segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

todas somos um pouco Tati

Desde que descobrir os textos dela, em um dos blogs que leio e cheguei ao site pensava em postar um deles, ai esta um dos onze escolhidos; adoro esse jeito de escrever com a alma, com o coração, com toda dor e emoção que não cabe dentro dela, esse jeito de falar de tudo, de ter coragem de se expor e que é tão parecido com as coisas que sentimos que quando lemos parece que ela escreveu tudo que a gente sente e não sabe como dizer em palavras, essas coisas de mulher...

O não texto

Você não está lendo um texto. Você está dormindo numa rede, atravessando um farol, comprando um porta-clipes, fazendo arroz integral, prendendo os cabelos, assistindo doctor House, vendo sua cachorra espreguiçar. Sei lá, qualquer coisa. Mas você não está lendo esse texto.
Eu também não estou escrevendo pela trigésima vez sobre gostar de alguém. E tentando entender todos os 567 contras e 876 a favor. E tentando metaforizar um cheiro, um olhar, uma frase. E tentando descrever minha dor só para dar a ela algum patamar mais interessante do que a simplicidade de uma simples dor. E tentando supervalorizar minha alegria, só para dar a ela um gosto de vitória como se jamais fosse cotidiano ser feliz.
Eu não estou de frente para uma folha em branco. Tentando tornar meus personagens mais interessante e meus sentimentos mais nobres. Eu estou de frente para eles, vendo que meu personagem pode ser sem graça e meu sentimento pode estar morrendo.
Este é um não texto porque cansei da minha covardia em me contar um mundo que eu invento para viver melhor. Cansei de me contar um personagem só para que suspirar não seja um simples movimento involuntário. Cansei de me contar uma história linda, só para que os dias não corram sem magia e sem a certeza de um grande final de filme.
Imagina só que vida chata se eu, ao invés de escrever um texto de amor, cheio de esperança, profundidade, dor, maluquice, tesão, estivesse escrevendo um texto assim: e ninguém é interessante e eu, pra ser sincera, não gosto de ninguém.
Triste, muito triste. Chato. E pior do que tudo isso: anti-literário. Como é que um escritor vai se sustentar com um coração vazio?
Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele.
Recebo e-mails de muita gente que me fala “que coragem escrever assim sobre o amor”, “que coragem ir tão fundo na sua dor”, “que coragem sentir tantas coisas a flor da pele”. Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade.
Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal?
Este é um não texto. Pra falar de um não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia, invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas, frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser real.
A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou construção literária.

sábado, 27 de dezembro de 2008

praticando

Parafraseando Moacyr Scliar, se eu não aprender a escrever não quero que seja por falta de prática. Não posso mais esperar uma inspiração, um fato, um motivo. Acho que gosto mesmo de me escrever por aqui. Então já aviso de início pra quem não quer perder tempo, que estas linhas são para puro exercício de expressão, então perdoem-me; e lembrem-se a prática leva à perfeição. Então continuemos.

Estou num momento de revisão, estou revendo tudo desde os antigos recortes às novissímas idéias minhas. Nessas revisões decidi comprar uma agenda nova, nada mais adequado, ano novo agenda nova. Eu sempre ganhei agendas, nunca comprei. Minhas primas me levavam de presente de seus trabalhos, quando eu estudava e nunca usei-as adequadamente. Acho que você tem que anotar coisas na data certa e verificar anotações e compromissos agendados cada dia, e se desfazer dela ao fim do ano. Eu não, eu anoto de tudo desde receita de vitamina de frutas até as contas mensais. Frases lidas e gostadas. Livros lidos e a comprar (nunca compro e sempre interrompo as leituras). Uso minha agendas por no mínimo cinco anos, porque não posso me desfazer delas sem passar a limpo pra nova, muita coisa ali anotada, de telefones que não quero perder a nome de remédios, e o tempo vai passando.

Como já ando procurando espaço nessa agenda atual, acho que está na hora de alguém me presentear, digo, de eu comprar uma. Sempre bom fazer coisas novas (não esquecer). Além de tudo minha agenda é porta papéis (documentos, dinheiro, etc, contas, papeis importantes etc). Acho que vou patentear a invenção de uma agenda com porta trecos agregado. Ainda não existe né? Nunca vi. Deve ser porque nunca olhei agendas para comprar uma.

Tudo bem, tudo isso não tem importância, mas é que contei essa lenga lenga toda, pra dizer que minha agenda tem frases e citações diversas em cada página correspondente a cada dia do ano de 2003 (realmente acho que já posso trocar). E claro que não jogaria fora, sem guardar essas frases tão legais, pra poder ler quando eu quiser, e de quebra ainda mostrar pra alguém. Assim alguns dos próximos posts serão dedicados a esses provérbios, e alguns autores que foram capazes de eternizar em suas falas um momento de sabedoria ou vários.

Para a despedida e já deixar um gostinho do que vem, aí vão dois deles:

Aquilo que se começa está metade feito. (Horácio -poeta latino 65- 8 a.C.)

As palavras voam, os escritos permanecem (Provérbio latino)

PS: Assim como essas, as citações do post anterior fazem parte da mini coletânea da minha futura antiga-agenda. Reparem que esses aqui são bastante pertinentes ao texto de hoje.

regra e exceção (sobre ser humano)


O ser humano é o único que se recusa a ser o que é. (Albert Camus, escritor francês-1913-1960)

Nós sabemos o que somos, mas não o que podemos ser. (Shakespeare, dramaturgo e poeta inglês -1564-1616)

Sempre enfezei ser eu mesmo. Mau, mas eu. (Oswald de Andrade, escritor brasileiro 1890-1954)




Sem inspiração, e depois dessa, uma enorme vontade de ler Oswalde de Andrade, e de me enfezar.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Buon Natale

“Se pensarmos pequeno...
coisas pequenas teremos...
Mas se desejarmos fortemente o melhor
e principalmente lutarmos pelo melhor
o melhor vai se instalar em nossa vida.
Porque sou do tamanho daquilo que vejo
e não do tamanho da minha altura.”

(Fernando Pessoa)
Esse trecho também foi tirado do orkut do Gui. E os dois últimos versos também estavam no texto de apresentação daquele meu professor querido, de quem falei aqui. Eu sempre gostei, ai então vi esse pedacinho mais completo. E acho que é uma bonita mensagem pra desejar a todos nós um felicíssimo natal.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ser Luz

Coisas tão verdadeiras e tão bonitas só podiam ser ditas por alguém especial como Nelson Mandela. Devíamos ler isto todo dia ao acordarmos:

Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida.
É a nossa luz, não as nossas trevas, o que mais nos apavora.
Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso?
Na realidade, quem é você para não ser?
Você é filho do Universo. Você se fazer de pequeno não ajuda o mundo. Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros quando estão perto de você.
Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós.
Não está apenas em um de nós: está em todos nós.
E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.
E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.
(Nelson Mandela)
Eu copiei esse trecho do orkut do meu querido Guilherme, assim como outras coisas, tá tudo numa pastinha. Pra eu ir compartilhando aqui conforme me dê vontade.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

...

Nessa última semana dois fatos me deixaram bastante triste e pensativa, um acidente de transito fatal, envolvendo uma colega de trabalho e o esposo que em conseqüência deixou dois adolescentes órfãos , e a perda de um parente próximo, vítima de um crime. Sentimos mais, quando mais próximo de nós acontecem esses dramas, um egoísmo em parte necessário para acordar todos os dias e ter ânimo pra continuar apesar dos pesares.

