quarta-feira, 31 de agosto de 2011

identidade

Razões irracionais

Escrevo poesia, simplesmente, porque não caibo em mim. Porque, embora saiba ser o ser humano inatingível em sua essência, uma teimosia atípica não me permite desistir de esticar os braços e rogar às pontas dos dedos que roçem essa essência. Escrevo porque sinto o universo em carne viva. Nuances cambiantes invadem-me por todos os poros d’alma. Múltiplas sensações quadruplicadas de prazer e dor arrebatam-me. Minha sensibilidade ultrapassa os limites do tolerável. E sonho. Degraçadamente sonho.
Escrevo porque sou insaciável. Completamente insaciável. A profusão de possibilidades latentes que pulsam frenéticas em volta me fazem assim. Almejo a perfeição descaradamente, enquanto quase todos a espreitam invejosos e resignam-se previamente pela certeza da impotência. Escrevo porque calo. E assim processo as impressões do exterior sob os afagos da solidão enclausurada. Escrevo porque sou só. Porque sou incompreensível e não compreendo. Como todos o são e o fazem. Escrevo porque amo. E meu amor é grande e maior. Sempre maior.

Escrevo. E isso não basta. Diz-me o que basta e serei paz.
Escrevo.
Porque sou pequena. E não caibo em mim.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

por email, não fim

Do desejo

Primeiro o sentimento, depois o significado.
O desejo diz além do sentido, ou melhor,
não diz, porque trata do que é intangível.
E não há tradução, nem nomes, é saber ou não saber.
Sentir ou não sentir. Tocar ou não tocar.
Sem retoques, sem receios, sem critérios.
Desejar traz no cerne a incerteza da
satisfação, mas não a certeza do improvável
e brinca com as possibilidades como se brinca
com as palavras:
significa
mente
significativamente
cativa
cativa mente
Assim.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pequeno tratado pessoal das coisas essenciais e outras prescindíveis

O melhor momento, agora. Faço esse registro, brado a descoberta. Festejo essa hora, a minha. Enxergo a verdade. Concordo com o clichê, a felicidade mora dentro da gente. Estive buscando ao lado, todos erramos. Me perdoo. Mas retorno sempre ao ponto de onde posso partir cheia de coragem. E corro, voo, caio, equilibro-me novamente buscando chegar mais próxima de ser. Conhecer os limites, as falhas desse lugar, esse abrigo.
Reparo quando possível. Desacredito quando dizem de planos que não são meus, mesmo que eu não tenha algum. Duvido dos adjetivos que não ressoam n’alma, que não inspiram afeto. Revelo, tímida, revelo o que sou, o que penso, o que sinto. Desagrado. Agrado-me desse atrevimento sutil de me orgulhar dos meus dons, a sensibilidade, a inteligência, a esperança, o sentimento da poesia, mesmo sem ser poeta. Dispenso quem não compartilha com ternura o meu jeito de viver, quem aponta cruel, quem desdenha das coisas que trago no coração. Porque sei quais tesouros não se desgastam. Distancio e aproximo conforme este tratado em construção, das coisas que acredito, por enquanto. Não é arrogância, é escolha. Procuro a leveza, a alegria. Essas coisas que significam, transformam; pacificam-me.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

sabedoria

"Dê-me, Senhor,
agudeza para entender,
capacidade para reter,
método e faculdade para aprender,
sutileza para interpretar,
graça e abundância para falar.
Dê-me, Senhor,
acerto ao começar,
direção ao progredir e
perfeição ao concluir."

São Tomás de Aquino

segunda-feira, 1 de agosto de 2011