quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

sobre o que nos sacia

Meu amor se alimenta

Meu amor se alimenta de esperas,
esta noite ela vem ou não?
O futuro não existe
e torna tudo possível.
Teus lábios na minha orelha
sussurram a página zero
de um livro a ser escrito.
Um livro de areia
à espera de uma onda
de um vendaval,
de um final.
Certamente imprevisível
no oráculo ilógico do acaso.
Mas o meu amor permanece
impassível, inventando passatempos
esperando latente
espumante alvorecer.

Leandro Wirz nos alimentando com a sua poesia...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

dialeto

Ando sem inspiração, não consigo escrever um A, se bem que meus rabiscos tem muito mais a ver com ais, mesmo assim. Não sei se algumas esperanças quebradas em pedaços que não se colam; não sei se algumas lágrimas viraram cristais e não escorrem mais dos olhos, só sei que não me traduzo esses dias. Nada me transborda, tudo falta, as palavras não sobram. Então isso aqui é uma tentativa de encontrar a coragem de continuar me lendo, me compreendendo nem que seja na linguagem dos sinais. Nesse instante estou com o indicador sobre os lábios. Silêncio.

há uns dias atrás, foi escrito


De novo eu me enganei, quando eu penso que não me surpreendo mais com a capacidade humana de decepcionar, eu novamente sou surpreendida como jamais imaginei. O lado bom nisso é que eu sei que a minha capacidade de me surpreender não tem limites, por outro lado a de me decepcionarem também não. Espero que minha compaixão e compreensão também sejam infinitas.
à propósito:
Um pouco de dislexia
.
Desculpe.
Eu não entendo,
eu sinto.
Muito.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.
Martha Medeiros aqui

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

carnaval

Ia dizer apenas, hora de guardar as fantasias; mas prossigo. E a gente consegue? Não fantasiar, não imaginar? Talvez nem tenha graça. Descobri que ainda não sei quando me dizem a verdade, e tantos anos pensando que estava aprendendo. A dúvida é se realmente a verdade é absoluta, ou se tem mais a ver com o que já esperamos. Pelo jeito o carnaval passou e a confusão continua. E vou me divertindo no Bloco do Eu sozinho, assim mesmo, com trocadilho.


trilha : todo carnaval tem seu fim-Los Hermanos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Orgulho

Não olho, não olha
não diz, não digo
não se importa
não imploro

Insensível eu
impassível tu
E a poesia
que poderia
não ter fim
acaba
in-
diferente

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

(f)calar
as pessoas parecem não saber certas vezes que aquilo que se diz, nunca volta ao minuto anterior ao não dito, é pra sempre. e se as palavras são daquelas que magoam, é inevitável. e se depois você voltar a si e ver que não era nada daquilo que queria dizer, já foi. que diante da cena de hoje, meu Deus, eu perceba antes de dizer algo com essas intenções que vale a pena lembrar que nós também não queremos ouvir tudo, e certas palavras também nos ferem. é melhor escolher o silêncio eu penso, vez em quando; porque a nossa raiva pode ser bem mais passageira do que a mágoa daqueles que amamos. e o nosso arrependimento pode não ter fim.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Olha o que eu trouxe da segunda visita A Casa de Rubens Alves :

"No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta."

Cecília Meireles

ainda encontrei isto noutro cantinho, vá e percorra todos os cantos desse lugar encantador!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espécie de d. quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dom de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa!
Florbela Espanca

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Colo

Distrito Federal. Taguatinga. Centro. Duas da tarde. Sol a pino e calor de rachar. A hora da fadiga. Faço parte do pequeno grupo que espera o sinal fechar, para poder atravessar a rua com segurança. Atrás de mim uma jovem mãe segura o braço de um garotinho junto com outra senhora. Imagino que aquela era a vontade de todos nós ali, mas ouço apenas o garotinho, do alto de seu desejo e inocência, pedir colo à mãe; ao que ela responde muito brava que caso ele insista lhe dará umas boas chineladas; a senhora que provavelmente era a avó, comovida com o pedido do menino, resolveu consolá-lo: “você é homem e homem anda, anda é com as próprias pernas” dizia com voz terna; mas também não o colocou nos braços. Eu olhei pra trás pra ver a cena, olhei o rosto do garotinho, uma carinha de cansaço e agora resignação. Me enchi de ternura. Pensei cá com meus botões: Que vida a nossa, aos três anos de idade já não nos é permitido esmorecer. O sinal abriu e todos nós continuamos a andar.