Já passei por esse tipo de perda, duas vezes quando bem criança, a primeira vez quando meu avô materno se foi, devia ter uns sete anos, não sei. Depois pelo meu avô paterno, já talvez com meus doze anos de idade. Não tenho recordações desses dias e nem o que eu senti, acho que não compreendia (nem hoje ainda) a dimensão e os mistérios da morte e da vida. Já mais recentemente minha avó materna, com a qual eu havia morado um tempo e tinha uma ligação mais forte, senti muita falta e tristeza, mesmo tendo consciência da sua velhice e da sua doença, ainda trago uma dorzinha n’alma que não sei o que é toda vez que lembro dela.

Há alguns meses, foi a hora de dizer adeus a uma tia querida, que aprendi a admirar e amar como mãe, já que era quem fazia esse papel de cuidadosa e compreensiva aqui. Não tem como não lamentar os abraços não dados, as palavras de afeto não ditas, as ações de carinho não praticadas. Não há como não umedecer os olhos e amolecer o coração ao recordar. E agora de novo, como nunca deixa de acontecer todos os dias, (tem sempre alguém sendo surpreendido pela temporalidade e finitude da vida) a vida mostra a morte sem explicação; quem sabe porque já sabemos, já temos essa certeza. E mesmo assim toda vez é como se estivéssemos alheios ao destino sabido de todos nós; talvez o medo, o mistério, o desconhecimento, a falta de fé nos faça encarar esses momentos com total despreparo. Talvez também, seja melhor assim, viver como se a vida nunca fosse ter fim, e receber essa surpresas certas como uma lição, onde aprendemos que devemos valorizar pessoas e não coisas, onde aprendemos que podemos mudar e melhorar enquanto estamos aqui.

É uma confusão de sentimentos, de pensamentos; penso em mim, nos meus, nos outros, no mundo, na vida, na morte... em Deus. E nesse turbilhão de emoções, resta buscar esperança, cada um onde está depositado sua crença, sua força, sua verdade, o sentido de viver; eu busco.

sábado, 20 de dezembro de 2008

espelho

Me olho e me vejo
sem um tanto de
ingenuidade e
simplicidade
genuinamente minhas.

Não olho, mas vejo
um tanto de tristeza
e desencanto
não sei de quem.

Só reconheço
algumas partes de mim
as outras permanecem
estranhas.

E o selo vai para...

Recebi meu primeiro selo do querido Abraão. Me senti lisonjeada porque segundo li o objetivo do selo é:
"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web".

A orientação seja indicar quinze blogs, e acho que eu não posso indicar quem já me indicou, se puder então é o primeiro da lista:

http://arkhipelago.blogspot.com/- A ilha de um homem só.

Então esses são meus indicados, espero não ser estraga prazer por não indicar quinze, eu leio muitos blogs que merecem todos os prêmios possíveis, mas penso que esses selinhos tem um quê de afetividade que influência nossa escolha. Assim indiquei aqueles que além de fazerem jus ao prêmio pelos motivos citados acima, também têm todo o meu bem-querer.
PS:Depois, siga, por favor, essas instruções:
1) Você deve exibir a imagem do selo em seu blog
2) VocÊ deve linkar o blog pelo qual você recebeu a indicação
3) Escolher outros 15 blogs a quem entregar o Prêmio Dardos
4) Avisar os escolhidos, claro.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

escrever é viver

Mais um dos guardados (especialmente para Thiago), este é recente (leia-se de um três anos atrás). Eu até já falei aqui sobre a preguiça de revisar, reescrever entre outras coisas; e relendo vi que também já pensei o contrário, além disso o que me chamou atenção no texto foi realmente esse poder que a escrita tem de nos fazer conhecer, especialmente para nós mesmos; o seu valor social como uma ferramenta de ação, de cidadania dentre outras coisas... Foi também um daqueles textos levados por um professor na faculdade, nem lembro quem foi, mas gostei muito. E além do que se alguém te disser que escrever num blog é perda de tempo, mostre apenas esse trechinhho e torça o nariz (dê uma esnobada, afinal, alguém que incontestavelmente entende do assunto, diz que escrever é o que há, rsrs)

Todo o poder da palavra

Lucília Helena Garcez*

A escrita permeia toda a nossa vida.(...)
(...) o processo de escrever é naturalmente o de reescrever, (...) a primeira versão de um texto, apesar de tão privilegiada pela escola, é apenas um rascunho, não traz mais que o embrião das idéias. O processo de reavaliar, reestruturar e reescrever é que constitui a essência da escrita, embora esta comece muito antes, no momento em que o redator tem o desejo de escrever. Desejar já é escrever, pois implica elaboração mental, processamento interior, busca, decisões e escolhas em diversos níveis. Colocar essas escolhas em linguagem verbal exata para transmitir idéias, rompendo a distância entre o que pensamos e o que escrevemos, é apenas uma das etapas da escrita. O próprio ato de produzir o texto vai recortando o mundo para o redator de uma maneira surpreendente, imprevisível.

Nesse sentido, escrever é descobrir, é desvendar, é construir, é dar forma às evanescentes sensações, emoções, representações, significações e interpretações do mundo. A trajetória humana vai sendo filtrada pela escrita e muitas vezes é o processo de escrever que nos mostra a nós mesmos o que somos e o que sabemos. Marguerite Duras considera: "Escrever significa tentar saber aquilo que se escreveria se fôssemos escrever-só se pode saber depois- antes, é a pergunta mais perigosa que se pode fazer. Mas também é a mais comum."

Somos escritos pela escrita. O ato de escrever torna explícitos pensamentos e saberes submersos, e refazer a escrita é retomar essas formulações, refletir sobre elas e reformulá-las, o que corresponde a uma reformulação de nossos fragmentos interiores. (...)

*Professora da UnB, autora do livro A escrita e o outro, publicado pela Editora Universidade de Brasília. (O papel onde estava o texto não mostrava de qual revista publicação foi retirado, só havia essa nota sobre a autora, deve valer a pena ler um livro dela, fico me devendo.)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Predestinados

Porque adoro a intertextualidade poética, adoro as releituras, as diferentes versões que cada um tem das coisas, da vida (em alguns casos). Algumas vezes resisto postar algo que eu não tenha escrito, porque afinal aqui eu deveria dar minha própria versão sobre algumas coisas, mas eu também sou aquilo que me comove, que me emociona, aquilo que gosto. Quando nos identificamos com um texto, uma imagem é por que tem ali alguma coisa de que também somos feitos. Assim ao compartilhar esses recortes, esses guardados do coração, essas preferências de todo tipo com as quais me identifico, também estou revelando o que penso, o que sinto, o que aprecio, o que sou. (sem pretensões)

Poema de sete faces
Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Com licença poética
Adélia Prado
"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
Eu adorei a versão de Adélia, particularmente e sem significar preferência. Esses dois poetas foram mesmo predestinados à perfeição, se ela existir por aqui.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não é proibido

Esse fim de semana recebi visitas, que garantiram o almoço que eu fiz ficou dilícia. Como eu queria impressionar, quis fazer uma calda quente com banana pro sorvete (receita deliciosa que eu não havia aprendido); foi errar na medida de açúcar, colocar ingredientes em momentos errados e adeus calda, mas surpreendemente eu consegui fazer um doce de banana único, parecia que tinha até canela, até eu acreditaria se não fosse eu mesma quem tivesse feito (os convidados juraram que estava mais que delicioso, saboroso...tá bom já estou exagerando).

Tô falando de doces, de comida porque ouvi uma música da Marisa Monte que tem a ver com isso, se você não ficar com vontade de comer um docinho, mas vai querer cantar e dançar até o fim; outra música que fala disso com maestria é: Com açúcar, com afeto de Chico Buarque. Os poetas, os músicos é que sabem mesmo dizer e cantar a poesia que existe nesses momentos regados a algum sabor, que têm cheiro de algum gosto, têm gosto de vida; e se a gente já souber perceber desses momentos alguma doçura já está bom, se conseguirmos temperar a vida, melhor ainda...

