sábado, 19 de dezembro de 2009

triz

TUDO QUE SOMOS

Tudo que somos,
pouco sabemos.

Um poço imenso,
cheio de sonhos.

Quando choramos,
não nos perdemos.

Viver é um sonho,
Não esqueçamos.

Viver é a sombra,
o assombro, o apenas.

/ Tão frágeis somos!
Frágeis e imensos.
Antonio Brasileiro
Eu confesso antes de mais nada, que este post é só um pretexto pra publicar mais um poema de Antonio Brasileiro aqui, tudo bem que o blog até onde consta é meu e podia fazer se o quisesse sem justificativas, mas essa é outra mania, além dessa que estão vendo, a de ser compulsiva. Se algo me agrada, eu não me contenho com pouco, se é uma caixa de bombons, como até o último antes do tempo razoável, se é um blog novo, leio do primeiro post até o último, se é uma banda, quero conhecer todas as músicas em um dia e por aí vai, os mais absurdos exemplos (não pensem besteiras demais). Realmente é difícil hoje em dia ser equilibrado, moderado, ter bom senso e coisas assim. Tudo é muito, tudo é atraente aos sentidos, tudo nos conquista sem medidas, e olha que sou conhecida pela minha tranquilidade, calma aparente pelo jeito. No fundo a ansiedade me consome, e quero esgotar até o último assunto, quero ver até o fundo do olho, quero gastar até a última gota de afeto, quero sentir até o fim dos carinhos possíveis, quero amar até o infinito, porque amor que é amor, pra mim não tem fim. Eu me deprimo com o fim dos romances meteóricos das celebridades ou dos vizinhos da minha prima, pois é; talvez ninguém soubesse disso até agora, mas eu admito, eu sou demasiadamente incontrolável até voltar a mim.

bis

A ESPUMA DAS COISAS

A grande ilusão do insustentável.
O lama e os não-desejos.
A imensidão de um cosmos de brinquedo.
O estrelejar do hoje versus
o princípio. Ou o
precipício.

Sossega, peito meu, és só a espuma
das coisas vãs gozadas uma a uma.
Antonio Brasileiro

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

NUANÇA

Meus caminhos, meus mapas,
meus caminhos.

Tudo está em ordem
em minha vida.

Como se faltasse
alguma coisa.

(Que achado, santo google rs. Da citação do post anterior veio a vontade de conhecer quem era o autor da frase, e que boa surpresa, confira! Pelo nome já era de se imaginar...)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Continuação
"Lembro-me antigamente do futuro." Dante Milano

Aniversário. Idade. Tempo. Inevitáveis reflexões. As últimas registradas foram há uns cinco ou quatro anos atrás, numa das antigas agendas porta-tudo. E hoje e aqui de novo fazendo algumas das mesmas perguntas, ou mesmo tentando formular as questões corretas. Acho que a minha frase de apresentação do perfil pra este espaço, colocada aqui como algo temporário para ser substituído por algo mais consistente ainda esta valendo, o que permanece é a inconstância, o movimento, as incertezas, os desafios. E mesmo que aqueles mesmos princípios essenciais que me constituem nunca desapareçam por completo, as experiências e o conhecimento das coisas e dos fatos vão lapidando ou dilapidando, quem sabe, alguns deles. E ainda permaneço a mesma embora mude constantemente. Ainda vejo uma menina que se assombra com este mundo incompreensível, e ora ou outra eu sou aquela mulher que eu via no meu futuro, mas diferente do que eu pensei que seria, que faria. Ainda assim não me desconheço, eu sou íntima de mim, me reconheço em cada gesto, pensamento, atitude. Admito que eu preciso deixar de olhar a vida, apenas daqui da minha janela, que talvez eu precise fazer algo que nunca pensei em fazer, conhecer os quatro cantos do mundo, morar em outro lugar ou apenas plantar árvores, escrever livro, ter filhos e tudo aquilo que se espera de alguém como eu. Quem sabe assim, finalmente mude, cresça me despeça um pouco de mim, seja outra, me estranhe. Quem sabe isso seja necessário? Quem sabe falte mais coragem? Eu não. Sei. Eu busco saber, fazer, ser quem sou. As questões importantes eu vou formulando, respondendo enquanto existo, eu só sei escrever minha vida assim...

PS: E quem também além de Dante Milano já falou tudo sobre essa impermanência toda foi Antonio Brasileiro ao dizer:
"«Nenhum lugar é onde estamos./ A vida é para passar.»

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

bendizer

A vez

Era pra ontem
Ficou pra hoje
Deixa pra amanhã
Nunca será.

Eu sou superticiosa, pelo visto. Tava guardando esse poeminha do Leandro pra quando estivesse consciente dessa finitude de ciclo ou dessa impossibilidade concreta. Mas hoje vou fazer o contrário vou dizer os versos como uma oração, uma reza, como os dizeres das benzedeiras ao expulsarem minhas febres infantis, lá no interior onde eu cresci, onde ainda se cura pela fé. Minha mãe me mandava ir a casa da benzedeira sozinha, porque não "se davam", ou seja, era quase uma inimizade; mas pelo jeito ela acreditava nela porque me enviava a casa da boa senhora; e lá ela arrancava algumas plantinhas, umas cheirosas, escolhidas; não podiam ser qualquer uma não e enquanto dava umas varridinhas na minha cabeça com o ramo de plantas dizia ao me benzer* algo como: ..."levai essa febre pra águas do mar sagrado..." eu só arregalava bem os olhos para aquele mistério que eu não comprendia, cheia de respeito e admiração e depois corria pra casa, certa de que logo, logo estaria saudável novamente. Acho que eu guardei esse trecho da reza porque já me atraia a beleza das palavras, da língua; e estes dizeres não lembram uns versos de algum poema por aí?
Mas é isso, quero falar de uma coisa, e acabo escrevendo sobre outra. O que penso que há de comum entre a intenção e o feito, é essa vontade de que passe o que deve passar, que acabe o que tem de acabar. E que tudo de mal, triste, tudo que pese, que me leve um pouco da vivacidade "vá para as águas do mar sagrado." e não retorne, eu quero conhecer outros mares, mergulhar noutras águas, mesmo finitas, mesmo rasas, mas que me tragam toda alegria e bem -estar que eu preciso.
*ben.zer: deitar a benção a; tornar bendito; abençoar. (Que palavra linda hein?)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

abobrinhaz

Os melhores e os piores momentos da semana, como se eu lembrasse ao menos o que jantei segunda, fato; não lembro, mas eu lembro que adorei Julie & Julia, lindo e todos os outros adjetivos, mais que recomendo. Não sei se foi essa semana que assisti ao filme, creio que tenha sido no domingo, e este é o primeiro dia da semana certo?
Os dias voam como sempre depois de junho e me levam sem me dar conta das coisas, então a memória falha mesmo, como diz Clarice Lispector num de seus twitter’s: “ O cotidiano é que me mata. Eu só queria exceções”. Então no frigir dos ovos, a semana foi boa, tudo relativamente tranquilo e normal, com excesso de chuva e frio. E hoje jantando em frente à TV, esse maravilhoso hábito moderno, não pude me conter ao ver novela, a Aline Morais ta maltratando a gente. Chega a ser deprimente, eu comendo miojo assistindo novela e ainda com lágrimas nos olhos que não eram da cebola, nem queiram imaginar a cena; mas é bom mesmo não dá muita bola pros nossos próprios dramas, afinal o que seriam dos folhetins globais sem nós?
Por que se emocionar com as tragédias da vida real se nós temos a TV, né? Como justificativa e álibi para essa nossa insensibilidade/sensibilidade invertida eu invoco outro grande bastante twittado, se é que existe a palavra. Guimarães Rosa: “A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz”.
Tudo bem, mesmo que não tenha justificado nada, eu queria colocar essa frase perfeita aqui, e terminar essas linhas com algo que valha a pena, afinal já chega de abobrinha.

