segunda-feira, 29 de março de 2010

Agora que a verdade vem

Chega a doer
este poema no corpo.
Um soco
que desnorteia
e me põe sentado
à beira da cama.
Encontrar meu rosto
no espelho dos teus versos
tira meu ar,
arranca meu chão.
O clarão da luz tão forte
por um instante cega.
Mas tudo bem.
Agora que a verdade vem
eu sei para onde eu vou.

Leandro Wirz

sexta-feira, 26 de março de 2010

a Luta

Se Deus segurasse toda a verdade oculta em sua mão direita e, na mão esquerda, a persistente luta pela verdade…e dissesse “Escolha!”, eu humildemente me curvaria diante de sua mão esquerda e diria: “Pai, dá-me a luta. Porque a verdade pura é para Ti somente”.

Gotthold Lessing
Epígrafe do livro Verdade, uma história, de Felipe Fernández-Armesto (Record)

via Palavra Aguda , idem

quarta-feira, 24 de março de 2010

respirar livremente

não gosto de escrever nada nesse estado, meio "engasgada" em que costumo ficar, mas como sempre tomando como desculpa ser esse o espaço "meu" para todas as formas de expressão, inclusive essa, aqui estou como todas as outras vezes; para não dizer nada como todas as outras vezes e expandir-me (palavrinha que assim como o título eu encontrei para substituir essa que não gosto de pronunciar, nem escrever) em outras palavras, ditos não ditos, subentendidos, implicítos e afins e como todas as outras vezes, ou a maioria, em que me encontro nesse estado urgente de por pra fora o que não quer descer sentimento a baixo; sem rascunho.
por isso começo como se já estivesse no meio do assunto que não será contado, mas inflama, incomoda como uma espinha de peixe que nem vai nem volta. E ainda não é só isso, mesmo considerando que já disse tudo que queria dizer e mesmo assim não passa essa impressão de que nada foi dito, porque nada do que foi teve o efeito esperado, e nunca tem. Esse é o problema, dizer não basta, agir não satisfaz, mas esse incômodo das coisas que não tem solução, dessas humanidades como decepcionar-se, entristecer-se, não poder ser feliz com as coisas como são e como aconteceram; nos fazem escrever textos como esses. Desconexos, porque não é algo que se transcreva, que se represente fielmente, é algo de sentir como todas do gênero e portanto inexplicáveis; mas eu já disse que a intenção aqui não é explicar. Fui um pouco coerente agora.
Quem sabe eu só precise lavar os olhos e ganhar aquele banho na alma que vem de brinde, quem sabe como não ficar desse jeito me conte. Ou melhor, não me conte, porque no fundo no fundo eu sei que isso tudo é um dom, o de poder viver e ter consciência (em parte) desse extraordinário presente e que só percebo como uma chateação porque estou num outro ponto de vista, mas se eu me colocar a perceber sob outros olhares este momento, vou me sentir feliz, mas feliz do que os momentos em que realmente penso ser.
PS: funcionou, estou me sentindo ótima agora
PS2: ainda melhor depois de reler os comentários lindos do post em link -lavar os olhos.( Gracias de novo a vocês)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fartura

Digo mesmo a partir do meu próprio exemplo contrário, não devemos economizar certos sentimentos. Limitar tempo em questão de contato, impor limites em questão de interesse, de afeto. Condicionar atenção e cuidado. Priorizar assuntos. Reduzir demonstrações. Não devemos. Em matéria de ser e sentir é preferível que abunde, que transborde, que sobre; assim não vai faltar e ainda dá pra dividir com mais alguém.
Acho que sempre tive pouca fé nas pessoas, ainda falta perder muito dessa desconfiança, ainda falta retribuir antes mesmo de receber. Mas ultimamente o pouco, o mínimo não tem me convencido; é possível sempre melhor. Antes eu nunca pensaria assim, mas hoje acho que algumas coisas boas não tem que acontecer só em novela, e filmes com happy end. A realidade tem que ser boa o bastante pra inspirar as histórias, tem que ser muito mais, porque é real, embora os sonhos sejam imprescindíveis. E é de onde vem esse desejo, é do ato de sonhar alto, sonhar o infinito e o impossível que as coisas podem acontecer como esperamos, e se não, a semente tem que estar guardada pra quando for favorável, pra quando chegar a hora do que a gente sempre quis perfeito, sempre quis eterno e vai ser.

quarta-feira, 17 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

as pessoas já andam comentando




O cupido me acertou.
Chegou...
Aquele amor
que deve ser
o primeiro,
o último,
e pra sempre.