"Fazer a própria comida:
o amor integral,

o pão, a lentilha,
o poema grelhado,
o sal na medida:
cozinhar lentamente

essa fome indefinida."

(Adriano Espínola -poeta brasileiro, em Culinária, do livro Praia Provisória in: Seção Foco- Revista Caras )
Ouça também, e veja, algumas imagens dão água na boca. Delicie-se:


Aqui um trecho da música que falei, também vale ouvir depois:

(...)
Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê
(...)

Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado

Como vou me aborrecer, qual o quê
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro meus braços pra você.

Com açúcar, com afeto- Chico Buarque

hummm, deu uma fome agora...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pra quando vier a Vaidade

Sobre ambição


de pó
Deus o fez.
Mas ele em vez,
de se conformar,
quis ser sol, e ser mar,
e ser céu...Ser tudo enfim!
Mas nada pôde! E foi assim
que se pôs a chorar de furor...
Mas - ah! - foi sobre sua própria dor
que as lágrimas tristes rolaram. E o pó,
molhado, ficou sendo lodo - E lodo só!

Guilherme de Almeida

PS: Mais um que estava anotado num dos velhos pápeis guardados...

"Poesia! Única coisa que depois de sabida continua secreta. "
Cassiano Ricardo

sábado, 6 de dezembro de 2008

Pra guardar


Como a relação espaço- quinquilharias não está equilibrada in my home resolvi jogar fora alguns papéis, e fiquei surpresa ao ver este texto datilografado numa tinta meio azul-roxo num papel que já está amarelado (como conseguiamos viver sem computador?) que eu não imaginava guardar a tanto tempo, mas vi que não conseguiria jogar fora sem guardar (entende?), como a memória é fraca, deixo aqui pra eu ler quando quiser. Foi levado por um outro professor de língua portuguesa no primeiro ano do magistério (1996-97), foi um dos primeiros texto que me fez ver quanta emoção cabe numa folha de papel, quanto sentimento e beleza podem vir em forma de palavras, depois disso já li textos que me fizeram sentir algo parecido com o que senti ao ler este, mas esse é especial.

( Sobre o autor: Júlio César Bittencourt Gomes -segundo meu professor escreveu esse texto que foi vencedor de um concurso literário, foi com essas palavras que ele nos apresentou o autor e é só o que sei, pois ainda não fiz uma big pesquisa Google.)
PS: Já digitalizei e to vendo bem seguro aqui guardadinho, mas ainda não consegui jogar a folha no lixo, terei eu alguma obessessão por papéis velhos empoeirados?? Não respondam ..rs

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Rotina

Acordar cedo. Trabalhar de sete e meia as dezesseis e meia, mais umas horinhas extras e com sorte chegar em casa por volta das dezoito horas (nem menciono o capítulo a parte: o transporte público do qual eu dependo, teria que dedicar bastante tempo relatando e resmungando, basta isso) Banho revigorante. Fazer uma jantinha que ninguém é de ferro. Lavar roupa. Limpar chão. Lavar banheiro. Arruma dali, muda um móvel daqui, que as coisas e o ambiente têm que ser práticos num ambiente pequeno. (Mãe quero registrar meu profundo respeito e compreensão quando você reclama que trabalha muito, as demais coisas espero compreender quando tiver filhos, mas já faço alguma idéia, acredite. Agradecimentos eternos, não se esqueça) Banho relaxante. Vestir o vestido preferido, mereço me senti bem, sentar no sofá e rangar. Mereço deixar a louça do jantar pro dia seguinte, só hoje.
Realmente o trabalho doméstico é repetitivo e bastante cansativo, não tem fim, nem temporário.Bastante indicado pra quem aprecia a segurança da mesmice, a imutabilidade das coisas: as louças sempre estão sujas, a casa sempre tem que ser limpa (há opiniões divergentes, mas não entrarei no mérito da questão) enfim sempre se faz a mesma coisa indefinidamente. Espero mudar de idéia e ver alguma graça nessas coisas.
Concordo de hoje em diante que todas nós temos jornada tripla de trabalho e, estou contando só as básicas, pois na verdade dariam mais de dez, concordo que devíamos ser remuneradas de acordo com tais jornadas, nada mais justo, embora algumas coisas que fazemos sejam impagáveis no bom sentido, claro. Toda dona de casa depois de um dia assim, deveria receber uma massagenzinha nos pés (seria o mínimo e sem conotações maliciosas, que depois dessa maratona acredito que uma boa noite de sono seria o máximo que se conseguiria).
Oh! vida..doce vida agridoce às vezes.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

sobre a vida

Outro dia vasculhando algumas gavetas me deparei com um jornal antigo, do mes julho acho, vi uma reportagem que trazia uma foto, e me assustei pois era a notícia de um crime, e na foto reconheci meu professor de faculdade, de uns três anos atrás. Ali dizia que ele havia sido assassinado, por tentar acabar com tráfico de drogas na escola onde era diretor.

Eu nunca fui de ficar muito próxima de meus professores, as relações professor-aluno sempre foram baseada em respeito, e em alguns casos admiração. O primeiro sentimento porque tive uma educação tradicional e o segundo porque sempre há alguns mestres que vão além do ato de ensinar, que fazem diferença em nossas vidas, em muitos casos sem se darem conta disso. Nesse caso foi assim. Por causa de minha timidez talvez ele nunca soube, que foi um desses que me fez mudar, perceber coisas que eu nunca havia imaginado, pensar diferente sobre o mundo. Não apenas pelo conhecimento da sua matéria, mas pela forma como se apresentou à turma, seus pensamentos e atitudes, sua maneira de viver, por que eu o via como alguém que vivia o que acreditava, alguém com ideais e com atitude e isso é raro.

No primeiro dia de aula nos deu um texto, uma folha onde vinha uma foto sua no canto superior esquerdo da folha e a imagem de um barco no canto superior direito, com a frase: Navegante da vida. Abaixo em prosa ele falava de si, disse querer fugir ao currículo tradicional. No texto falou de suas origens, dos seus ideais, da sua profissão, citou Fernando Pessoa e outro poeta que não conhecia, falou da sua amada Rita(eu achei a coisa mais bonita o jeito que descreveu sua Rita, como uma musa digna do poeta que ele certamente também foi) e de seus filhos. Um texto tão bonito, que eu guardei até hoje, como tantos outros que nos levou para ler e refletir, e resgatei empoeirado para reler depois de ver a tragédia no jornal.

Fiquei pensando, nessas coisas que não conseguimos acreditar, nessas pessoas que achamos que não vão embora. Apesar de não ser próxima eu fiquei bastante sensibilizada; sei que acontecem coisas tão tristes e indignantes, coisas piores. Mas cada um de nós é quem dá essa medida pra tudo que acontece à nossa volta, a partir de tudo aquilo que nos constitui, e como em mim há algo daquele mestre, uma admiração pela vida, uma alegria de viver e um jeito diferente de perceber o mundo que ele com certeza deixou em todos nós alunos seus, naqueles dias.

Um dia escreveu no quadro:

Como sei pouco, e sou pouco,faço o pouco que me cabe me dando inteiro.

Anotei e mais tarde descobri que era de Thiago de Mello:

Para os que virão

Como sei pouco, e sou pouco, faço o pouco que me cabe me dando inteiro. Sabendo que não vou ver o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente para não enganar a ninguém: principalmente aos que sofrem na própria vida, a garra da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido no meu bolso de palavras. Sou simplesmente um homem para quem já a primeira e desolada pessoado singular - foi deixando, devagar, sofridamente de ser, para transformar-se - muito mais sofridamente - na primeira e profunda pessoa do plural.

Não importa que doa: é tempo de avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo, mesmo que longe ainda esteja de aprender a conjugar o verbo amar.

