guardada pra quando for favorável, pra quando chegar a hora do que a gente sempre quis perfeito, sempre quis eterno e vai ser.

quarta-feira, 17 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

as pessoas já andam comentando




O cupido me acertou.
Chegou...
Aquele amor
que deve ser
o primeiro,
o último,
e pra sempre.

Amor próprio.

imagem: fragmentos

quarta-feira, 10 de março de 2010

a parte mais elevada

para a minha alma eu quero os montes mais altos,
para que eu possa unir, numa só existência,
os dois lados da vida

topo tão longe, e eu, junto de tantas pessoas,
passo ínfima em sua base infinitamente
extensa
infinitamente cheia de um mundo mudo
e sobre as almas também mudas, um feixe de luz

mas todas elas transitam maquinalmente
na base que se perde da vista.
parada, olho para elas e para o cimo dentro de mim.
se elas soubessem...

terça-feira, 9 de março de 2010

um dia?

sendo hoje um dia especial para nós, eu repito o que disse uma mulher inspiradora ou inspirada:


"eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher."

- Simone de Beauvoir

segunda-feira, 8 de março de 2010

aromas

Um conto ou não sei o quê, escrito há um ou dois anos atrás, lembrei dele hoje porque recebi uma rosa também . Nem lembro se já publiquei aqui, lembro que num outro site sim, chamava gaveta do autor. Sem revisão, considerem isso... rs
A ROSA
Seria um dia qualquer para ela, não fosse o que aconteceu àquela hora de sempre do almoço. Bem como todos os outros dias da semana, se arrumava cedo e corria até a parada de ônibus, conseguia pegar no horário em cima da hora de sempre, e alguns minutos de pensamentos matinais depois, estava no trabalho. Não considerava um trabalho excelente, porém havia muitas pessoas sem nenhum, e que dariam um braço ou talvez os dois para ter igual, agradecia a Deus pela oportunidade sempre que lembrava disso.
Tudo parecia ser de mais um dia comum, até que voltando do restaurante próximo onde almoçava todos os dias, foi surpreendida por um rapazola que lhe surgiu do nada com uma rosa em riste e lhe ofereceu. Que susto, teria sido maior surpresa se não tivesse dito ao entregar “Feliz dia da Mulher cortesia Magazine Laura”. Teve um momento de leseira e não lhe ocorreu na hora um jeito de agradecer o gesto, por fim sorriu, disse “obrigada” e saiu com a rosa na mão. Foi quando de repente lembrou que era a primeira rosa que ganhava na vida. E sentiu uma mistura de sentimentos que se alternaram durante todo o dia: alegria, tristeza, melancolia ...nem sabia direito o que era.
Depois de providenciar um copo com água para a flor que já demonstrava está perdendo o viço, olhou aquele vasinho improvisado sobre a mesa e pensou no que podiam imaginar as pessoas ao verem que tinha uma rosa sobre a mesa. E também as pessoas que a viram no caminho de volta pra casa no fim do dia :“ Deve gostar mesmo do cara, não joga a rosa murcha fora, que boba” ou “Hum a moça está toda feliz com o presente do namorado” decerto julgavam; logo depois pensava que sabiam a verdade e sentia-se constrangida.
A água não reverteu o estado da flor que já estava ainda mais murcha nesse momento e não conseguiu jogar no lixo, pois sentia que seria não valorizar até o fim aquele gesto, que para si tinha agora grande importância, levaria até em casa, mesmo que lá, se desfizesse dela. E enquanto o ônibus seguia se perguntava por que ficou tão sensibilizada com o acontecimento, nunca se importou com essas coisas que a maioria das mulheres sonha, mas de repente aquele fato a fez sentir que faltou algo; que não ter recebido rosas antes, era um absurdo, gostava agora de acreditar que imaginavam que sim, que era uma prenda de amor, e não se importou de ter furado seu dedo num espinho.
o pensamento é triste; o amor,

insuficiente; e eu quero sempre

mais do que vem nos milagres.


Cecília Meireles aqui

sábado, 6 de março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:

agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.

você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:

só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:

não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento

Torquato Neto -daqui

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

sobre o que nos sacia

Meu amor se alimenta

Meu amor se alimenta de esperas,
esta noite ela vem ou não?
O futuro não existe
e torna tudo possível.
Teus lábios na minha orelha
sussurram a página zero
de um livro a ser escrito.
Um livro de areia
à espera de uma onda
de um vendaval,
de um final.
Certamente imprevisível
no oráculo ilógico do acaso.
Mas o meu amor permanece
impassível, inventando passatempos
esperando latente
espumante alvorecer.