domingo, 6 de dezembro de 2009

eu não resisto

Instabilidade

Súbito em pleno vôo
saco a caneta escrita fina
e como se fosse estilete
faço inventário das palavras.
Eu não leio livros pelas histórias.
Garimpo frases pepitas
perdidas, vagalumes, as tais
agulhas em palheiros.
Penso muito mais veloz
do que escrevo,
correnteza de rio sem margens,
o presente nunca nos basta.
Há uma imperiosa necessidade,
compulsiva, de não perder.
De não te perder.
Mas já foi.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

a chuva


Sabe aquela chuvinha a noite, sem raios e trovões, aquela chuva fina mas constante, que traz aquele friozinho agradável, e mesmo assim você está em casa, com cobertores à mão, se sente seguro e aquecido? E Sabe que todos os seus, as pessoas que ama, também estão bem*, e você olha pela janela, as casas ao longe iluminadas os faróis trêmulos de alguns carros, e aparentemente tudo está bem sob aquela chuva, nada de mal acontece nessa hora, você se sente bem, nada lhe falta; uma sensação egoísta, mas compreensível?
Já falei aqui de como me encanta esse mistério sagrado que é a chuva, a maneira da Natureza nos mostrar nossa pequenez e importância, debaixo da chuva nada é mais importante que estar abrigado e protegido, mesmo que um banho seja algo agradável e comumente fazer parte das melhores lembranças infantis, não se pode viver embaixo de água, nós precisamos de sol e calor também. Nada nos iguala mais que a chuva. Nessas horas, nos foge a ansiedade cotidiana, essa sensação de incompletude, de que temos de ter, temos de ser mais.
O ontem e o amanhã se fundem apenas no agora, você plenamente vive, sua consciência do mundo se conforma ao espaço tempo em que você se encontra, e as preocupações se dissipam momentaneamente, que seja. Vestimos-nos da nossa fragilidade e limitação e isso nos basta, diante da grandeza da vida. Apesar dessa compreensão nos sentimos mais plenos que todas as horas, nos invade um imenso senso de gratidão, e queremos dizer: Obrigada Deus, vivo.
Você não sabe? Precisa saber.
*Senhor, que todos realmente estejam, e não só os meus. Amém.

olá

Porque não gosto de ficar muito tempo sem dar sinais e pistas de como tudo se passa ou passou, deixo aqui mais um de Alice Ruiz, acho que sou obssessiva, tenho selecionados muitos mais dela, Leandro Wirz entre outros pra ir postando aqui entre uma e outra versão própria, porque só a gente não se basta, né mesmo?

Expectativas

tudo começa
do mesmo jeito
diferente


o que se quebra
pesa mais
do que o sonho leva

como se o dia
não passasse
dessa noite


Alice Ruiz
PS: nada a ver com a poesia perfeita de Alice, mas no planalto central o momento também é de expectativas e revolta, como vocês devem estar acompanhando, o governador (vergonhosamente ainda deve ser chamado assim) abriu a caixa de pandora, literalmente.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"mais vasto é meu coração"

Não dá pra esperar que a inspiração venha, tenho urgência. Tenho que me deslocar dessa pasmaceira para outra quietude. De repente me chega esse ânimo e agarro com as duas mãos a vida que passa, corajosamente e sem expectativa a não ser a vontade pura de ser eu e fazer as coisas do meu jeito. Quando essa compreensão momentânea do que realmente importa nos assalta e tudo toma sua devida importância é que talvez consigamos chegar mais próximo da serenidade, porque não dá pra saber de outra forma o que isso quer dizer; não dá pra sentir, se estamos carregando tantos outros sentimentos densos. Eu confesso que faço essa interpretação a partir da minha preferência pelas sutilezas e por tudo quanto é delicado; aprecio os acontecimentos subjetivamente, mas isso não invalida minhas considerações e cada um pode refletir diferente, o mundo é vasto, já dizia Drummond.
a propósito:
"Sei lá. O melhor é não procurar muito. Tragam pacotinhos vazios. A paz deve estar lá dentro." Drummond-aqui

cenas do capítulo anterior


“A ingratidão é a pior coisa, Edu” (ou algo assim) dizia a personagem da Marieta Severo ao sobrinho, que era o Gianecchini numa das novelas do Manoel Carlos, e me doía aqui dentro, eu achava aquela fala tão verdadeira, tão intensa, era tanto sentimento ali, por isso ficou na memória afetiva, é uma frase que não esqueço como tantas outras coisas sem importância, mas que ficam na mente da gente, porque já é algo que estava guardado ali de outra forma. Não espero que as pessoas me beijem os pés por gratidão, ou tentem retribuir como pagamento de qualquer forma. O bonito é a gratidão verdadeira, que vêm do fundo da consciência do outro e que existe porque é autêntica e espontânea, embora tenha um fundamento. Talvez eu esteja analisando as coisas de um ponto de vista egoísta, mas ainda assim, eu espero um pouco mais de sensibilidade e compreensão. Ou talvez seja eu quem precise compreender e tenho me esforçado, eu tenho guardado até agora essa decepção só pra mim. Mas isso também não é bom, o melhor é que tudo se dissolva no ar, e eu não espere nada mais do que me trazem, e eu possa oferecer o meu entendimento e resignação; sem ressentimentos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Lua
Não é quando o dia amanhece em nova aurora,
a vida recomeça quando o sol cede seu lugar.
Esse é o sinal pra mim,
porque sou canhoto
e não destro,
porque sou verso
e não prosa,
canção e não matemática.
Sou guitarras e não armas,
porque sou emoção
e não lógica,
porque ando pelo lado mais vazio da calçada,
porque dirijo de faróis apagados na contramão.
Simplesmente porque sou
o final de semana
e não os dias úteis,
simplesmente porque sou
lua
e poderia ser só sua,
mas você não entende...
Leandro Wirz sabe tudo

sábado, 14 de novembro de 2009

music

Bonita essa música que escuto pelo rádio...

Me lembra o soneto da fidelidade de Vinícius de Morais...deve ter inspirado algum verso.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SEXTA FEIRA TREZE

Não é azar, é sorte. Deve ser como uma frase que li outro dia, atribuída a Clarice Lispector. É, deve ser isso, a gente é poupado das coisas que queremos muito, ainda bem. Porque eu olhava, olhava e abria bem os ouvidos pra enxergar essas coisas, e eu não via, nem ouvia o barulho que faziam. Enxergava apenas eu mesma, me dizendo coisas bonitas, arrumada e cheirosa, porque me perfumei com aquele perfume com nome de pomar. Eu saí e levei na bolsa nova, um tanto de imaginação e por que não dizer doces desvarios. Nunca aprendo que essas guloseimas na bolsa, derretem e sujam tudo, difícil limpar. E no fim, nem guloseimas, nem alegria, nem sentimentos bons. Mas não é porque as coisas não são como espero que desanimo; passado o aborrecimento, água e sabão na sujeira, tudo volta a ser como era, ou volta a ser como eu costumo vê-las, encantadoras e apaixonantes até os sentidos se abrirem momentaneamente de novo e a realidade se mostrar nítida e palpável como um aroma.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amigos do trabalho



Antes de vocês eu fazia distinção entre colegas de trabalho e amigos...