É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. ( Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros. ) Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando

Thiago de Mello

Se eu só mostrasse esse poema, que certamente era um de seus preferidos, quem lêsse, já teria uma idéia do grande homem que foi meu professor.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

mudança (parte II)

Estive esperando aquela tristezinha desses momentos pra derramar algumas lágrimas, dessas que todos nós sentimos quando deixamos algo pra trás. Vocês sabem, é difícil demais pra um ser humano abandonar algo, alguém, coisas que gostam e até mesmo as situações ruins não queremos deixar. Quanta gente não quer sair dos relacionamento fracassados, nem dos barracos que estão na iminência do soterramento. Eu vejo aquilo na tv e não acredito, como as pessoas numa situação de tamanho perigo se recusam a deixar para trás essas casas, essa situação.
Mas a questão além de ser bem mais complexa do que isto, me faz lembrar que somos resistentes e as vezes queremos nos agarrar mesmo a uma tábua do nosso antigo barco que esta afundando a dar algumas braçadas em direção a areia desconhecida. (Acho que deveria ter escrito esse texto em primeira pessoa). Embora o que tenha acontecido seja o contrário, já tentei até com trilha sonora, arrancar algumas lagriminhas e o máximo que consigo é cantarolar junto e até dançar sozinha no meio da sala...
Estou enxergando apenas as coisas boas, que eu nem sabia como era sentir. Estou ligando o maior queimador do fogão apenas para ferver o leite e ninguém reclama comigo (realmente me intriga essa lei de nunca usar o maior queimador do fogão a gás, que absurdo, que censura), eu gosto de ter quatro janelas que me dão uma sensação grande de liberdade, de ar, de poder respirar, porque me sinto mal em lugares pequenos, fechados.
Estou gostando de ouvir música no aparelhinho de mp3, que é quase inaudível, porque não gosto dos fones e, não tenho aparelho de som, de tv, nem pc (tive recaídas admito rs); de terminar e começar algumas leituras, dormir cedo e acordar cedinho porque agora estou perto da parada do busão e posso pegar o dia acordando feliz e ir trabalhar nesse clima, e ainda por cima sair mais cedo.
Agora me perguntem: E por que reclamas de ver o lado bom de tudo? De estar bem, afinal?Respondo que não reclamo, exclamo, me admiro desta vida louca, bonita e tão trivial. E definitavemente quero lembrar para momentos futuros, que o que nos faz tristes ou alegres não são as coisas, nem mesmo algumas pessoas, mas essencialmente nós mesmos e aquilo ou aqueles a quem damos esse poder.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Precisando descobrir vida além da tela. Da tv, do pc. Buscar vida que constrange, que toca e não só tecla, que sente e não só vê; vida que não cabe, que transborda e incomoda. Vida inesperada e não consentida sempre.
Precisando olhar menos das janelas e sair à porta, andar e percorrer as ruas, as gentes mais por vontade e menos por obrigação.
Precisando se apropriar do que é meu e, extrair a última gota de vida boa, ou ruim. E transformar o limão em limonada se eu quiser sugar essa vida mais líquida, mas degustável.
Precisando mudar o verbo...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

aooommmmm

Mantra-Nando Reis

Buscando transceder, sublimar rsrs

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

designação

Cada coisa que ainda não sei o nome...Que nome se dá quando algo acontece, quando comove a gente, no sentido de comover, claro, mas também de "mover", tirar do lugar, deixar de estar e ser por causa de; quando algo se quebra, quando algo se funde e, depois quando após, de toda essa transformação se quer viver como se não tivesse sido, como se não tivesse existido nada de diferente?
E não é simplesmente ignorar, é ter consciência de tudo e continuar como mesmo, como mesmo antes, como sempre antes, mas não dá. Sensação estranha de vaso quebrado e depois colado, de papel riscado e rasurado. Às vezes essas humanidades com jeito de coisa, de objeto não cai bem pra mim. Às vezes não lido bem com intrísecos, com subentendidos e afins, embora eu não suportasse nessa hora objetividade, evidências. É pena certas coisas não terem meio termo, equilíbrio e bom senso. Mas talvez tenham e eu apenas desconheça os nomes.

da minha família

Meu dicionário é tão restrito, procurei uma palavra que expressasse esse sentimento , essa vontade de sofrer no lugar de alguém, só pra não saber que a pessoa está sofrendo, mas não é pena e, compaixão, embora eu tenha lido uma linda descrição do que seja, não abarca tudo, essa vontade de evitar que alguém ou alguma coisa magoe a pessoa que gostamos, de proteger talvez, mas não só, porque a proteção às vezes implica privar de algo, e eu quero pra quem eu gosto e que talvez nem saiba disso; eu só quero a liberdade, a alegria, a felicidade e tudo o que isso significar, eu quero um bem que não sei expressar de verdade, e me dói uma dor que não é dor, mas parece; saber que às vezes só o querer não basta.

amor rima com humor


Adoro as sutilezas poéticas...

"
- a gente se vê amanhã?
- não.
- exijo um motivo!
- sei lá... sempre pensamos no amanhã como algo bonito... "

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

fundamental ouvir






Wave - Tom Jobim (na voz de Marjorie Estiano)

(..) O resto é mar

É tudo que eu não sei contar

São coisas lindas

Que eu tenho pra te dar

Fundamental é mesmo o amor

É impossivel ser feliz sozinho (...)

Mudança

imagem: what can You lose- Ana Dias in:http://olhares.aeiou.pt/what_can_you_lose/foto2315538.html
Estou de mudança, e não há termo mais adequado do que este, estou literalmente de mudança, em todos os sentidos. Estou tendo que deixar para trás não apenas um conforto material, físico, mas deixando também uma zona de conforto onde eu me encontrava e por receio ou acomodação não queria sair.

Estou escolhendo o que vou levar e o que vou deixar, acho que comecei bem. Não vou querer levar as mágoas, nem raiva e todas essas coisas pesadas que só sobrecarregam e ocupam espaço, sem nenhuma utilidade em nossa vida. Em compensação estou arrumando lugar na bagagem para generosidade e a solidariedade, o perdão, essas coisas que às vezes nem damos o devido valor, mas são essenciais e fazem um bem danado a alma, estou arrumando aqui dentro, vai caber.

É difícil deixar pra trás os espaços que fazíamos nosso, até o nome de usuário do computador foi difícil mudar, sem sentir como uma perda. Mas estou fazendo questão de perceber as conquistas e pensar nas coisas que ficam, não como algo que estou perdendo, mas estou deixando, como deixamos algo que não nos fará falta, que não é essencial, porque não são. E isso foi outra coisa que descobri na “mudança”; essencial são mesmo as pessoas que gostamos, a vida; e como disse Tom Jobim : fundamental é mesmo o amor...embora pareça piegas, embora até seja piegas; quem disse que pieguice é desimportante?

