é que eu queria falar de uma sensação boa que sinto vez em quando, chegando em casa, perto da minha rua, que é meio ladeira, o sol ta assim mais amarelo, o céu bem azul, às vezes nuvens; ainda mais estes dias que tem chovido, aquele ar mais puro, parece até que a gente é só feliz. Sabe quando tudo parece estar bem, e só temos vontade de agradecer pela vida? Muito clichê, mas fazer o quê?
Então, essa música traz essa sensação boa, ouve aí e tenta...se não conseguir, a música vale por si só.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
retrato falho
Quem escreve se descreve. Esse registro que faço do meu olhar pode dar um retrato bem pintado mas também, um retrato falado.
Não é por nada não, mas chegar ao fundo do ser de alguém; que graça tem?
O que me alivia é saber: nem sempre quem lê interpreta, e posso continuar, ao menos um pouco, secreta.
Se não me engano, o Thiago escreveu em algum lugar e eu li: ”o antônimo também faz parte do significado de uma palavra.” Sim, o oposto de algo, o contrário também é este algo. Não deve ser à toa que teorias sobre a dualidade dos seres e das coisas abundam desde sempre. Mas é quando essa separação ocorre dentro de mim, que faz mais sentido, que me ocupa o pensamento. É quando faço algo que não quero, ou o contrário, deixo de fazer algo que desejo; que meu ser parece está em partes, em lados opostos no mesmo campo de batalha. É muito difícil a serenidade, pra entender que o que me parece diverso também sou eu. Que a incoerência me compõe também. Tomar partido de mim mesmo, sabendo que tenho que discordar por outro lado, também de mim. Tudo muito paradoxal e complexo. E ao mesmo tempo tão incompreensível quanto simples. Penso que me conheço a vida toda, e de repente me estranho. Deve ser porque vivo sempre na superfície da vida e quando vez em quando sou obrigado a olhar o fundo e a imensidão sob mim, me assusto um pouco. E me olho como se nunca tivesse me visto. E fico em dúvida pra responder a pergunta que me faço: Quem és tu e o que desejas?
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio Nem ama duas vezes a mesma mulher. Deus de onde tudo deriva É a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo Nascer é muito comprido.
Murilo Mendes Poeta mineiro de Juiz de Fora, nasceu em 1901 e faleceu em Lisboa em 1975.
Acorda, corre e vai e trabalha, ouve, ouve, e conversa, e trabalha e cansa. Escurece e volta. Embora de vez em quando caia uma chuva pra refrescar a mente, e mostrar que nada é tão importante quanto parece, e que só importa achar um abrigo pra não se molhar, ou aproveitar a chuva se for favorável; a maioria dos dias é vivida automaticamente, ouve e não escuta, olha e não vê, toca e não sente. E chega a casa, lava louça, limpa casa, faz comida, janta dia sim outros não. Deita e dorme e acorda como se fosse ontem e tudo se repete como se fosse fácil, mas às vezes pensa como se fosse possível e sonha como se fosse verdade.
E olhava tudo com admiração e espanto, o menor gesto, a palavra mais insignificante para si eram imprescindíveis, imensidões. As coisas, as pessoas eram tanto mistério que buscava compreender muitas vezes simplificando, subestimando, pra em seguida se maravilhar ou assustar, conforme os acontecimentos. E era assim que enxergava o mundo através dos seus olhos bonitos, profundos e meio estrábicos como lhe disseram certa vez e acreditou, mesmo sem saber o significado da palavra.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
derramar
Ela: você me viu com meu novo namorado? Ele: Não, não pude guardar na memória a imagem dos dois naquele dia. Ela: Por que? Ele: Quando os vi, me transformei em estátua de gelo, imediatamente uma tempestade de água caiu sobre mim, desmanchei, derramei, d-existir.
PS:inicialmente pensei no micro diálogo com Ele de namorada nova, mas desconfiei que na maioria das tragédias romantico-poéticas a personagem que sofre é feminina, então inverti as falas. rs
terça-feira, 1 de setembro de 2009
tulipas e pipocas
estende o braço e verás que ao longe o fogo se equilibra entre duas montanhas a tua volta, as aves cantam
acordei e dei-me conta que voltei a fazer coisas com significado e voltei a perder-me / de mim
precisamente o que não tem significado é o que tem sentido
Escrevemos todos nós no espelho a refletir cenas, romances e asas. Ainda que eu escreva da gaiola a declamar céu azul, daqui não voo, mas minhas letras levitam plenas, já que não sei aprisionar sentimentos.
"Minha liberdade é escrever. A palavra escrita é meu domínio sobre o mundo."
Clarice Lispector
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." Clarice Lispector
"...Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Uso a palavra para compor meus silêncios..." Manoel de Barros
"Eu nunca poderia ser feliz sem meu pouco trágica. Eu nunca posso estar satisfeita sem meu pouco idealista e eu nunca poderei ser mulher porque ainda falta pouco, muito pouco, mas eu sei que sempre faltará. Me completo de poucos, mas sigo esperando demais de tudo. Comida para cada um desses poucos que são buracos na minha alma. "
Tati Bernadi in:
http://www.tatibernardi.com.br/artigos.php?y=2002
"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto mas o que eu digo. Sinto quem sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábios - na língua principalmente-, na superfície dos braços e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer."
“Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e - por ser um campo virgem - está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que eu não sei é que constitui a minha verdade”