sexta-feira, 30 de abril de 2010

encantamento

no silêncio da tarde
meu corpo se encheu de
espantos

e beleza nenhuma havia
senão sob o prisma desse
medo

Mariana Botelho

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura

Paulo Leminski

segunda-feira, 26 de abril de 2010

(Tudo me parece um sonho. Mas não é, disse ele, a realidade é que é inacreditável.) Clarice Lispector
sabe quando a gente ouve uma música e viaja? Foi assim que aconteceu comigo, depois de uma melodia dessas de voar. Por um momento eu não me contive, e parecia que o mundo inteiro era eu, desde o céu meio avermelhado com nuvens escuras no fizinho de tarde quando eu olhei pela janela e tudo parecia mais lento, tão parado quanto aquelas nuvens que se moviam imperceptivelmente; será que eu experimentei o sentimento do mundo? Eu era todos e tudo. Eu era cada pessoa triste e alegre, que ria ou chorava ou pensava e não sabia então, o que era isso de todos os sentimentos possíveis juntos. E pareceu que foi um daqueles momentos em que os olhos se abrem momentaneamente para o fato da existência, e a consciência de ser e estar aqui é maior e melhor que qualquer outra sensação, é sublime apenas ser eu, ver, ouvir, tocar, cheirar, sentir, amar e ter fé, por um milésimo de segundo na humanidade inteira. É passageiro, mas comovente, tanto que o corpo não aguenta essa verdade, esse mistério e os olhos choram, sem saber nem porquê. Acho que por isso é instantãneo e raro, talvez...

sábado, 24 de abril de 2010

vagalumes

http://www.youtube.com/watch?v=psuRGfAaju4


pra ver e ouvir e ouvir...

sobre uma certeza nunca esperada

Uma pessoa querida se vai, uma saudade imensa fica; uma certeza de que a vida é breve, tênue e que ontem mesmo a gente era criança e se admirava dos mistérios do mundo. E ainda agora vemos que as coisas não mudaram tanto assim. Apenas crescemos, mas ainda nos abisma a mesma vida, o mesmo mundo incompreensível.


em 18-04-10

terça-feira, 13 de abril de 2010

amo isso*

"Um passarinho pediu ao meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu pra santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor
o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as
árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se
transformara, envaidecia-se quando era nomeada para
entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos
brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela
permanência em árvore porque fez amizade com muitas
borboletas.”

Manoel de Barros no livro Ensaios fotográficos.

vi no blog que só tem coisa bonita

*by Thiago

terça-feira, 6 de abril de 2010

melodrama

na verdade se isto não é uma mistura de sentimentos que não se definem, deveria eu criar um termo entre enternecimento e desapontamento (pra não usar outra palavrinha da qual não me agrado). Aqui dentro as coisas se confundem e quando o que eu já esperava acontecer acontece, supreende-me. Contraditório não, maluquice mesmo. Ainda bem que o remédio trago comigo, o humor, o bom humor. Além do mais a vida muitas vezes é apenas arte, e depende apenas do ponto de vista como já disse Chaplin, para ser vista como drama ou comédia. Eu to aprendendo a me distanciar, a mudar de lado, a olhar de outra ponta pra mesma cena. E por enquanto, mesmo sem entender direito, eu esboço um leve sorriso.*
*texto não revisado/ escrito direto no blog