Bom, e sobre o que falta, a gente vai buscando, encontrando, do fogão ao tapete na porta de entrada, onde se lê: home sweet home. Não é bom pensar no que falta nessas horas, senão não mudamos nunca, seremos os mesmos, com os mesmos pensamentos petrificados, com os mesmos hábitos e atitudes, e a vida muda, por que nós não? Eu vou mudar. Nos vemos na minha vida nova, nos vemos na minha casa nova.

sábado, 15 de novembro de 2008

rascunhos

A REALIDADE
Descobri que meu orgulho não me deixa ver ninguém com quem eu possa contar, e além disso eu sou o único alguém que certa pessoa pode contar, toda essa responsabilidade inesperada transbordou e meu organismo dá sinais, parece que há um vazio no estômago, e olha que estou me alimentando direitinho. Parece que a cabeça está em outro mundo, mas eu só penso em algo bem daqui; ando sem sentir o chão, e sentindo um peso enorme nos ombros.
O ROMANCE
Fui ao cinema sozinha, mas esperava mais gente na sala, eu queria sair um pouco do mundo real. A surpresa foi chegar e ver todas as cadeiras vazias, eu era a única ali, deu vontade de voltar mas não voltei, sentei e assisti ao filme. Pedro e Ana eram os mocinhos da história. Havia lido o nome deles no caderno de fim de semana no jornal, mas não sabia muito da história, o final eu não sabia. Mas a maioria dos romances tem happy end e acho que era o que eu queria hoje, que tudo acabasse bem. Eu fui a Ana do filme durante a sessão e tive um final feliz, bastou por hoje. A outra surpresa foi encontrar um senhor de cabelos brancos que também assistiu ao filme, só o vi na saída; apoiava o rosto nas mãos, não sei se chorava ou cochilava ou sei lá o quê; não quis que ele visse meu rosto e imaginasse algo de mim, nem eu quis pensar nada a respeito dele, além de que mais alguém quis assistir aquele filme, àquela hora, sozinho.
PS: O filme é brasileiro (Romance de Guel Arraes), gostei muito, talvez o motivo de ninguém ter ido ver além de mim e do senhor de cabelos brancos, seja a estréia do novo filme de James Bond(Quantum Of Solace) e quem é páreo pra 007?
A INDECISÃO
Depois da sessão, fui comprar algumas coisas de que precisava; de geladeira a tesourinha de cortar unhas, mas depois de algumas voltas entre as prateleiras, pegar, olhar preços, devolvi o carrinho como havia encontrado, vazio. Eu não pude decidir por onde começar, não estava para as mínimas decisões de que fossem, não hoje; deixei pra depois. Quis sair mas começou a chuva, e eu também não quis enfrentar mesmo de guarda-chuva, resolvi sentar e rascunhar tudo isso aqui, e agora no fizinho, o sol já vem vindo ali, posso ir. Acabei. Vou pra casa.
A VIDA
Continua...Esse texto não.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

nova versão?


Hoje definitivamente, iniciou-se um novo ciclo em minha vida. Por que?

"Mas a vida era a vida, e tudo mudou." Miguel Torga

E agora mesmo estou com medo, mas ao mesmo tempo me sentindo corajosa, não sei explicar, eu só sinto. Talvez seja o velho medo do novo, de tudo que nunca foi e vai ser de agora em diante, e a coragem venha de saber que estou aqui para viver isso tudo, não vou me esquivar. E também um pouco aliviada, pois no fundo, no fundo eu sei que a vida só está fazendo o que já deveríamos ter feito. Mas eu peço a Deus que vá adiante de mim, para que eu possa tudo nEle.

"Tudo posso naquEle que me fortalece." Paulo na Carta aos Filipenses.

Que venha a vida, a surpresa, a diversidade, a alegria e tudo isso que faz de nossa jornada nesse mundo a maior aventura de todas. Aí vou eu...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Diário de inverno

My dear blog
Já estamos no terceiro dias de chuvas de verdade por aqui, finalmente águas de novembro...E daquele jeito: de manhã cedinho aquele sol tão bom que ilumina até a alma da gente, nos faz sentir conectados à natureza e amando todo os seres humanos (bom, há algumas exceções),pelo menos até nos encontrarmos com um que parece que tem a nuvenzinha de chuva sobre a cabeça, mas enfim, que sol...
Então partimos para a labuta e depois de um dia todo de trabalho, justamente nos dez minutinhos antes da hora de ir pra casa, eis que se anuncia e rapidamente o toró cai. E que chuva bonita, continua noite a dentro, pois se parasse quando chegassemos em casa seria até desaforo de São Pedro. Imagina só, fazer toda a viagem debaixo d'agua e quando colocássemos os pezinhos debaixo de nosso teto, nenhuma gota...não, melhor chover.
Mas como eu ia dizendo, saldo positivo até agora (pra mim claro):
Banhos de água suja quando os carros passam pela parada de bus : 0
Vento de chuva de virar o guarda-chuva do avesso: 0
Banho de chuva inesperado por esquecer guarda-chuva em casa: 0
Claro que ainda é cedo pra fazer o balanço, mas também tem o lado bom. Você sabia que no período de chuvas acontecem menos crimes? Segundo uma amiga que ouviu isso de um amigo policial (ou bombeiro não sei) sim; ou é na época do frio? Não lembro, mas acho que pode ser verdade mesmo, todo mundo quer apenas estar sequinho e protegido olhando a chuva, ou então tomando banho nela porque quis. A chuva também é democrática, é justa, molha o pobre e o rico, o triste e o alegre, não há critérios, ela só cai em nossa direção, e vai lavando tudo, vai molhando tudo, não faz acepção.
Pra mim o período chuvoso, o dia chuvoso sempre me faz lembrar Deus, a grandiosidade do universo, a força da natureza, a benção que é a chuva. Pois como a maioria dos nordestinos ouço desde cedo o pai, a mãe, os adultos expressarem que a colheita vai ser boa porque a chuva foi boa. De meus pais ouvia: Esse ano vai dá muito legume (arroz, feijão, milho etc) pois as chuvas foram boas. Ou então o contrário quando a chuva era escassa. Assim é ela que determina se o ano vai ser farto ou não, próspero ou não. Temos respeito e admiração pelo ciclo da água, que é também um ciclo de vida para muitos.
Sem contar os sentimentos que despertava em nós os temporais noturnos, os raios, os trovões, a ventania que vem com ela ou; os banhos mais felizes de nossas vidas, mais desejados, mais aguardados, ou simplesmente a contemplação de cada goteira que caia do telhado e que tentávamos em vão guardar num único copinho que segurávamos a janela, quando o banho era proibido por uma gripe ou simplemente uma decisão materna, sempre incontestável, ou melhor sempre obedecida.
Então que seja bem vinda e como eu fazia quando criança e estava com vontade que aquele chuvisco fininho se tornasse uma chuvarada que valesse pedir a mãe pra cair na chuva, brado:
_Abaixa a mão São Pedro!!! (E funciona hein?)

domingo, 9 de novembro de 2008

sem comemoração? sim CEM!

Outro dia ao olhar o blog, vi que faltavam menos de cinco posts para a postagem número cem, e claro pra não deixar fugir a oportunidade, eis-me aqui comemorando, vai saber quando será o post número 1000 ou a 10.000ª visita, entonces resolvi fazer um pequeno texto sobre o que penso da minha própria versão.

No início de tudo eu disse que o objetivo era mostrar como eu percebo o mundo e como percebo a mim mesma, e garanto que foram grandes as surpresas, imaginem só, quem diria que reler o que escrevei, rever o que coloquei nesse espaço, mudaria bastante a idéia que eu fazia de mim. Eu que me considerava o otimismo em pessoa, a alegria em forma de gente, me vi triste e melancólica muitas vezes, deixando muitas vezes de escrever algo porque por mais que eu tentasse não conseguia mostrar algo diferente.

Eu que sempre me considerei a mais responsável, a mais careta, a mais adulta (bem ainda sou assim mesmo) vi que tenho um lado muito infantil e bem ingênuo algumas vezes. E claro algumas coisas se confirmaram, a desconfiança e a timidez são bem fortes de serem vencidas, embora eu venha lutando bravamente.

E algumas de minhas versões continuam um mistério até pra mim, mas se até Clarice Lispector (veja a citação ao lado) via no seu desconhecimento a sua maior e melhor parte, por que não eu? Embora na realidade sempre quero conhecer, o outro, a mim, o mundo e, também talvez, me deixar conhecer, embora sem fazer por onde. Mas isso são ainda suposições, ainda não deu pra perceber isso até a centésima postagem, além do que isto é um blog e não um oráculo. Talvez algumas coisas continuem ignoradas enquanto eu não buscar o jeito certo de conhecê-las.