PS: ah, e um agradecimento
todo especial ao Miguel pela
participação na foto. :)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

identificação

Tenho vergonha de estender o braço
para chamar o táxi
tenho medo que ele me veja
tenho medo que ele me veja
e ainda assim
não pare.

Ana Cristina César
daqui

Eu me encontro na poesia da vida, sinto essa mesma vergonha ao estender o braço para o ônibus, mas nunca pensei que isso daria um poema, e quando encontro umas palavras tão lindas dessas sobre um sentimento tão pouco nobre (eu pensava) vejo porque nem todo mundo tem o dom de se expressar como poeta. É preciso muita sensibilidade e sobretudo coragem pra dizer sobre o indízivel, pra enxergar o invisível e pra olhar o trivial dos nossos dias e da nossa alma compaixão.
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Leminski (bom pra todas as horas, até aquelas em que a gente não sabe o que dizer)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

um pedaço do todo

parecem-lhes difíceis
confusas
palavras, muitas vezes,
amontoadas
desconexas
des
con
certantes...
têm razão
os pensamentos são assim:
fragmentos


Gauche

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano
Paulo Leminski


A propósito, eu confesso; idealizo, imagino, sonho. Ilusões enfeitam alguns cantos da vida e enfeiam outros tantos. E na maioria das vezes realmente as quimeras não sustentam a realidade, mas nem sempre o castelo desmorona; é possível construir novos abrigos, mesmo temporários. O importante é saber que tudo não passa de possibilidades. É preciso agüentar a queda das nuvens usando o que sirva pra suavizar o baque. Embora ao chegar ao chão, esqueça muito rápido o quanto era bom estar nos ares, estou sempre pronta para o próximo vôo*.

* voo segundo o novo acordo ortográfico, mas tirar o acento dessa palavra é tirar as asas, ninguém voa sem asas. Fica assim até eu acostumar. :P

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

por falta de termo mais adequado


Não é que eu queira fazer uma ode a indiferença mas ser solenemente ignorada pouco depois de ser estupidamente desconsiderada não é muito comum nas circunstâncias ocorridas. E aliás nem todo mundo se sente, nem todo mundo leva em conta. Mas pra registrar a afronta, e recordar, pois nem toda lembrança precisa ser boa, dessa vertigem que me deu ao lembrar o que aconteceu. Um arrepio na espinha, com jeito de repulsa, horror sem o medo; foi a primeira vez que senti por motivo tal. Feito aquela primeira vez, certa feita, que a comida não desceu, foi um desgosto e não sabia que também acontecia sem falta de fome. Pois sim, como todas as decepções a mente trata de esquecer, mas eu não; eu quero saber que um dia me furtaram a euforia por umas horas, e eu quis viver o significado, fosse dor ou qualquer outro bocado de realidade, provar que nem tudo se acaba ali, que nem tudo é isso aqui, conseguir passar, e voltar aqui outro dia quem sabe, porque na memória do meu sentimento já não consta...

favoritos desde já

Memória de náufrago

Um dia eu vi o mar
nos teus olhos ateus
e as ondas acorrentadas
ao sopro de Deus
e vi o infinito me olhar
aflito
e vi a paz
a pureza
o destino
a certeza
então teu mar
de olhos infindos
tragou-me
de um beijo
e me fez pássaro
e se fez nuvem
e morremos
de amor
nos cílios do tempo.

Clarrissa Yemisi em http://miolodepote.wordpress.com/

PS: não consegui escolher uma dentre tantas coisas lindas escritas por esta moça, para apresentar aqui, afinal escolhi este poema porque me fez lembrar um segredo parecido, muito lindo. Estou ainda perplexa com tanta perfeição na sua poesia. Merece muitas visitas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O outro lado

Eu sei que é difícil ver um lado bom em levar um banho de água suja enquanto se aguarda seu bus na parada já há longos quarenta minutos, debaixo de uma chuva no fim de um dia de trabalho mas...tudo bem também ainda não vi o lado bom disso; mas o fato é que se eu tivesse me deixado levar pela raiva e pelo mau humor certamente não teria reparado alguns minutos depois a seguinte cena: tentando se equilibrar entre os buracos da pequena descida de terra próxima a parada, vinha um senhor agarrado ao braço de uma senhora, apressados por causa da chuva fina, mas persistente. Até ai tudo bem, um casal de velhinhos tentando chegar à parada de ônibus.
O que me chamou atenção foi a distinção e a postura dos dois, o homem que andava com dificuldade e em certo momento desiquilibrou-se mas não caiu por estar amparado nela. Ele mais parecia aqueles velhinhos típicos do interior, chapelão na cabeça, camisa de mangas compridas amarela, calça social marrom, parecia mais velho que ela, que não lembrava em nada as vovós do interior com seus vestidões muito simples. Andava com determinação, vinha de calça jeans e regata branca, com uma sandália rasteirinha vermelha; quando chegou mais perto percebi que as maças do rosto estavam muito rosadas, marcadas pelo blush rosa como os círculos rosados do rosto de bonecas infantis, e mesmo assim não destoavam dos óculos que usava, a maquiagem parecia muito dela, muito apropriada, não estava em desarmonia com o estilo moderno.
Ao chegarem, tratou de acomodar o companheiro na pontinha do banco (pai ou marido não sei) e permaneceu de pé ao seu lado, cinco minutos depois ao passar o ônibus que esperavam, 0 segurou novamente pelo braço e o ajudou a subir os degraus e lá dentro a sentar-se e novamente permaneceu de pé, mesmo tendo assentos vazios; muito cuidadosa e resignada, como se fosse incansável. O silêncio entre eles deixava ainda mais a mostra nas atitudes, o vínculo que existia ali. Logo percebi que não se tratava de tempo e velhice o que eu acabara de presenciar, mas de coragem e força; de vida. Tratava-se da grandeza que pode existir mesmo na fragilidade e na fraqueza. E por um bom tempo eu fiquei pensando no futuro como algo bonito e bem maior que a mediocridade e a mesquinhez de alguns.

domingo, 18 de outubro de 2009

um amor para cuidar


Quando estou com vocês aprendo mais sobre amar.












Retrato oficial -2oo6

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

de onde você vem?

O que tem de bom pra hoje. Um pingo de sutileza nas pontas dos dedos. Quer dizer foi ontem, hoje foi um alegre riso agridoce. Tem música pra esquecer um pouco a vontade de lamentar. Tem céu muito azul depois de chover. Tem vento nos cabelos e olhar de flerte. Aquele entusiasmo que move e faz a respiração mais profunda, ergue a cabeça e alinha a coluna. Tudo que faz a gente continuar e seguir; é muita coisa e olha que nem falei do que está guardado, do essencial. E ainda tem Leminski ensinando:

LAMENTE
UMA
VEZ.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

demasiadamente humano

Vendo que havia na terra
despendimentos demais
e tarefas muitas -
Os homens começaram a roer as unhas.
Manoel de Barros (daqui)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Despeito

