terça-feira, 24 de novembro de 2009

"mais vasto é meu coração"

Não dá pra esperar que a inspiração venha, tenho urgência. Tenho que me deslocar dessa pasmaceira para outra quietude. De repente me chega esse ânimo e agarro com as duas mãos a vida que passa, corajosamente e sem expectativa a não ser a vontade pura de ser eu e fazer as coisas do meu jeito. Quando essa compreensão momentânea do que realmente importa nos assalta e tudo toma sua devida importância é que talvez consigamos chegar mais próximo da serenidade, porque não dá pra saber de outra forma o que isso quer dizer; não dá pra sentir, se estamos carregando tantos outros sentimentos densos. Eu confesso que faço essa interpretação a partir da minha preferência pelas sutilezas e por tudo quanto é delicado; aprecio os acontecimentos subjetivamente, mas isso não invalida minhas considerações e cada um pode refletir diferente, o mundo é vasto, já dizia Drummond.
a propósito:
"Sei lá. O melhor é não procurar muito. Tragam pacotinhos vazios. A paz deve estar lá dentro." Drummond-aqui

cenas do capítulo anterior


“A ingratidão é a pior coisa, Edu” (ou algo assim) dizia a personagem da Marieta Severo ao sobrinho, que era o Gianecchini numa das novelas do Manoel Carlos, e me doía aqui dentro, eu achava aquela fala tão verdadeira, tão intensa, era tanto sentimento ali, por isso ficou na memória afetiva, é uma frase que não esqueço como tantas outras coisas sem importância, mas que ficam na mente da gente, porque já é algo que estava guardado ali de outra forma. Não espero que as pessoas me beijem os pés por gratidão, ou tentem retribuir como pagamento de qualquer forma. O bonito é a gratidão verdadeira, que vêm do fundo da consciência do outro e que existe porque é autêntica e espontânea, embora tenha um fundamento. Talvez eu esteja analisando as coisas de um ponto de vista egoísta, mas ainda assim, eu espero um pouco mais de sensibilidade e compreensão. Ou talvez seja eu quem precise compreender e tenho me esforçado, eu tenho guardado até agora essa decepção só pra mim. Mas isso também não é bom, o melhor é que tudo se dissolva no ar, e eu não espere nada mais do que me trazem, e eu possa oferecer o meu entendimento e resignação; sem ressentimentos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Lua
Não é quando o dia amanhece em nova aurora,
a vida recomeça quando o sol cede seu lugar.
Esse é o sinal pra mim,
porque sou canhoto
e não destro,
porque sou verso
e não prosa,
canção e não matemática.
Sou guitarras e não armas,
porque sou emoção
e não lógica,
porque ando pelo lado mais vazio da calçada,
porque dirijo de faróis apagados na contramão.
Simplesmente porque sou
o final de semana
e não os dias úteis,
simplesmente porque sou
lua
e poderia ser só sua,
mas você não entende...
Leandro Wirz sabe tudo

sábado, 14 de novembro de 2009

music

Bonita essa música que escuto pelo rádio...

Me lembra o soneto da fidelidade de Vinícius de Morais...deve ter inspirado algum verso.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SEXTA FEIRA TREZE

Não é azar, é sorte. Deve ser como uma frase que li outro dia, atribuída a Clarice Lispector. É, deve ser isso, a gente é poupado das coisas que queremos muito, ainda bem. Porque eu olhava, olhava e abria bem os ouvidos pra enxergar essas coisas, e eu não via, nem ouvia o barulho que faziam. Enxergava apenas eu mesma, me dizendo coisas bonitas, arrumada e cheirosa, porque me perfumei com aquele perfume com nome de pomar. Eu saí e levei na bolsa nova, um tanto de imaginação e por que não dizer doces desvarios. Nunca aprendo que essas guloseimas na bolsa, derretem e sujam tudo, difícil limpar. E no fim, nem guloseimas, nem alegria, nem sentimentos bons. Mas não é porque as coisas não são como espero que desanimo; passado o aborrecimento, água e sabão na sujeira, tudo volta a ser como era, ou volta a ser como eu costumo vê-las, encantadoras e apaixonantes até os sentidos se abrirem momentaneamente de novo e a realidade se mostrar nítida e palpável como um aroma.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amigos do trabalho



Antes de vocês eu fazia distinção entre colegas de trabalho e amigos...



PS: ah, e um agradecimento
todo especial ao Miguel pela
participação na foto. :)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

identificação

Tenho vergonha de estender o braço
para chamar o táxi
tenho medo que ele me veja
tenho medo que ele me veja
e ainda assim
não pare.

Ana Cristina César
daqui

Eu me encontro na poesia da vida, sinto essa mesma vergonha ao estender o braço para o ônibus, mas nunca pensei que isso daria um poema, e quando encontro umas palavras tão lindas dessas sobre um sentimento tão pouco nobre (eu pensava) vejo porque nem todo mundo tem o dom de se expressar como poeta. É preciso muita sensibilidade e sobretudo coragem pra dizer sobre o indízivel, pra enxergar o invisível e pra olhar o trivial dos nossos dias e da nossa alma compaixão.
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Leminski (bom pra todas as horas, até aquelas em que a gente não sabe o que dizer)