Isso me lembrou Fernando Pessoa:

Sei que nunca terei o que procuro

E que nem sei buscar o que desejo,

Mas busco, insciente, no silêncio escuro

E pasmo do que sei que não almejo.

Muito introspectivo esse texto, acho que vou encerrar agradecendo a todos que além de lerem, de me visitarem ainda deixaram os comentários mais amáveis e que me deixaram imensamente feliz, obrigada.
PS: uma coisa é certa, quando começo a escrever sempre surgem mil coisas que gostaria de falar e que no final tenho que deixar de lado senão não seria um post de blog, seria um discurso de Fidel Castro (Pela extensão claro, longe de mim querer comparar isso aqui à inteligência dos discursos do homem, é claro que eu nunca li nem ouvi, mas dizem que duram mais de três horas. Tá vendo? Olha do que eu já estou falando, Dio mio...)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Luiz Gonzaga é o maior


Se não me engano, trecho de show de despedida do rei do baião. Bão demais...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A frase do dia

Em mais uma visita ao Café onde costumo jantar (café com leite e beiju), peço o de sempre, mas a moça me pergunta o que é o de sempre. É, três vezes ainda não é o suficiente pra fazer o pedido dessa forma. Hunff ! Vou folhear as revistas que nem criança, querendo mais as imagens que as letras, e nem aí pra relógio, descansando de mais um dia antes mesmo dele chegar ao fim. Me esquecendo que tenho mais um compromisso, eu tomo meu café, saboreio a tapioca com manteiga, demoro a pagar a conta, mas fico aliviada por haver outras mesas, caso cheguem mais clientes. Encontro uma frase tão bonita na revista, eu também penso assim. Nunca havia lido nada desse cara. Vou pagar agora, o chuvisco deve ter passado, devo estar "atrasada como sempre meia hora ou mais", não quero que pensem que vou sair sem pagar. Recebo o troco e me admiro dessa moça parecer tão naturalmente simpática, sem se esforçar pra ser agradável. Tem gente que é assim mesmo, coisa rara. Gente que nem precisa falar com a gente, basta aquele olhar sorridente, franco, sei lá. Como será que os outros me veêm? Eu penso nisso outra hora...Pressa...pressa.
E a frase era:
Em matéria de amor o excesso é o minímo que eu peço.
É ou não é o cara? rss

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dos guardados

Fazendo uma faxina nas gavetas, encontrei uma página de revista que havia guardado ( tenho essa mania) arranquei de uma revista já toda recortada, destruída, há uns dois anos atrás, mesmo sabendo que era voltado pra um público específico da revista achei perfeito pra mim. Hoje já encontro no texto alguns defeitos, alguns preconceitos, alguns psicologismos, e discordo de algumas coisas, mas não posso negar que me faz pensar sobre a inconstância, a transitoriedade, a importância das coisas. Perceber o lado bom das coisas, por que não? Por que temos que considerar as coisas, as pessoas como imutáveis? Estamos vivendo, estamos mudando; até a minha opinião sobre o texto não é a mesma do dia em que li a primeira vez e quis guardar. Se me fez pensar em assumir uma timidez apontada, também me fez questionar o rótulo, o julgamento. Se me identifiquei com alguns exemplos, e poderia citar muitos outros, também poderia listar inúmeros que contrariam a tese. E por causa dessa mania de guardar o que me agradou, o que me sensibilizou de certa maneira, guardo aqui no meu canto, esse recorte, esse impressão, essa minha lembrança, pois o papel vou jogar fora. E olha que raiva depois de digitar isso tudo, encontrei aqui (vá em edições anteriores); era só copiar/ colar. Enfim, it's the life...
O que é timidez*

É uma característica de quem fala pouco, mas valoriza muito o outro

Há duas maneira de encarar a timidez. Començando pelo lado sombrio, a palavra timidez veio do latim timere "ter medo". O tímido é alguém com receio. Receio de quê? A lista é enorme: de ser criticado em público; de não ser o melhor; de não atingir as expectativas dos outros (principalmente dos pais); de tomar decisões que possam ser mal interpretadas; ou, simplesmente, de ouvir um "não". Ou seja, a solução para os males do tímido não está nele, está nos outros. E os outros, em vez de colaborar, acham divertido chamar o tímido de acanhado, envergonhado, enrustido, rótulos que só ajudam a piorar a sitação.
Assim, a defesa natural do tímido é se isolar e se calar, para evitar o contato- e o confronto- com outras pessoas. E aí começa a ficar altamente emocional suas reações, criando um mundo particular em que a regra é "ninguém me entende". Quanto mais isolado se torna, menos confiança adquire em si mesmo. Essa insegurança levará gradativamente à dificuldade para decidir o que fazer. O passo seguinte é a perda da auto-estima. E, daí em diante, tudo vai ladeira a baixo.
Logo, o importante é deixar a timidez de lado? Seria, se fosse assim tão fácil. Porque o tímido não escolheu ser tímido. Ele se tornou tímido. Se alguém escarafunchar seu passado, vai encontrar algum fato que talvez ajude a explicar essa retração, como, por exemplo, críticas ou pressões para ser o melhor em tudo; ou uma mudança brusca de cidade ou de condição de vida; ou pais muito afetivos, mas dados à superproteção.
Agora, a parte boa. Timidez não é uma doença, é uma característica de personalidade. Não existe uma norma dizendo que crianças tímidas irão se transformar em adultos tímidos. E tampouco a timidez vai gerar insatisfação pessoal: existe muita gente tímida com grande auto-estima. Muitas pessoas famosas, milionárias, inteligentes e corajosas foram, ou são, tímidas. Esse povo, simplesmente, aprendeu a usar a timidez a seu favor, por conta própria ou por meio de alguma ajuda especializada.
O melhor tímido é aquele que sabe que é tímido, que aceita o fato de ser tímido e que faz da timidez a sua vantagem competitiva. Porque qualquer pessoa normal prefere mil vezes trabalhar com alguém tímido, porém atencioso e prestativo, dispoto a ouvir, do que com alguém auto-suficiente, que despreza as opiniões alheias e tem resposta para tudo. Pessoas tímidas têm dentro de si, ao mesmo tempo, o acelerador que lhes permite contribuir com grandes sugestões e o freio que as impede de simplesmente levantar a mão em uma reunião para fazer uma pergunta.
Dentro de cada tímido, há um artista esperando a hora de brilhar. E, dentro de cada artista, há um tímido que encontrou a válvula de escape. O único empecilho para o tímido é ele mesmo, quando se propõe a deixar de lado o possível no curto prazo, para tentar fazer planos inatingíveis de longo prazo. No fundo, os tímidos são os melhores entre nós, mas boa parte de nós ainda não percebeu isso. E boa parte deles, também não.

* Copiado na íntegra coluna MR. MAX da revista VOCE/SA de maio de 2005.