E dizia:
_Não me importo!
_Tô nem aí!
_Não sinto nada!
Depois enxugou as lágrimas inexistentes, com lenços descartáveis.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

sem rascunhos*

sim, porque tanto aqui como na vida tento alternar um pouco de melancolia com um pouco de alegria, tá certo que se eu não me policio sobra a primeira, mesmo assim eu me esforço e tiro do fundo da memória ou do momento mais fresco um novo olhar para a vida e para eu mesma. Eu me alegro na palavra de amor vinda de quem realmente se importa comigo e que nem sempre lembro disso. Eu me comovo com a colega mais distante demonstrando que de onde menos esperamos pode vir o carinho, a amizade, a gentileza. Li num livro desses de auto-ajuda, que aliás ficam no fim das minhas preferências literárias que a gente pode educar nosso pensamento e sermos mais otimististas em relação a vida, e acredito mesmo nisso, desde então; porque eu acredito mesmo só no que eu quero, isso todos fazemos. A gente só percebe aquilo que quer ou deseja, isso é outra coisa que acredito, desde que ouvi uma certa cantora dizer isso numa entrevista na tv. Ainda bem que amanhã eu posso acreditar em outras coisas e pensar diferente, ainda bem que amanhã eu posso estar muito feliz sem ter que me esforçar pra isso, porque o mundo gira e a mudança é o que é certeza. Ultimamente tudo, absolutamente tudo, me afeta intensamente, parece que eu estou no mundo há poucos dias e tudo é absolutamente novo, surpreendentemente maravilhoso ou ruim; e não é que eu esteja nos extremos, é que a realidade se apresenta extraordinária para mim; mas tenho vivido toda essa saturação com entusiasmo ou mesmo com uma euforia interna, que só eu sei, que só eu sinto. Por isso também tenho tentado mais vezes extravasar um pouco nessas linhas imprecisas, confusas, e não pode ser diferente, eu também ainda to descobrindo do que se trata, mas mesmo que eu não descubra não vou ter perdido um momento sequer, seja de tristeza, seja de felicidade, seja o que for, seja o que eu for, serei eu. Viva!

à propósito:
“Tentar levantar às seis horas. Variar as emoções”.
“Apaixonar-se por sua própria inquietação”.
André Gide (daqui)

*mas com uma revisãozinha que ninguém é perfeito.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

tempestades e copo d`água

Que este texto seja como um choro e cada palavra uma lágrima que vá lavando, vá levando aquela dorzinha, aquela tristezinha cotidiana, acumulada das pequenas coisas, principalmente daquelas que a gente não queria ouvir e ouviu, não queria ver e viu, não queria nem saber e soube, não queria dizer e fez, não queria nem pensar e sentiu. Aquelas, sim que não são problema de ninguém e comparadas, ahh nem seriam consideradas, mas sim; agridem, magoam, entristecem e machucam um pouco. Porque a gente tenta sustentar o riso, o bom humor, o amor. A gente tenta entender, esquecer, perdoar; mas a gente é fraco, e mais dia menos dia tiramos a armadura só por um instante, pra limpar, pra arejar; certos de que ninguém nos atingirá enquanto isso. E nos enganamos, somos surpreendidos e por isso não sabemos como reagir. E a gente se veste de novo, se ergue num susto e se prepara pra luta que pensávamos ter nos dado trégua. A gente não tem tempo pra curar os arranhões, eles vão cicatrizando junto com a nossa sensibilidade, e quando pensamos que estamos inatingíveis é então que somos vulneráveis e a vida segue...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

curtas

O mundo anda tão sem feitio
que ando achando o cúmulo da gentileza
alguém fechar a janela do ônibus
quando percebe que estou com frio.
#
O impossível
traz o possível
no seu cerne.
#
Me revelo,
me entrego
nas palavras,
mas continuo
a ser minha.

domingo, 27 de setembro de 2009

tomara

Amanhã

minuto a minuto
quis um dia
todo azul
no teu dia

meu querer
quero crer
azulou
teu dia a dia
tudo que podia

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Carpe diem

é que eu queria falar de uma sensação boa que sinto vez em quando, chegando em casa, perto da minha rua, que é meio ladeira, o sol ta assim mais amarelo, o céu bem azul, às vezes nuvens; ainda mais estes dias que tem chovido, aquele ar mais puro, parece até que a gente é só feliz. Sabe quando tudo parece estar bem, e só temos vontade de agradecer pela vida? Muito clichê, mas fazer o quê?
Então, essa música traz essa sensação boa, ouve aí e tenta...se não conseguir, a música vale por si só.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

retrato falho

Quem escreve se descreve.
Esse registro que faço
do meu olhar
pode dar um retrato
bem pintado
mas também,
um retrato falado.

Não é por nada não,
mas chegar ao fundo
do ser de alguém;
que graça tem?

O que me alivia
é saber:
nem sempre quem lê
interpreta,
e posso continuar,
ao menos um pouco,
secreta.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

filosofia barata

Adverso

Se não me engano, o Thiago escreveu em algum lugar e eu li: ”o antônimo também faz parte do significado de uma palavra.” Sim, o oposto de algo, o contrário também é este algo. Não deve ser à toa que teorias sobre a dualidade dos seres e das coisas abundam desde sempre. Mas é quando essa separação ocorre dentro de mim, que faz mais sentido, que me ocupa o pensamento. É quando faço algo que não quero, ou o contrário, deixo de fazer algo que desejo; que meu ser parece está em partes, em lados opostos no mesmo campo de batalha. É muito difícil a serenidade, pra entender que o que me parece diverso também sou eu. Que a incoerência me compõe também. Tomar partido de mim mesmo, sabendo que tenho que discordar por outro lado, também de mim. Tudo muito paradoxal e complexo. E ao mesmo tempo tão incompreensível quanto simples. Penso que me conheço a vida toda, e de repente me estranho. Deve ser porque vivo sempre na superfície da vida e quando vez em quando sou obrigado a olhar o fundo e a imensidão sob mim, me assusto um pouco. E me olho como se nunca tivesse me visto. E fico em dúvida pra responder a pergunta que me faço: Quem és tu e o que desejas?
PS: achei, onde li o comentário do Thiago

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

Murilo Mendes
Poeta mineiro de Juiz de Fora, nasceu em 1901 e faleceu em Lisboa em 1975.

copiado integralmente daqui.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

círculo

09/09/09

Acorda, corre e vai e trabalha, ouve, ouve, e conversa, e trabalha e cansa. Escurece e volta. Embora de vez em quando caia uma chuva pra refrescar a mente, e mostrar que nada é tão importante quanto parece, e que só importa achar um abrigo pra não se molhar, ou aproveitar a chuva se for favorável; a maioria dos dias é vivida automaticamente, ouve e não escuta, olha e não vê, toca e não sente. E chega a casa, lava louça, limpa casa, faz comida, janta dia sim outros não. Deita e dorme e acorda como se fosse ontem e tudo se repete como se fosse fácil, mas às vezes pensa como se fosse possível e sonha como se fosse verdade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

retrato recortado

O olhar
E olhava tudo com admiração e espanto, o menor gesto, a palavra mais insignificante para si eram imprescindíveis, imensidões. As coisas, as pessoas eram tanto mistério que buscava compreender muitas vezes simplificando, subestimando, pra em seguida se maravilhar ou assustar, conforme os acontecimentos. E era assim que enxergava o mundo através dos seus olhos bonitos, profundos e meio estrábicos como lhe disseram certa vez e acreditou, mesmo sem saber o significado da palavra.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

derramar

Ela: você me viu com meu novo namorado?
Ele: Não, não pude guardar na memória a imagem dos dois naquele dia.
Ela: Por que?
Ele: Quando os vi, me transformei em estátua de gelo, imediatamente uma tempestade de água caiu sobre mim, desmanchei, derramei, d-existir.

