segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

escrever é viver

Mais um dos guardados (especialmente para Thiago), este é recente (leia-se de um três anos atrás). Eu até já falei aqui sobre a preguiça de revisar, reescrever entre outras coisas; e relendo vi que também já pensei o contrário, além disso o que me chamou atenção no texto foi realmente esse poder que a escrita tem de nos fazer conhecer, especialmente para nós mesmos; o seu valor social como uma ferramenta de ação, de cidadania dentre outras coisas... Foi também um daqueles textos levados por um professor na faculdade, nem lembro quem foi, mas gostei muito. E além do que se alguém te disser que escrever num blog é perda de tempo, mostre apenas esse trechinhho e torça o nariz (dê uma esnobada, afinal, alguém que incontestavelmente entende do assunto, diz que escrever é o que há, rsrs)

Todo o poder da palavra

Lucília Helena Garcez*

A escrita permeia toda a nossa vida.(...)
(...) o processo de escrever é naturalmente o de reescrever, (...) a primeira versão de um texto, apesar de tão privilegiada pela escola, é apenas um rascunho, não traz mais que o embrião das idéias. O processo de reavaliar, reestruturar e reescrever é que constitui a essência da escrita, embora esta comece muito antes, no momento em que o redator tem o desejo de escrever. Desejar já é escrever, pois implica elaboração mental, processamento interior, busca, decisões e escolhas em diversos níveis. Colocar essas escolhas em linguagem verbal exata para transmitir idéias, rompendo a distância entre o que pensamos e o que escrevemos, é apenas uma das etapas da escrita. O próprio ato de produzir o texto vai recortando o mundo para o redator de uma maneira surpreendente, imprevisível.

Nesse sentido, escrever é descobrir, é desvendar, é construir, é dar forma às evanescentes sensações, emoções, representações, significações e interpretações do mundo. A trajetória humana vai sendo filtrada pela escrita e muitas vezes é o processo de escrever que nos mostra a nós mesmos o que somos e o que sabemos. Marguerite Duras considera: "Escrever significa tentar saber aquilo que se escreveria se fôssemos escrever-só se pode saber depois- antes, é a pergunta mais perigosa que se pode fazer. Mas também é a mais comum."

Somos escritos pela escrita. O ato de escrever torna explícitos pensamentos e saberes submersos, e refazer a escrita é retomar essas formulações, refletir sobre elas e reformulá-las, o que corresponde a uma reformulação de nossos fragmentos interiores. (...)

*Professora da UnB, autora do livro A escrita e o outro, publicado pela Editora Universidade de Brasília. (O papel onde estava o texto não mostrava de qual revista publicação foi retirado, só havia essa nota sobre a autora, deve valer a pena ler um livro dela, fico me devendo.)

2 comentários:

Thiago disse...

Eu fico imensamente feliz por ter sido citado neste lindo texto, que mostra o poder e a função dos nossos escritos, da importância da informação, da revelação e da formulação daquilo que somos. Eu escrevo para me descobrir.
Gostei muito das idéias expostas no texto e concordo plenamente que a escrita é o recorte do mundo, é o modelo e a forma como vemos o que acontece ao nosso redor, e também dentro de nós.
Escrever é (re)viver!

Mil beijos para você!!

Abraão Vitoriano disse...

Belo texto, de uma significância incrível. Realizei um projeto de leitura, e considero que infelizmente esta visão pronunciada no texto, não condiz com a prática escolar. É necessário que a leitura e a escrita sejam encaradas com algo transformador, com o deposito de sentimento, sensações, realidades, e jamais vinculada com um ato mecânico.
“Ana você permeia em tantas atmosferas...” E por isso, e por mais outras coisas, adoro você... adoro esse cantinho...