** Escritor e palestrante; agora eu não sei, mas na foto da época era a cara do Richard Gere (Uow!).

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mal -dito bem/mau entendido

(Ditas)
Sem sentido
cem palavras
consentidas

(Atos)
Dez feitos
com sentidos
equivocados

(O sentido?)
Sem jeito
sentimento
desfeito.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Há alguns anos atrás quando uma prima querida estava prestes a decidir morar com o namorado, mudar de cidade, mudar de vida. Depois de uma conversa em que me confidenciou sua intenção, cheguei em casa e fui pensar sobre o assunto, não sei por que, acho que pensei que ela realmente fosse embora, resolvi escrever uma carta pra ela, na verdade vasculhei meus livros didáticos, meus papéis guardados, meus recortes e copiei alguns poemas, escrevi alguns desejos de felicidades e lhe entreguei numa folha de caderno, no dia em que ela viajou para tomar a decisão.
O tempo passou de novo, ela não casou com o pretendido na época; voltou, e depois eu é que fui embora. Mas numa das vezes em que nos reencontramos, numa conversa entre primas, ela tirou da carteira a folha de caderno já marcada pelas dobras, já envelhecida e me disse que guardou o presente todo esse tempo, que havia gostado muito, que leu junto ao namorado na época. Eu fiquei feliz em saber que aquele gesto, meio infantil, foi agradável e bonito. Eu reli o que tinha escrito, nem lembrava mais, e também gostei do que estava ali. E um dos poemas também ficou sendo um dos meus preferidos, esse:

Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não.
A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
Adélia Prado

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

prendas do maranhão




Quase nada-Zeca Baleiro

(Acho que são os lençóis maranhenses no clipe, lindos iguais a música, ao Zeca.)

sábado, 18 de outubro de 2008

Fiquei parecida comigo?

Eu vi em A luz na escuridão e fiz o meu, se quiser fazer sua versão mangá também, é aqui ó.


É, sou eu...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

e a noite vem chegando à Brasília


Foto: Ana/ Arquivo Pessoal -07/2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

poesia in crônica

(Porque a gente encontra pedacinhos de nós por aí, nos ditos, nos feitos e nos escritos de outros. Achei bonito demais pra guardar só pra mim.)
Escorrendo
Aos 5 anos de idade o mundo é esmagadoramente mais forte do que a gente. (Aos 30 também, mas apren- demos umas manhas que, se não anulam a desproporção, ao menos disfarçam nossa pequenez.) A ignorância não é uma bênção, é uma condenação: compreender a origem dos nossos incômodos faz uma grande diferença. Mas como, com tão poucas palavras ao nosso dispor? Palavras são ferramentas que usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa cabeça. Sem as ferramentas precisas, ficamos a espanar parafusos com pontas de facas, a destruir porcas com alicates.
Com 2 anos, meu nariz escorria sem parar na sala de aula. Eu não sabia assoar, nem sequer sabia que existia isso: assoar. Apenas enxugava o que descia na manga do uniforme, conformado, até ficar com o nariz assado. Lembro-me bem da sensação da meia sendo comida pela galocha enquanto eu andava. A cada passo, ela ia se engruvinhando mais e mais na frente do pé, faltando no calcanhar, e eu aceitava o infortúnio como se fosse uma praga rogada pelos deuses, uma sina. Não passava pela minha cabeça trocar de meia, desistir da galocha, pedir ajuda aos adultos: a vida era assim, não havia o que fazer.

Numas férias, meu pai apareceu antes do combinado para pegar minha irmã e eu na casa dos meus avós. Durante 400 quilômetros, falou que existiam pessoas boas e pessoas más, que aconteciam coisas que a gente não conseguia entender, que mesmo as pessoas más podiam fazer coisas boas e as pessoas boas, coisas más. Já quase chegando a São Paulo, contou que nosso vizinho, de 6 anos, tinha levado um tiro. Naquela noite, enquanto as crianças da rua brincavam – mais quietas do que o habitual, sob um véu inominável –, um dos garotos disse: “Bem-feito! Ele é muito chato”. Hoje, penso que pode ter sido sua maneira de lidar com uma realidade esmagadoramente mais forte do que ele. Meu vizinho, felizmente, sobreviveu. Nossa ingenuidade é que não: ficou ali, estirada entre amendoeiras e paralelepípedos, sendo iluminada pela lâmpada intermitente de mercúrio, depois que todas as crianças voltaram para suas casas.

Antonio Prata

Publicado na seção Era uma vez da revista Nova Escola impressa, mas disponível também, aqui.

sábado, 11 de outubro de 2008

O vestido mais bonito

Eu sempre quis escrever sobre essa lembrança da minha infância, mais que outras, nem sei o motivo; acho que porque nem consigo sequer lembrar essa passagem sem que sinta uma pontinha daquilo que senti no dia. E isso me emociona, é estranho, eu mesma acho ridículo, mas também um pouco triste e um pouco terno.

Até meus nove ou dez anos de idade ou mais, as minhas roupas assim como as de minha irmã eram feitas por uma costureira, quando já estávamos com todas as peças “surradas” era a hora de minha mãe ir até a cidade escolher os tecidos e mandar fazer, geralmente conjuntinhos de uma cor só, ou vestidinhos. Essa era uma época de pura felicidade, os olhos brilhavam quando era chegada à grande hora de experimentar a roupa nova, pra ver se servia.

Numa dessas vezes, quando eu tinha uns sete ou oito anos minha irmã mais nova ganhou um conjunto e eu um vestido, não me recordo bem da cor e do modelo da roupa nova da minha irmã, mas do meu vestido não há como esquecer, era o vestido mais bonito que alguém havia feito, o comprimento era até os joelhos, simples, sem mangas, sem rendas, sem enfeites; o que havia de especial era o tecido, na verdade a cor do tecido, porque provavelmente era uma chita como as outras; mas sua estampa eram listrinhas fininhas de várias cores, nem berrante, nem apagado, era o arco-íris mas bem representado que eu já havia visto, e passava horas admirando aquelas listrinhas no meu vestido novo, tentando imaginar qual o início da seqüência das listras, como poderiam ser reagrupadas... eu me encantava. Achava que quando eu vestia aquele vestido mais bonito de todos, ficava linda, tinha certeza.

Um dia motivadas pela rivalidade entre irmãos, que no meu caso era agravada pelo ciúme que sentia da minha irmã caçula, depois de algumas provocações e teimas infanto- fraternais entre nós, decidimos que a pessoa mais indicada pra dizer afinal, de quem era a roupa mais bonita, era nossa mãe. Eu mesma sabendo da predileção e vantagem dos irmãos caçula estava certa que dessa vez isso não contaria porque, quem seria capaz de discordar que o meu vestido era o vestido mais bonito de todos?

E lá fomos nós, cada uma mais faceira que a outra, exibindo confiantes do voto daquela que era sem dúvidas a nossa predileta , nossos trajes mais belos e preciosos. Eu não sei como minha irmã se sentiu, pois nunca mais falei com ela sobre esse fato, talvez não lembre, era muito pequena, mas eu nunca vou esquecer de como me senti depois de ouvir que o conjunto dela era o mais bonito. Creio que minha mãe falou mais pra se livrar de nossa importunação, do que por qualquer outro motivo, talvez tenha pensado que eu entenderia por ser mais velha, ou não; mas depois de escutar aquilo, eu não consegui ficar na presença das duas e de mais ninguém, porque lembro que havia mais pessoas na sala, nem sei. Eu saí disfarçando a decepção e fui para o quarto dos meus pais, me escondi ao lado da cama, onde não podiam me ver, eu não queria chorar por aquele motivo bobo, mas também não podia conter nenhuma lágrima, acho que a certeza que eu tinha descia em cada uma. Eu continuei acreditando que meu vestido era o mais bonito, mas passei a acreditar também que só eu achava isso, ninguém mais, então eu poderia estar errada, e talvez estivesse feia com um vestido horroroso.