PS:inicialmente pensei no micro diálogo com Ele de namorada nova, mas desconfiei que na maioria das tragédias romantico-poéticas a personagem que sofre é feminina, então inverti as falas. rs

terça-feira, 1 de setembro de 2009

tulipas e pipocas

estende o braço e verás que ao longe
o fogo se equilibra entre duas montanhas
a tua volta, as aves cantam

acordei e dei-me conta que voltei
a fazer coisas com significado
e voltei a perder-me
/ de mim

precisamente o que não tem significado
é o que tem sentido

sábado, 29 de agosto de 2009

inteireza

Para ser grande, sê inteiro:nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis, 14-2-1933

olha aí o que andei achando nos meus arquivos esquecidos no pc, as coisas que guardei ainda me agradam...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

pobre rima, pobre sina

Eu dizia:
Meu dia só clareava quando te via
E você sorria; só ria.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

semântica

"No mal- entendido da linguagem nos tornamos humanos e amamos. Na palavra uma amizade se dissolve, um amor acaba, a história muda, a ciência se sustenta. Esquecemos de zelar pela palavra, que é coisa frágil e firme, líquida e consistente, efêmera e eterna. Esquecemos que a palavra é a nossa maior marca do paradoxo do desejo. Damos respostas rápidas no cotidiano, estraçalhamos a escritura do outro, acreditamos na totalidade do signo linguístico, criamos certezas ao redor de algo que é pura evanescência. A palavra não dá conta de quem somos, e nada que é mediado por ela é completo- é essa nossa angústia.

Precisamos reaprender a escutar o outro "além- palavra", escutar o silêncio da diferença. Nada mais fatal para o amor que a resposta rápida. Nada mais mortal para uma amizade que o julgamento precoce."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Inexorável

Sim.
Todos os poemas
são de amor.
Pela rima,
pelo ritmo,
pelo brilho
ou por alguém,
alguma coisa
que passava
na hora
em que a vida
virava palavra.
Alice Ruiz

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

amor tecer*
Eu entendi, eu me entendi. Realmente não posso fazer com que me olhem com meus olhos, que me ouçam com meus ouvidos e que me falem com meus desejos, pensamentos.
Eu sempre soube que é difícil se colocarem no meu lugar, porque eu já estou nele e não cabe outro, a não ser como generosidade e não como razão. No meu lugar não cabe mais matéria, mais julgamento, só cabe sentimentos que não tenham peso.
Tenho que me esforçar pra carregar o que já cansa o que já incomoda. Talvez por isso não consiga aliviar o outro um pouco, ajudar com sua carga. Eu não me orgulho desse egoísmo, ao contrário. Também queria ser para alguém uma delicadeza, um alívio, um agrado, poesia.
E é por isso que passo em instantes, do sentimento de despeito à compreensão e percebo que o outro sou eu e vice-versa. Me comovo ao perceber minhas fraquezas e defeitos em alguém que não sou eu. E sei que ninguém vai amar meu desamor, embora eu espere.
Mas perceber tudo isso não traz o que ainda falta; só me responsabiliza, transformar a estima por mim mesma em amor para alguém que "não eu".

*suavizar
imagem: fragmentos

terça-feira, 11 de agosto de 2009

fórmula

SEGUNDO CONSTA

O mundo acabando,
podem ficar tranquilos.
Acaba voltando
tudo aquilo.

Reconstruam tudo
segundo a planta dos meus versos.
Vento, eu disse como.
Nuvem, eu disse quando.
Sol, casa, rua,
reinos, ruínas, anos,
disse como éramos.

Amor, eu disse como.
E como era mesmo?

Paulo Leminski in: Distraídos Venceremos . Brasiliense. 2ª Ed. Curitiba 1987.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

vaidade


aula de modelo :p
a propósito, já disse Manuel Bandeira: A beleza, é em nós que ela existe.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Contexto criativo e verborragia

Normalmente quando me vem à mente um dos textos, microtextos que publico aqui, estou em trânsito. Hoje aconteceu algo engraçado. Já do ponto do ônibus embarquei numa viagem ao mundo imaginário. Normalmente preciso pegar dois bus para chegar ao trabalho; então estava eu no primeiro bus, distraída “avuando” na cadeira alta do fundão, escolhendo palavras, fazendo combinações na mente quando de repente voltei a mim num sobressalto, o ônibus parou por acaso na parada que eu devia descer e não tinha visto. Saí num susto do mundo da lua, e ainda atarantada desci. Eu que me encontro vez em quando na palavra escrita, dessa vez ia me perdendo literalmente, susto.

Foi mesmo atípico, normalmente penso em algo pra escrever e demoro alguns dias pra ter outra “inspiração”, a média é de uma a cada três ou mais dias. Hoje foram três pequenas narrativas que me vieram à mente, tudo que via me dava vontade de transformar em palavras, em história. Foi o senhor bonito quase correndo, de bengala na mão, tentando alcançar o ônibus que já saía, e o vento trouxe uma sacola plástica que se enroscou em suas pernas, e fez ele me ensinar que na velhice, agilidade e equilíbrio não se entendem. Foi o casalzinho adolescente dentro do ônibus que se abraçava entre brincadeiras deixando-nos em dúvida se era amizade ou amor também.

Mas por causa dessa rica experiência diária de usar o transporte público para ir trabalhar, no momento não pude imediatamente fazer isso, estava no busão lotado, e usando as duas mãos para tentar me equilibrar no corredor, já que não tive sorte de encontrar uma cadeira vazia; senão teria procurado uma caneta e papel na bolsa pra rabiscar, anotar, mesmo que obviamente não encontrasse, pois se eu encontrar uma caneta dentro da minha bolsa quando precisar, toda a lógica do mundo se inverteu.

Mas fiquei só na vontade de fazer como os escritores fazem quando lhes vêm a vontade, o desejo e aproveitam o que estiver à mão, um guardanapo, um saco de pão, um espaço onde lhe seja permitido gravar aquele recorte de vida que cintilou a realidade, aquele tantinho de poesia. E é isso que quero quando faço meus escritos, meus rabiscos; é guardar na memória, é registrar uma imagem, sensação, pensamento que naquele momento tomou conta de todos os meus sentidos, me ofuscou momentaneamente e me fez querer deixar disponível pra olhar de novo, sentir de novo quando eu quiser ou apenas lembrar. Essa ansiedade de escrita também me fez lembrar a mãe do poeta Fabrício Carpinejar, poetisa Maria Carpi (se não me engano) que conta o filho, usava até o próprio avental como suporte para seus versos, essas coisas formam cenas lindas na minha cabeça e me encantam. Olha que lindo:
"Queremos o desejo de estar sendo. Quando pequeno, meu pai me levava para a sinfonia das árvores em frente de casa, em noites cheias de vento. Ele levantava a cabeça para ouvir melhor. Ele levantava a cabeça ao escrever, não baixava como o normal. Enquanto ele anotava, eu ficava intrigado: será que meu pai está plagiando as árvores? Minha mãe não era diferente. Um dia eu a vi escrevendo no avental. Não achava folhas e assinou um longo poema no avental. Sabe o que significa a um menino chegando com bola debaixo do braço, fedido de mato, enxergar a mãe redigindo em um pano? Tudo. A escrita é linha de costura. Mas uma costura por dentro. Ninguém enxerga os pontos." in: http://www.carpinejar.blogger.com.br/2004_04_01_archive.html

Então é isso, queria dizer dessa sensação de cumplicidade com a vida, dessa felicidade que transborda das mínimas coisas, dos mínimos gestos, das delicadezas quase imperceptíveis, ando respirando uma felicidade tão vívida que me espanto, porque não está ligada a nada novo, a nenhum fato específico que não seja minha existência inteira, essa dádiva. E mesmo que me entristeçam às vezes, e mesmo que eu aborreça alguém às vezes; ainda assim o que me habita é incrivelmente melhor e mais fascinante; perdoa, supera.