Amor próprio.

imagem: fragmentos

quarta-feira, 10 de março de 2010

a parte mais elevada

para a minha alma eu quero os montes mais altos,
para que eu possa unir, numa só existência,
os dois lados da vida

topo tão longe, e eu, junto de tantas pessoas,
passo ínfima em sua base infinitamente
extensa
infinitamente cheia de um mundo mudo
e sobre as almas também mudas, um feixe de luz

mas todas elas transitam maquinalmente
na base que se perde da vista.
parada, olho para elas e para o cimo dentro de mim.
se elas soubessem...

terça-feira, 9 de março de 2010

um dia?

sendo hoje um dia especial para nós, eu repito o que disse uma mulher inspiradora ou inspirada:


"eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher."

- Simone de Beauvoir

segunda-feira, 8 de março de 2010

aromas

Um conto ou não sei o quê, escrito há um ou dois anos atrás, lembrei dele hoje porque recebi uma rosa também . Nem lembro se já publiquei aqui, lembro que num outro site sim, chamava gaveta do autor. Sem revisão, considerem isso... rs
A ROSA
Seria um dia qualquer para ela, não fosse o que aconteceu àquela hora de sempre do almoço. Bem como todos os outros dias da semana, se arrumava cedo e corria até a parada de ônibus, conseguia pegar no horário em cima da hora de sempre, e alguns minutos de pensamentos matinais depois, estava no trabalho. Não considerava um trabalho excelente, porém havia muitas pessoas sem nenhum, e que dariam um braço ou talvez os dois para ter igual, agradecia a Deus pela oportunidade sempre que lembrava disso.
Tudo parecia ser de mais um dia comum, até que voltando do restaurante próximo onde almoçava todos os dias, foi surpreendida por um rapazola que lhe surgiu do nada com uma rosa em riste e lhe ofereceu. Que susto, teria sido maior surpresa se não tivesse dito ao entregar “Feliz dia da Mulher cortesia Magazine Laura”. Teve um momento de leseira e não lhe ocorreu na hora um jeito de agradecer o gesto, por fim sorriu, disse “obrigada” e saiu com a rosa na mão. Foi quando de repente lembrou que era a primeira rosa que ganhava na vida. E sentiu uma mistura de sentimentos que se alternaram durante todo o dia: alegria, tristeza, melancolia ...nem sabia direito o que era.
Depois de providenciar um copo com água para a flor que já demonstrava está perdendo o viço, olhou aquele vasinho improvisado sobre a mesa e pensou no que podiam imaginar as pessoas ao verem que tinha uma rosa sobre a mesa. E também as pessoas que a viram no caminho de volta pra casa no fim do dia :“ Deve gostar mesmo do cara, não joga a rosa murcha fora, que boba” ou “Hum a moça está toda feliz com o presente do namorado” decerto julgavam; logo depois pensava que sabiam a verdade e sentia-se constrangida.
A água não reverteu o estado da flor que já estava ainda mais murcha nesse momento e não conseguiu jogar no lixo, pois sentia que seria não valorizar até o fim aquele gesto, que para si tinha agora grande importância, levaria até em casa, mesmo que lá, se desfizesse dela. E enquanto o ônibus seguia se perguntava por que ficou tão sensibilizada com o acontecimento, nunca se importou com essas coisas que a maioria das mulheres sonha, mas de repente aquele fato a fez sentir que faltou algo; que não ter recebido rosas antes, era um absurdo, gostava agora de acreditar que imaginavam que sim, que era uma prenda de amor, e não se importou de ter furado seu dedo num espinho.
o pensamento é triste; o amor,

insuficiente; e eu quero sempre

mais do que vem nos milagres.


Cecília Meireles aqui

sábado, 6 de março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:

agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.

você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:

só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:

não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento

Torquato Neto -daqui