Leandro Wirz nos alimentando com a sua poesia...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

dialeto

Ando sem inspiração, não consigo escrever um A, se bem que meus rabiscos tem muito mais a ver com ais, mesmo assim. Não sei se algumas esperanças quebradas em pedaços que não se colam; não sei se algumas lágrimas viraram cristais e não escorrem mais dos olhos, só sei que não me traduzo esses dias. Nada me transborda, tudo falta, as palavras não sobram. Então isso aqui é uma tentativa de encontrar a coragem de continuar me lendo, me compreendendo nem que seja na linguagem dos sinais. Nesse instante estou com o indicador sobre os lábios. Silêncio.

há uns dias atrás, foi escrito


De novo eu me enganei, quando eu penso que não me surpreendo mais com a capacidade humana de decepcionar, eu novamente sou surpreendida como jamais imaginei. O lado bom nisso é que eu sei que a minha capacidade de me surpreender não tem limites, por outro lado a de me decepcionarem também não. Espero que minha compaixão e compreensão também sejam infinitas.
à propósito:
Um pouco de dislexia
.
Desculpe.
Eu não entendo,
eu sinto.
Muito.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.
Martha Medeiros aqui

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

carnaval

Ia dizer apenas, hora de guardar as fantasias; mas prossigo. E a gente consegue? Não fantasiar, não imaginar? Talvez nem tenha graça. Descobri que ainda não sei quando me dizem a verdade, e tantos anos pensando que estava aprendendo. A dúvida é se realmente a verdade é absoluta, ou se tem mais a ver com o que já esperamos. Pelo jeito o carnaval passou e a confusão continua. E vou me divertindo no Bloco do Eu sozinho, assim mesmo, com trocadilho.


trilha : todo carnaval tem seu fim-Los Hermanos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Orgulho

Não olho, não olha
não diz, não digo
não se importa
não imploro

Insensível eu
impassível tu
E a poesia
que poderia
não ter fim
acaba
in-
diferente

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

(f)calar
as pessoas parecem não saber certas vezes que aquilo que se diz, nunca volta ao minuto anterior ao não dito, é pra sempre. e se as palavras são daquelas que magoam, é inevitável. e se depois você voltar a si e ver que não era nada daquilo que queria dizer, já foi. que diante da cena de hoje, meu Deus, eu perceba antes de dizer algo com essas intenções que vale a pena lembrar que nós também não queremos ouvir tudo, e certas palavras também nos ferem. é melhor escolher o silêncio eu penso, vez em quando; porque a nossa raiva pode ser bem mais passageira do que a mágoa daqueles que amamos. e o nosso arrependimento pode não ter fim.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Olha o que eu trouxe da segunda visita A Casa de Rubens Alves :

"No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta."

Cecília Meireles

ainda encontrei isto noutro cantinho, vá e percorra todos os cantos desse lugar encantador!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espécie de d. quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dom de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa!
Florbela Espanca

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Colo

Distrito Federal. Taguatinga. Centro. Duas da tarde. Sol a pino e calor de rachar. A hora da fadiga. Faço parte do pequeno grupo que espera o sinal fechar, para poder atravessar a rua com segurança. Atrás de mim uma jovem mãe segura o braço de um garotinho junto com outra senhora. Imagino que aquela era a vontade de todos nós ali, mas ouço apenas o garotinho, do alto de seu desejo e inocência, pedir colo à mãe; ao que ela responde muito brava que caso ele insista lhe dará umas boas chineladas; a senhora que provavelmente era a avó, comovida com o pedido do menino, resolveu consolá-lo: “você é homem e homem anda, anda é com as próprias pernas” dizia com voz terna; mas também não o colocou nos braços. Eu olhei pra trás pra ver a cena, olhei o rosto do garotinho, uma carinha de cansaço e agora resignação. Me enchi de ternura. Pensei cá com meus botões: Que vida a nossa, aos três anos de idade já não nos é permitido esmorecer. O sinal abriu e todos nós continuamos a andar.

sábado, 30 de janeiro de 2010

poesia pro dia de hoje

OBJETO SUJEITO
você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado de dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra pasárgada
xanadu ou shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olha lá


Paulo Leminski

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Se eu pudesse voltar atrás eu não teria dito nada, eu preferia guardar mais essa decepção, porque eu aguento, eu suportaria bem. Mas já vi que não suporto saber e sentir que magoei quem mais amo. Sim, pra mim é mais fácil emudecer e guardar e mais tarde pensar no que poderia ter dito e se revoltar por não ter feito. Cada um é cada um, e essa primeira vez que eu disse o que queria ter dito, eu fiz o que não queria ter feito; fazer sofrer quem não merece, quem eu não queria ver mal jamais. Agora mais que nunca eu vou lembrar que as horas não voltam e o nossos atos não se desfazem, não retornam, não desmancham, eles mudam, e marcam a vida pra sempre, a nossa e a de quem tocamos, seja com um gesto, seja com uma palavra. Podemos escolher a intensidade, mas não a neutralidade. Não é fácil aprender a viver e a moldar nosso cárater, nosso modo de ser; vejam eu nessa idade, sentindo na pele que lavar a própria alma não é tão bom quanto imaginamos que seria, quando ao invés da compreensão, da compaixão, do amor a gente usa aquilo que chamamos de razão, e nem é.
remorso
s. m.
Manifestação pungente da afectividade!afetividade humana que nos censura um acto!ato que não devíamos praticar
. priberam