Desculpe a incoerência, a falta de técnica. Mas prefiro o conteúdo à forma (desculpa esfarrapada de quem não sabe) e não quero deixar passar a oportunidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

quer um gole?

De novo. Estou inebriada. Tomei minha dose regular de realidade, na verdade duas, a segunda foi pensando que era água, e não era.
Andava precisando, sóbria de sonhos e imaginações. Andava tropeçando em alguma ilusão.
Agora sim, ébria andando na linha reta da vida com meus passos trôpegos.

sábado, 1 de agosto de 2009

Atenção

Atenção
essa vida contém cenas explícitas
de tédio
nos intervalos da emoção
quem não gostar
que conte outra
vire artista
e faça sua própria versão

aqui não tem
segunda sessão
Alice Ruiz
Foto: in julho de 2007, assistindo Uma mente brilhante, e a câmera que estava no sofá embaixo das almofadas, disparou sozinha registrando um recorte, a bagunça e um momento de um tempo atrás in my life. Olhando um cd de fotos que guardei, achei. Até as coisas esquecidas e já passadas nos compõe.

terça-feira, 28 de julho de 2009

in-constante

importuno, quando quero
irritante, sempre espero
mais apreço, mais abraço
de bem perto

mas num instante
deixo de querer
e me afasto, desisto
não me importo;
problema seu
e não nosso

domingo, 26 de julho de 2009

Ventura

Se por ventura, tivermos tempo, será na sexta.
Se por vontade, tivermos hora, será melhor.
Se por verdade, sentirmos desejo, nos tocaremos.
Se por virtude, formos justos, ficaremos juntos.
Se por vaidade, nos evitarmos, perderemos.
Se por vício, mentirmos, repetiremos o erro.
Se por veleidade, nos beijarmos, nos encontraremos.
Se por sorte nos acharmos, permaneceremos.
Se por acaso, tivermos chance, aproveitaremos.

PS: me lembrou o nome de um dos cd's dos Los Hermanos, Ventura também, esse poema combina muito com as músicas deles, leve, lindo e poético rs.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

tá explicado...


E o cardiologista me disse:
- Seu coração tem uma característica peculiar.
- !!!???...




segunda-feira, 20 de julho de 2009

metade

meio a meio
do que se reparte
amor
prazer
arte
é o que persiste
do que se divide
só o meio a meio
resta inteiro
o resto
não resiste
imagem: Chris Craymer -inda tinha essa que eu queria mostrar :)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

pra matar a saudade da terrinha

foto: presente do João

Que a poesia fale por nós. Além

O QUE QUER DIZER DIZ

O que quer dizer, diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

chamego

inda amando essas fotos da Chris Craymer
tudo bem parei... :/

domingo, 12 de julho de 2009

in-sensibilidade

Minha hipersensibilidade beira a implicância, e se parece muito com intolerância.
Me agride uma porta fechada com força, palavras ditas num tom muito alto, supetões e ímpetos descabidos.
Me dói invadirem meu espaço, minha privacidade, meus sentimentos guardados.
Sofro com gestos rudes, indelicados, com a brutalidade banal e cotidiana.
Me custa resignar-me às diferenças, às atitudes alheias, desprovidas de senso, de bom senso e generosidade.
Quase me torno indiferente pra suportar, me torno insensível pra sentir.
"De mais ninguém

Quando calei,
disse tudo o que quis.
Ninguém me ouviu,
como sempre.
E fui meu. "

quarta-feira, 8 de julho de 2009

pra suspirar

… sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Carlos Drummond de Andrade (viaquieamei)

A imagem? É aí : http://www.chriscraymer.com/romance/index.htm imagens lindíssimas. Ai, ai...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

com palavras

Da vontade de expressar essa alegria que me invade surgiu esse arremedo de texto, da vontade de dizer do entusiasmo de simplesmente sair, estar e ou chegar em casa, de estar no trabalho até mesmo carregando um pouco de cansaço, da ansiedade de estar cercada por gente, bonita ou triste, esquisita ou comum, diferente ou parecida comigo. Da vontade de provar cada pedaço, de sentir cada gosto, mesmo o gostinho amargo das coisas menos desejáveis, menos agradáveis. De ver, tocar, estar em cada tempo e espaço dessa minha vida; descoberta recente e não inédita de preciosidade e sabores. Da vontade de falar desse ponto de vista novo, alto e encantador de onde tenho olhado quase tudo em volta, de volta. Dessa vontade se fez esse trecho como um pedaço de gratidão que queria ser dito e foi.

terça-feira, 30 de junho de 2009

tenho fé na intertextualidade da poesia


Ave alegria

Ave alegria,
Cheia de graça,
o amor é contigo,
bendita é a risada
e a gargalhada!
Salve a justiça
e a liberdade!
Salve a verdade,
a delicadeza
e o pão sobre a mesa!
Abaixo a tristeza!
Ave alegria!

Sylvia Orthof

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Toda a felicidade do mundo pra Dani


pra guardar a data (dois de junho)
pra guardar o riso lindo, lindo
pra guardar esse amor muito, muito...

sábado, 27 de junho de 2009

não é bem assim como pensas

Parece que a gente quer é encher a boca pra dizer do sofrimento, parece um orgulho, e no fundo talvez haja algum, o de ter continuado apesar da falta de algo importante, o de ter conseguido superar, embora não se possa falar em superação quando o assunto é sentimento, ninguém supera, porque não deixa pra trás tudo, vem sempre um pouco nem que seja de outra forma, de outro jeito. Talvez quisesse dizer da sua sorte de nunca ter sido importante pra alguém, mas não pode porque mesmo que não admita não há como explorar a alma alheia, o coração de todos, e quem sabe, sabe-se, houve ou há alguém que lhe queira todo o bem, nem que seja amor próprio. É mais difícil conviver com a incerteza e a insegurança, com a possibilidade da perda ou a iminência do excesso que aprisiona do que com uma certeza dura, triste de nunca ter sido querido, porque permite justificativas, explicações; eu sou assim porque desconheço, porque nunca tive, daria direito a dizer. É muito mais difícil assumir mesmo a responsabilidade de ir construindo seus próprios afetos com o pouco que lhe foi permitido guardar, encontrar. É muito mais difícil gostar de si mesmo, sem buscar um motivo no outro.

o tempo

um
umaou vice-versa; alternados, contínuos e temos uma vida toda...

terça-feira, 23 de junho de 2009

...

Me contradigo? Tudo bem, então / me contradigo; / Sou vasto, contenho multidões.
Walt Whitman

domingo, 21 de junho de 2009


" A manhã apaga
As perguntas da noite
As coisas são claras
As coisas são sólidas
O mundo se explica só por existir
A memória dorme
O presente ri..."
Ferreira Gullar via

sábado, 20 de junho de 2009

smile



Eu falei com você e fiquei tão feliz que o sorriso não coube mais dentro da boca. Havia me esquecido como é não conter a própria alegria, que transborda indiferente à nossa vontade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

meus sentimentos?


