sábado, 30 de janeiro de 2010

poesia pro dia de hoje

OBJETO SUJEITO
você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado de dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra pasárgada
xanadu ou shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olha lá


Paulo Leminski

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Se eu pudesse voltar atrás eu não teria dito nada, eu preferia guardar mais essa decepção, porque eu aguento, eu suportaria bem. Mas já vi que não suporto saber e sentir que magoei quem mais amo. Sim, pra mim é mais fácil emudecer e guardar e mais tarde pensar no que poderia ter dito e se revoltar por não ter feito. Cada um é cada um, e essa primeira vez que eu disse o que queria ter dito, eu fiz o que não queria ter feito; fazer sofrer quem não merece, quem eu não queria ver mal jamais. Agora mais que nunca eu vou lembrar que as horas não voltam e o nossos atos não se desfazem, não retornam, não desmancham, eles mudam, e marcam a vida pra sempre, a nossa e a de quem tocamos, seja com um gesto, seja com uma palavra. Podemos escolher a intensidade, mas não a neutralidade. Não é fácil aprender a viver e a moldar nosso cárater, nosso modo de ser; vejam eu nessa idade, sentindo na pele que lavar a própria alma não é tão bom quanto imaginamos que seria, quando ao invés da compreensão, da compaixão, do amor a gente usa aquilo que chamamos de razão, e nem é.
remorso
s. m.
Manifestação pungente da afectividade!afetividade humana que nos censura um acto!ato que não devíamos praticar
. priberam

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

penso e passo

Quando penso
que uma palavra
pode mudar tudo
não fico mudo
MUDO

Quando penso
que um passo
descobre um mundo
não paro o passo
PASSO

e assim que
passo e mudo
um novo mundo nasce
na palavra que penso

conto final


Eu tenho comigo esse sonho e pensava que você também entendia, mas quando vi que era algo só meu e você era muito real e não via nada além das suas vontades, logo percebi que não poderíamos nunca ser personagens do mesmo sonho ou fazer parte de uma mesma história. Fim.

sábado, 23 de janeiro de 2010

o nome do mistério

eu poderia dizer
que agora é tarde e o nosso amor é outro
que o nosso tempo agora
é o fim de tudo
e só no resta alguns papéis
pra rasgar
eu poderia dizer
que agora é tarde e o nosso amor é morto
que o nosso amor agora
é o fim do mundo
e não sobra nada mais
pra esperar

eu poderia dizer mas eu não digo
sobre o mistério atrás de tudo isso
sobre o segredo, meu amor, que eu guardo
e que você vai ter que descobrir;
eu poderia dizer mas eu não digo
o nome do mistério, o nome disso
e vou por mim aqui silencifrado
de volta ao lar, meu bem, querendo ir


Torquato Neto via pafurada

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

agora

"Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos." Clarice Lispector
Embora não queira admitir, as palavras me vem* com mais fluência nos momentos pessoalmente mais melancólicos, agora que estou assim mais pra feliz, tudo certo, tudo zen, tudo light; nada me vem à mente. É claro que as últimas catástrofes aqui e mundo afora, me sensibilizam como a todos e tiram sim qualquer alegria, me deixam ainda mais sem voz, sem saber o que pensar e o que esperar da vida, que se mostra cada vez mais frágil e nos faz questionar sobre o que é importante agora e depois, nos cobra uma postura sensata diante do desequíbrio e das incertezas. Talvez por isso eu meça minha tranquilidade e satisfação apenas pelo meu microcosmo, porque não suportamos a grandeza do mundo diante da nossa pequenez, não suportamos nossa fraqueza diante do que não controlamos, do que não entendemos. Desculpem a incoerência...desculpem a teimosia de falar sem saber o quê.

*(do verbo ir, Dios mio com ou sem acento?)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

por enquanto

sentir primeiro, pensar depois
perdoar primeiro, julgar depois
amar primeiro, educar depois
esquecer primeiro, aprender depois

libertar primeiro, ensinar depois
alimentar primeiro, cantar depois

possuir primeiro, contemplar depois
agir primeiro, julgar depois

navegar primeiro, aportar depois
viver primeiro, morrer depois

Mário Quintana

sábado, 16 de janeiro de 2010

timidez

basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…
- mas só esse eu não farei.

uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
- palavra que não direi.

para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.

e, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.

Cecília Meireles
vi aqui ó, assim como um tantão de coisas tão lindas quanto

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Feliz ano novo

O ano começou com tudo tão perto de mim, as pessoas mais queridas, as férias mais esperadas, as esperanças mais guardadas e ainda não sei o que pensar do novo ano, acho que vou aproveitar o dia, vou aproveitar os dias, e isso não é o que melhor podemos fazer?
To tentando estar presente em cada momento, porque as vezes estamos com a cabeça no futuro ou no passado e nem percebemos o que ocorre a nossa volta, falta consciência de viver agora, hoje, já. Sem pressa. Estou aérea ainda, viajando muito nas palavras alheias e sem nada pra contar aqui, porque antes disso tem que acontecer aqui dentro, na cabeça ou no coração e fazer diferença, mudar algo, mover algo, nem que seja uma idéia. E tudo ainda está em processo de conhecimento, ou reflexão, que seja. O velho hábito que ficou de pensar mais que o necessário e fazer menos que poderia. E quem consegue sempre melhorar que nos conte o segredo. Porque por aqui é a labuta diária do ser quem sou ou quem poderia ser. É a dúvida em busca da resposta adequada as perguntas absurdas desse mundo. E no meio de tudo a pequena ilha onde nos sentimos seguros dos outros e sozinhos com nós mesmos, sem a medida certa pra dosar as quantidades de cada coisa. Mas deixando de lado as elucubrações (by Deusdemilson :P) não pode faltar os pedidos de paz e amor e a fé em tudo que começa e cá estou eu, do fundo do coração e de verdade: Peace and love for all! Feliz ano novo pra nós!

sábado, 2 de janeiro de 2010

eu posso com isso?

isso de mim que anseia despedida
(para perpetuar o que está sendo)
não tem nome de amor. nem é celeste
ou terreno. isso de mim é marulhoso
e tenro. dançarino também. isso de mim
é novo: como quem come o que nada contém.
a impossível oquidão de um ovo.
como se um tigre
reversivo,
veemente de seu avesso
cantasse mansamente.

não tem nome de amor. nem se parece a mim.
como pode ser isso? ser tenro, marulhoso
dançarino e novo, ter nome de ninguém
e preferir ausência e desconforto
pra guardar no eterno o coração do outro.

Hilda Hilst viaqui