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

penso e passo

Quando penso
que uma palavra
pode mudar tudo
não fico mudo
MUDO

Quando penso
que um passo
descobre um mundo
não paro o passo
PASSO

e assim que
passo e mudo
um novo mundo nasce
na palavra que penso

conto final


Eu tenho comigo esse sonho e pensava que você também entendia, mas quando vi que era algo só meu e você era muito real e não via nada além das suas vontades, logo percebi que não poderíamos nunca ser personagens do mesmo sonho ou fazer parte de uma mesma história. Fim.

sábado, 23 de janeiro de 2010

o nome do mistério

eu poderia dizer
que agora é tarde e o nosso amor é outro
que o nosso tempo agora
é o fim de tudo
e só no resta alguns papéis
pra rasgar
eu poderia dizer
que agora é tarde e o nosso amor é morto
que o nosso amor agora
é o fim do mundo
e não sobra nada mais
pra esperar

eu poderia dizer mas eu não digo
sobre o mistério atrás de tudo isso
sobre o segredo, meu amor, que eu guardo
e que você vai ter que descobrir;
eu poderia dizer mas eu não digo
o nome do mistério, o nome disso
e vou por mim aqui silencifrado
de volta ao lar, meu bem, querendo ir


Torquato Neto via pafurada

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

agora

"Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos." Clarice Lispector
Embora não queira admitir, as palavras me vem* com mais fluência nos momentos pessoalmente mais melancólicos, agora que estou assim mais pra feliz, tudo certo, tudo zen, tudo light; nada me vem à mente. É claro que as últimas catástrofes aqui e mundo afora, me sensibilizam como a todos e tiram sim qualquer alegria, me deixam ainda mais sem voz, sem saber o que pensar e o que esperar da vida, que se mostra cada vez mais frágil e nos faz questionar sobre o que é importante agora e depois, nos cobra uma postura sensata diante do desequíbrio e das incertezas. Talvez por isso eu meça minha tranquilidade e satisfação apenas pelo meu microcosmo, porque não suportamos a grandeza do mundo diante da nossa pequenez, não suportamos nossa fraqueza diante do que não controlamos, do que não entendemos. Desculpem a incoerência...desculpem a teimosia de falar sem saber o quê.

*(do verbo ir, Dios mio com ou sem acento?)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

por enquanto

sentir primeiro, pensar depois
perdoar primeiro, julgar depois
amar primeiro, educar depois
esquecer primeiro, aprender depois

libertar primeiro, ensinar depois
alimentar primeiro, cantar depois

possuir primeiro, contemplar depois
agir primeiro, julgar depois

navegar primeiro, aportar depois
viver primeiro, morrer depois

Mário Quintana

sábado, 16 de janeiro de 2010

timidez

basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…
- mas só esse eu não farei.

uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
- palavra que não direi.

para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.

e, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.

Cecília Meireles
vi aqui ó, assim como um tantão de coisas tão lindas quanto

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Feliz ano novo

O ano começou com tudo tão perto de mim, as pessoas mais queridas, as férias mais esperadas, as esperanças mais guardadas e ainda não sei o que pensar do novo ano, acho que vou aproveitar o dia, vou aproveitar os dias, e isso não é o que melhor podemos fazer?
To tentando estar presente em cada momento, porque as vezes estamos com a cabeça no futuro ou no passado e nem percebemos o que ocorre a nossa volta, falta consciência de viver agora, hoje, já. Sem pressa. Estou aérea ainda, viajando muito nas palavras alheias e sem nada pra contar aqui, porque antes disso tem que acontecer aqui dentro, na cabeça ou no coração e fazer diferença, mudar algo, mover algo, nem que seja uma idéia. E tudo ainda está em processo de conhecimento, ou reflexão, que seja. O velho hábito que ficou de pensar mais que o necessário e fazer menos que poderia. E quem consegue sempre melhorar que nos conte o segredo. Porque por aqui é a labuta diária do ser quem sou ou quem poderia ser. É a dúvida em busca da resposta adequada as perguntas absurdas desse mundo. E no meio de tudo a pequena ilha onde nos sentimos seguros dos outros e sozinhos com nós mesmos, sem a medida certa pra dosar as quantidades de cada coisa. Mas deixando de lado as elucubrações (by Deusdemilson :P) não pode faltar os pedidos de paz e amor e a fé em tudo que começa e cá estou eu, do fundo do coração e de verdade: Peace and love for all! Feliz ano novo pra nós!

sábado, 2 de janeiro de 2010

eu posso com isso?

isso de mim que anseia despedida
(para perpetuar o que está sendo)
não tem nome de amor. nem é celeste
ou terreno. isso de mim é marulhoso
e tenro. dançarino também. isso de mim
é novo: como quem come o que nada contém.
a impossível oquidão de um ovo.
como se um tigre
reversivo,
veemente de seu avesso
cantasse mansamente.

não tem nome de amor. nem se parece a mim.
como pode ser isso? ser tenro, marulhoso
dançarino e novo, ter nome de ninguém
e preferir ausência e desconforto
pra guardar no eterno o coração do outro.

Hilda Hilst viaqui