Mais ou menos assim:
"Hoje estou bêbado de universo." Giuseppe Ungaretti
e mais:
Estou apaixonada por Vida e namorando o Mundo. Ele me deu flores e eu lhe dei um beijo.
Ana Aitak

sábado, 13 de junho de 2009

aspas com asterisco

Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo.
Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 12 de junho de 2009

o dia pede...

kisses for you...

kisses for all...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

não é

[O QUE ME DÓI NÃO É]

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.
Fernando Pessoa

quarta-feira, 10 de junho de 2009

poesia made in Brasília

Blogs divulgados no caderno Cultura do Correio Braziliense em 09/06/2009, a julgar pelos poemas publicados no jornal vale muito a pena visitar todos. Fui, uma passagem rápida ainda, mas já posso confirmar. Sente só o gostinho:

GANHOS

Pegue outro pequeno pedaço
do meu coração,
que diferença faz?
O que tive, perdi,
não tenho mais.
Você tem a chance de ser feliz,
não perca este instante.
Não hesite em vender a alma.
Mente quem diz
que temos todo o tempo.
Perca a calma,
perca-se por nós.

http://entreaberta.blogspot.com/de Patrícia Del Rey (vale asterisco nesse)

inté...

domingo, 7 de junho de 2009

a gente se traduz na poesia alheia (e na nossa)

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar in De Na Vertigem do Dia (1975-1980)

terça-feira, 2 de junho de 2009

secreto

O meu poema de hoje foi censurado pela timidez.
Ou talvez tenha sido apenas o sentimento que não quis ser publicado, quis ficar guardado como um segredo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

ler e escrever vida

O dia a dia, a correria me dá sensação de que não estou acompanhando o tempo, não estou aproveitando o tempo, queria ler os muitos livros da lista dos mais vendidos, os clássicos, os modernos, ou os achados e fica essa sensação de perda...E ainda pior que essa é aquela sensação, aquela ansiedade de vida, de estar deixando ela passar, e não estar atenta, sentir que estou deixando de viver, como se isso fosse possível. Então eu pensei que hoje estive lendo a vida, estive a contemplá-la, observando-a, provando-a como o pão com manteiga e pingado . Estive vendo a poesia viva, crua, in loco, sem preparo. Estive dentro de uma história cheia de personagens interessantes, na literatura mais trivial e nem por isso menos especial.
No bêbado que falava bem alto, tentando afrontar os seis policiais que tomavam o café na mesma padaria que nós, contando da sua filha "baroa", suas filhas lindas e da sua mulher que toma remédio controlado e que ninguém mexa com ela ou vai se ver com ele; a liberdade, a angústia, a solidão íntima. Na criança que pergunta ao policial cadê seu tio, que usa aquela roupa igual a dele, tem um óculos aqui (aponta o alto da cabeça) e que abraça ela quando a vê; a ternura, a inocência, a beleza de ser gente. Na atendente que ao vê meus olhos se demorarem no café com leite que havia preparado pra si mesma, o oferece a mim, desapegada e sorridente; a gentileza, a sutileza, a leveza, a generosidade. E o dia estava apenas começando.
Mas tarde a indignação; a injustiça no adulto que agride um menino, a dissimulação nos sorrisos falsos. A alegria no riso de alguém querido. Os mistérios da própria alma, da própria dúvida e a expectativa de ir logo pra página seguinte.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

mim

Eu me comovo quando encontro nas atitudes de agora traços da menina franzina que fui, porque me transporto há um tempo onde sou expectadora de mim com outros olhos, e sinto vontade de me botar no colo se fosse possível, mas aqui eu penso que foi melhor assim. Mesmo achando que não me apropriei da infância como devia, em alguns momentos em que me vestia com preocupações e pensamentos maiores que eu. Percebo meu esforço aperfeiçoado ao longo dos anos de conquistar risos alheios, e o mesmo espanto feliz diante de um sorriso recebido de graça. Então eu não sei qual parte de mim é passado ou presente.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

convincente

__Ele gosta mesmo de você?
__Não. Mas finge tão bem, que seria um absurdo eu não acreditar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

"I love you e etc"

Ela que gostava de mínimos detalhes, explicações minuciosas e insinuações vagas, da parte que fica vazia de sentido pra gente mesmo completar. Foi a frase perfeita de ouvir; uma afirmação e uma referência a alguma coisa não dita totalmente. Um começo e uma continuação, um espaço a ser explorado, um espaço de significados ou ações ou dos dois. Uma certeza e uma dúvida. Uma frase cheia da sua essência de contradições, avessos e versos, literalmente. Foi dessas falas que trazem em si a magia do secreto que é sabido, a magia do que está implícito, justamente porque pode ser qualquer coisa e também aquilo único que queremos ou imaginamos intimamente ou nada disso. E ficou a brincar em pensamentos com o tudo de etéreo que aquelas palavras sugeriam; poderia significar tudo e também poderia ser apenas i love you e etc.

imagem: http://weheartit.com/entry/573120

domingo, 17 de maio de 2009

E não é?

O AMOR DOS OUTROS

O amor dos outros
é indiferente.
Só o da gente é especial,
fosforescente,
brilha no escuro.

O amor dos outros
é tão pequeno,
nem vale a pena
pichar o muro.

Ninguém entende
o amor alheio;
não é bonito
e não é feio.
O amor dos outros
é tão efêmero!
Estão amando?
Fazendo gênero?

O amor dos outros
é muito pouco:
só o da gente,
direito ou torto,
alegre ou triste,
sereno ou louco,
lascivo ou puro,
céu ou inferno
— só o da gente
será eterno.

Olha pro rosto
do amor alheio:
são só dois olhos,
nariz no meio,
cadê a boca?
Olha pra cara
do amor da gente:
que coisa louca!

sábado, 16 de maio de 2009

transitório

sem saudade de você
sem saudade de mim
o passado passou enfim
Alice Ruiz
Vale a pena conhecer o blog da Ledusha S. tem muitos mais poesias lindas lá, inclusive dela como a que já publiquei antes, aqui.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Ó mundo, vamos dançar."
Alphonsus de Guimaraens Filho
de Taylor Swift.
Porque toda mulher gosta de contos de fadas, romances.. .Tudo bem, eu admito, eu achei esse clipe tão... tão...essa música tão... [suspiros]. Acho que ando assistindo novela demais.
PS: Não consegui postar o vídeo diretamente aqui.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Arte

Passei no mercado na volta do trabalho. Vontade de comer pêra. Seguia pra fila do caixa com as mãos cheias de frutas ,resolvi aproveitar que é a quarta verde*. De repente gritos de homem:
_Socorro! Socorro! Socorro!
Felizmente minha lentidão não vence o susto e não me paraliso a ponto de deixar cair tudo no chão, antes de ouvir e ver o autor dos berros :
_Geeeente alguém viu a Socorro?Acreditam que nao vi a Socorro hoje!!!??? (no mesmo tom)
Alguns risos nos cantos das bocas, algumas pessoas entreolham-se meio sem jeito (meu riso também foi tímido), mas todos se fazem de indiferentes ao reconhecerem o artista **conhecido por fazer esse tipo de brincadeiras nos mais diversos lugares e situações, e ninguém escancara um sorriso, ninguém dá uma boa gargalhada, ninguém aplaude a coragem de reverter a lógica da vida por alguns minutos, ninguém se permite ser feliz por "tão pouco".
E todos nós preferimos deixar a vida assim carrancuda, sisuda a torná-la mais descontraída por alguns instantes. Não temos tempo pra momentos de riso descompromissados e travessos.
A vida segue burocrática, paguei minhas compras e também segui.