E daquele dia em diante, mesmo que me digam: o seu vestido é lindo, o mais bonito de todos. Mesmo que eu queira, eu não consigo acreditar. Mas também decidi que um dia, quando eu tiver filhos, nunca vou deixar que desacreditem da própria beleza, mesmo que jamais me questionem eu vou dizer a eles, para que nunca duvidem, que estão com as roupas mais lindas, que são os filhos mais bonitos desse mundo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

des+conexo

(Não procurem coerência nesse texto, foi saindo da potinhas dos dedos desse jeito, não dá pra registrar os pensamentos acompanhando o ritmo deles, penso eu.)
As pessoas não entendem meu senso de humor, e eu não entendo o mau-humor delas. Tá certo que a recíproca é bem verdadeira ultimamente. Quem aguenta essas risadas? Esses assuntos desinteressantes? Esse convivência inssossa e irônica, politicamente correta. Eu não sei o que há.
Eu, uma pessoa avessa aos excessos e extremos, chegar a esse ponto, o mundo está virado mesmo. Esse é o momento apropriado pra usar uma frase de que gosto muito "Parem o mundo que eu quero descer", que eu jurava era um ditado popular e descobri que é atribuída a um comediante estrangeiro (depois escrevo aqui). Mas enfim, já vi que não posso desistir dessa viagem, eu jamais desistiria de mim, imagina! Agora que consegui um lugar na janela, agora que já tem até com quem conversar, agora que ainda o melhor estar por vir, porque sempre está, mas eu estou gostando desde o início; e esse desconforto? Faz parte de toda e qualquer viagem maravilhosa que fazemos. Continuo, maravilhada e agradecida por ser eu quem está vendo, ouvindo e sentido tudo nesse caminho. E tenho dito.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

egocentrismo

"Sem Ana, Blues..

Quando Ana me deixou - essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos - e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou - e essa não- continuação era a única espécie de não continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo - esse espaço branco sem Ana - de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. (...)
Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos dourados e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pinheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os dourados e o vermelho do céu. E lembro que pensei agora o telefone vai tocar, e o telefone não tocou, e depois de algum tempo em que o telefone não tocou, e podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, convidando para jantar, para cheirar pó, para ver Nastassia Kinski nua, perguntando que tempo fazia ou qualquer coisa assim, então pensei agora a campainha vai tocar. Podia ser o porteiro entregando alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar. Depois que Ana me deixou - não naquele momento exato em que estou ali parado, porque aquele momento exato é o momento- quando, não o momento- depois, e no momento- quando não acontece nada dentro dele, somente a ausência da Ana, igual a uma bolha de sabão redonda, luminosa, suspensa no ar, bem no centro da sala do apartamento, e dentro dessa bolha é que estou parado também, suspenso também, mas não luminoso, ao contrário, opaco, fosco, sem brilho e ainda vestido com um dos ternos que uso para trabalhar, apenas o nó da gravata levemente afrouxado, porque é começo de verão e o suor que escorre pelo meu corpo começa a molhar as mãos e a dissolver a tinta das letras no bilhete de Ana - depois que Ana me deixou, como ia dizendo, dei para beber, como é de praxe. (...)
O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para- você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto- falta- quero- voltar. Isso nunca aconteceu..(...)"
Caio Fernando de Abreu
(Achei aqui, acho que vou querer ler Caio Fernando Abreu, por isto e por isso também.)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

...


Julieta Venegas & Marisa Monte - Ilusión

texto com fins terapêuticos

Há uns dois minutos atrás aconteceu algo que me deixou mesmo muito, muito triste, magoada (detesto usar palavras que não gosto de usar, magoada... tsc, tsc, tsc...), mas enfim nessas horas eu me lembro de um papelzinho daqueles de chiclete que vêm com curiosidades do guiness book ou fotos do RBD ou do Pokémon, essa veio com signos astrológicos, eu nem acredito nisso, mas aquela dizia que sagitariano esquece rapidinho as coisas ruins, não fica curtindo sofrimento não, rapidinho está felizão da vida de novo, como sempre. E isso me tem feito muito bem, eu digo pra mim mesma, já passou da hora e nem vale a pena, simbóra... Mas aí eu também me lembro de outra coisa que li por aí e de um assunto que entendo tanto quanto astrologia, (ou seja, coisa nenhuma) Psicanálise.

Segundo me lembro tudo que você tenta reprimir, vai pro subconsciente, some por um tempo, mas então quando você menos espera a bomba estoura. Mas eu acho que não escondo de mim mesma, tento ser o mais razoável possível, me mostro as razões e os porquês e poréns e acabo entendendo tudo, acredito (e torço). Fora que é tudo muito pessimista, eu prefiro mil vezes acreditar no papelzinho de chiclete. (Por via das dúvidas, desabafo nesse texto, vai saber, né?)
E então tô aqui escrevendo, depois de navegar por aí e ler, ouvir e ver tanta coisa que vale a pena, tanta coisa bonita, tanta coisa que inspira alegria e felicidade, não dá pra ficar dando espaços no meu único coraçãozinho pra “eu nem vou falar o nome”. (já chega uma palavra indesejada no meu texto, já chega dessas coisas indesejadas na minha vida)

Viu? Já passou...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

descrição de "eu" por mim.

auto retrato

Sou assim
mas nem tanto;
sou isso ou aquilo.

Isso não, isto sim,
vez em quando.

Sempre assim
e também nunca.

Entendeu?
Nem eu.

"Descrição

Uma descrição consiste em uma enumeração de parâmetros quantitativos e qualitativos os quais buscam fornecer uma definição de alguma coisa. Uma descrição completa inclui distinções sutis úteis para distinguir uma coisa de outra. Descrição Caracteriza-se por ser um “retrato verbal” de pessoas, objetos, animais, sentimentos, cenas ou ambientes. Entretanto, uma descrição não se resume à enumeração pura e simples. O essencial é saber captar o traço distintivo, particular, o que diferencia aquele elemento descrito de todos os demais de sua espécie. "

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Saudade do tempo em que eu, lá na minha terrinha, só tinha medo de assombração.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

bobagens

O dia começou dando a impressão de que não ia ser dos melhores, depois de um domingo muito bom; logo de manhã chuveiro sem água quente, depois a impressão de que todas as minhas roupas não eram minhas e que a dona tinha um péssimo gosto pra se vestir (não queira acordar com essa estranheza do próprio guarda-roupa) sem outra opção, tive que vestir alguma peça que estava ali.
Mas não parou por aí, ainda teve gente pra piorar um pouco mais o meu comecinho de dia, eu devia fazer igual Clarah Averbuck reservar a elas meu mais puro e genuíno silêncio, mas não; eu dou ouvidos e me deixo influenciar, por que sou influenciável às vezes, só às vezes. Essas pessoas que não nos entendem e a quem não entendemos também, deviam ser indiferentes a nós.
Se bem que escutei uma vez, não sei se foi numa novela, que indiferença é pior que qualquer outro sentimento, porque significa que você não se importa com o outro, sua existência ou inexistência não tem a menor significância pra você, nem ruim; isso tudo parece realmente péssimo. Mas enfim eu não queria indiferença de todos não, pensando bem talvez de ninguém. Porque como a mesma Clarah disse “se o mundo dependesse de todo mundo entender tudo para girar, já tinha caído de órbita faz muito tempo”.
Mas é assim mesmo minha gente, se eu fui capaz de acreditar que acordei no dia errado, imagine como tudo poderia ser. Mas não foi. Apesar dos pesares, trânsito lento por motoqueiro x ônibus =acidente, e chegar atrasada de novo e ninguém acreditar nas explicações (que injustiça com alguém que nem sabe o que vestir de manhâ ao sair de casa) o resto do dia foi até leve e produtivo e agradável e nada do que era previsto aconteceu, ainda bem que a vida é imprevisível quase sempre. Por exemplo, esse texto, não ficou como eu queria, ainda bem, ainda bem (podem ser indiferentes nesse caso, ok?).

sábado, 20 de setembro de 2008

Uma trilogia perfeita sobre o mais nobre dos sentimentos

I Carta de Paulo aos Coríntios . Cap. 13:
1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.

2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

3 E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
5 O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
6 Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
7 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
8Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.
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Luís Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
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Monte Castelo
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).


Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua do anjos
Sem amor, eu nada seria...

É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece...

O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...

É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...

É um estar-se preso
Por vontade
É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor...

Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua do anjos
Sem amor, eu nada seria...