* leia-se :frutas mais baratas; coisas que você aprende quando se torna dona de casa :há um dia específico com promoções de frutas e verduras no mercado próximo à sua casa.
** ator/comediante, não sei ao certo, mas é conhecido na cidade.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Desobediência

O namorado deixa a namorada no semáforo. Se despede e diz:
_Espera fechar.
Ele dá as costas.
Ela atravessa correndo, com sinal ainda vermelho.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

daquilo que contagia

Foi assim, início da manhã, hora mais apropriada pra continuar dormindo numa cama quentinha, e eu já no busão rumo ao trabalho, luto com toda minha indisposição e vou perguntar à única passageira além de mim se podia pedir ao motorista que desviasse o roteiro do bus um tiquinho pra me deixar mais próximo de meu destino, visto que já estávamos no fim da linha mesmo. Já preparada pra ouvir um não ríspido ou um muxoxo de sim, com visível má vontade de responder tanto quanto eu de perguntar.

Mas supreendetemente a moça me lança um sorriso, explica que não dá pois vai descer no fim da rua, me conta que tá vindo de uma cidade próxima, e que já morou ali, mas teve que vender a casa pois separou-se do marido, o que não foi boa coisa (vender a casa) já que o traste não sai do novo endereço, bêbado. Falei a ela que podia voltar, ela explicou de novo sobre a venda da casa, sem volta. E que estava indo a uma consulta no posto médico onde já tinha prontuário, não gostou da “saúde” na sua nova cidade.

Eu nem sabia o que responder diante da inesperada simpatia matinal confrontada com meu mau humor matutino; se há algo que me toca é amabilidade de uma pessoa que não me conhece e mesmo assim é amável e gentil; a empatia daquela moça desconhecida me desarmou, fui obrigada a largar o desânimo e a apatia de logo cedo, até fiquei sem jeito de me surpreender tão ranzinza, eu tão alegre, tão risonha. Pega em flagrante, antipática e desanimada diante de tanta vida, tanta aventura, tanta ânimo. Que vergonha! O ônibus seguiu, ela desceu, nos despedimos e eu levei comigo um pouco da alegria que ela me deixou sem eu pedir.

domingo, 10 de maio de 2009

about love

Você ainda é aquela que tem que subir em um banquinho...
Você ainda é aquela que se importa sem demonstrar...
Você é ainda aquela que fala o que é necessário...
Você é ainda aquela que o sorriso ganha o dia...
Você é ainda aquela que sabe aproveitar a vida...
Você é ainda àquela que tem o melhor abraço...
Você é ainda aquela que sempre estive a sonhar...
Você é ainda aquela que sempre irei odiar...
Você é ainda e sempre será parte do meu ser...
Você é...
E sempre...
Será...
Diogo de Brito my virtual friend todo inspirado, ai...ai... quem será musa?

sábado, 9 de maio de 2009

fazendo a diferença

Por aqui a gente adora quem é do contra com estilo e , especialmente com fofura:


todas as fotos aqui, via favoritos.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Literalmente

Entre o escritor e a vida,
há uma diferença.
A vida nos escreve
e não joga os rascunho fora.
Publica tudo.

Fabrício Carpinejar conhecendo e me apaixonando...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

imagem:http://weheartit.com/entry/168029
enCONTrO de dança
Era uma vez João e Teresa*. Não se conheciam, mas decidiram numa noite dessas ir ao mesmo lugar. E lá havia muito mais gente, talvez outros Joãos e outras Teresas, tantos que eles mesmos não se olharam direito no primeiro momento. E ambos riram, e dançaram e conversaram com outras pessoas. E mais tarde sentaram próximos um do outro, e se olharam desinteressadamente. Teresa pensou “deve ser um esnobe, metido” e achou que João pensou o mesmo dela; concluiu pelo jeito que a olhava e depois não pensou mais nada. Depois ela ouviu foi alguém lhe convidar pra dançar, era o João, ela riu e aceitou.

E dançaram, e ela achou que João dançava muito bem, e que por isso ela que não sabia dançar direito até parecia saber, aprendeu passos, giros, piruetas, e tudo de bom que é dançar um “dois-pra-lá-dois-pra-cá” bem dançado. Sentiu- se uma bailarina praticamente, e foi tão bom, tão divertido. João e Teresa não pensaram em mais nada além de aproveitar a música, o ritmo e a companhia. Não têm certeza se vão se encontrar de novo, apesar de terem pensado nisso; se encontrar pra dançar, vejam só?!

Agora Teresa pensa “será que o João quando lembra daquela noite, também ri sem querer, um riso só de alegria e saudade?”


*Geralmente não consigo dá nomes as personagens minhas, mas dessa vez, consegui colocar essa marca que as torna mais vivas.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

pra dizer tchau


Errata
onde lia-se desejo
leia-se despejo

não quero mais
essa vertigem de vogais
- tantos ais -
como se fossem consoantes

Ledusha

Postando poeminha de ruptura, eu estou evoluindo. Daqui a pouco despedir não vai doer tanto.

terça-feira, 28 de abril de 2009

amei

daqui ó, e tem muito mais coisas lindas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

aprendendo

por íncrivel que pareça aconteceu algo inédito ou está acontecendo, consegui me despedir de uma situação, abandonar velhos sentimentos, já imprestáveis, que trazia comigo pelo simples apego a algo, não havia lógica, nem razão. Apenas trazia comigo pelo medo de não saber lidar com o vazio que deixariam, e na verdade o que fica é espaço e possibilidade, na verdade não deve ficar, deve chegar, como o novo e surpreendente, mas bem vindo.

já basta de me agarrar a coisas e situações que me aprisionam, e me impedem mesmo de enxergar mais longe e de andar mais livre, mais leve. Acho que tudo é uma questão mesmo de receio, temer um pouco a sensação de não estar preso a nada, pensar que mesmo o que te prende te segura, no sentido de segurança; o que é paradoxal e esquisito. O que é redundante porque estou falando dessas nossas confunsões internas e tão humanamente esquisitas mesmo.
mas o caso é esse, por um momento no ínicio desse pequeno texto eu imaginei que consegui, só vejo agora aqui já pro final que não é bem assim, ficaram algumas quinquilharias, pequenas, quase sem importância que trouxe sem querer, mas pretendo devolvê-las ao passado de onde vieram o mais breve possível. Eu quero começar a guardar coisas novas, bem mais encantadoras e que tão logo comecem a perder o brilho e o encanto, eu me despeça delas também.

sábado, 25 de abril de 2009

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Jason Mraz



Alguém me traga um desses. Brigada...

a moment


E aquelas palavras que pareciam já serem sabidas adquiriram novos poderes ao serem ditas. Quando as escutou, pareceu que penetraram no seu corpo e ele se esvaziou, ficou leve como se pudesse flutuar e ir para um rumo indefinido, mas a sensação não era de liberdade e sim de estranhamento. E pareceu que as fotos que estava olhando ficaram invisíveis, porque não enxergava as imagens por mais que estivesse com os olhos fixos nelas, e já também não escutava direito, depois de ouvir aquelas palavras, lhe disseram outras coisas, sabia disso, eram vozes. Alguém lhe dizia algo, mas não compreendia, era numa língua desconhecida, indecifrável naquele momento, pelos seus sentidos.

Mas passou, alguns minutos depois, voltou a si, conseguiu ver e ouvir tudo novamente, estava ali, não tão firme, mas com os pés no chão. Ficou daquele momento apenas um pouco do vazio, porque também ficou um pouco de si naquele instante, voltou daquele espaço de tempo, incompleta, sentindo falta de algo que nem sabia o quê, só sabia que era importante.