segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

todas somos um pouco Tati

Desde que descobrir os textos dela, em um dos blogs que leio e cheguei ao site pensava em postar um deles, ai esta um dos onze escolhidos; adoro esse jeito de escrever com a alma, com o coração, com toda dor e emoção que não cabe dentro dela, esse jeito de falar de tudo, de ter coragem de se expor e que é tão parecido com as coisas que sentimos que quando lemos parece que ela escreveu tudo que a gente sente e não sabe como dizer em palavras, essas coisas de mulher...

O não texto

Você não está lendo um texto. Você está dormindo numa rede, atravessando um farol, comprando um porta-clipes, fazendo arroz integral, prendendo os cabelos, assistindo doctor House, vendo sua cachorra espreguiçar. Sei lá, qualquer coisa. Mas você não está lendo esse texto.
Eu também não estou escrevendo pela trigésima vez sobre gostar de alguém. E tentando entender todos os 567 contras e 876 a favor. E tentando metaforizar um cheiro, um olhar, uma frase. E tentando descrever minha dor só para dar a ela algum patamar mais interessante do que a simplicidade de uma simples dor. E tentando supervalorizar minha alegria, só para dar a ela um gosto de vitória como se jamais fosse cotidiano ser feliz.
Eu não estou de frente para uma folha em branco. Tentando tornar meus personagens mais interessante e meus sentimentos mais nobres. Eu estou de frente para eles, vendo que meu personagem pode ser sem graça e meu sentimento pode estar morrendo.
Este é um não texto porque cansei da minha covardia em me contar um mundo que eu invento para viver melhor. Cansei de me contar um personagem só para que suspirar não seja um simples movimento involuntário. Cansei de me contar uma história linda, só para que os dias não corram sem magia e sem a certeza de um grande final de filme.
Imagina só que vida chata se eu, ao invés de escrever um texto de amor, cheio de esperança, profundidade, dor, maluquice, tesão, estivesse escrevendo um texto assim: e ninguém é interessante e eu, pra ser sincera, não gosto de ninguém.
Triste, muito triste. Chato. E pior do que tudo isso: anti-literário. Como é que um escritor vai se sustentar com um coração vazio?
Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele.
Recebo e-mails de muita gente que me fala “que coragem escrever assim sobre o amor”, “que coragem ir tão fundo na sua dor”, “que coragem sentir tantas coisas a flor da pele”. Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade.
Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal?
Este é um não texto. Pra falar de um não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia, invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas, frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser real.
A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou construção literária.

sábado, 27 de dezembro de 2008

praticando

Parafraseando Moacyr Scliar, se eu não aprender a escrever não quero que seja por falta de prática. Não posso mais esperar uma inspiração, um fato, um motivo. Acho que gosto mesmo de me escrever por aqui. Então já aviso de início pra quem não quer perder tempo, que estas linhas são para puro exercício de expressão, então perdoem-me; e lembrem-se a prática leva à perfeição. Então continuemos.

Estou num momento de revisão, estou revendo tudo desde os antigos recortes às novissímas idéias minhas. Nessas revisões decidi comprar uma agenda nova, nada mais adequado, ano novo agenda nova. Eu sempre ganhei agendas, nunca comprei. Minhas primas me levavam de presente de seus trabalhos, quando eu estudava e nunca usei-as adequadamente. Acho que você tem que anotar coisas na data certa e verificar anotações e compromissos agendados cada dia, e se desfazer dela ao fim do ano. Eu não, eu anoto de tudo desde receita de vitamina de frutas até as contas mensais. Frases lidas e gostadas. Livros lidos e a comprar (nunca compro e sempre interrompo as leituras). Uso minha agendas por no mínimo cinco anos, porque não posso me desfazer delas sem passar a limpo pra nova, muita coisa ali anotada, de telefones que não quero perder a nome de remédios, e o tempo vai passando.

Como já ando procurando espaço nessa agenda atual, acho que está na hora de alguém me presentear, digo, de eu comprar uma. Sempre bom fazer coisas novas (não esquecer). Além de tudo minha agenda é porta papéis (documentos, dinheiro, etc, contas, papeis importantes etc). Acho que vou patentear a invenção de uma agenda com porta trecos agregado. Ainda não existe né? Nunca vi. Deve ser porque nunca olhei agendas para comprar uma.

Tudo bem, tudo isso não tem importância, mas é que contei essa lenga lenga toda, pra dizer que minha agenda tem frases e citações diversas em cada página correspondente a cada dia do ano de 2003 (realmente acho que já posso trocar). E claro que não jogaria fora, sem guardar essas frases tão legais, pra poder ler quando eu quiser, e de quebra ainda mostrar pra alguém. Assim alguns dos próximos posts serão dedicados a esses provérbios, e alguns autores que foram capazes de eternizar em suas falas um momento de sabedoria ou vários.

Para a despedida e já deixar um gostinho do que vem, aí vão dois deles:

Aquilo que se começa está metade feito. (Horácio -poeta latino 65- 8 a.C.)

As palavras voam, os escritos permanecem (Provérbio latino)

PS: Assim como essas, as citações do post anterior fazem parte da mini coletânea da minha futura antiga-agenda. Reparem que esses aqui são bastante pertinentes ao texto de hoje.

regra e exceção (sobre ser humano)


O ser humano é o único que se recusa a ser o que é. (Albert Camus, escritor francês-1913-1960)

Nós sabemos o que somos, mas não o que podemos ser. (Shakespeare, dramaturgo e poeta inglês -1564-1616)

Sempre enfezei ser eu mesmo. Mau, mas eu. (Oswald de Andrade, escritor brasileiro 1890-1954)




Sem inspiração, e depois dessa, uma enorme vontade de ler Oswalde de Andrade, e de me enfezar.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Buon Natale

“Se pensarmos pequeno...
coisas pequenas teremos...
Mas se desejarmos fortemente o melhor
e principalmente lutarmos pelo melhor
o melhor vai se instalar em nossa vida.
Porque sou do tamanho daquilo que vejo
e não do tamanho da minha altura.”

(Fernando Pessoa)
Esse trecho também foi tirado do orkut do Gui. E os dois últimos versos também estavam no texto de apresentação daquele meu professor querido, de quem falei aqui. Eu sempre gostei, ai então vi esse pedacinho mais completo. E acho que é uma bonita mensagem pra desejar a todos nós um felicíssimo natal.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ser Luz

Coisas tão verdadeiras e tão bonitas só podiam ser ditas por alguém especial como Nelson Mandela. Devíamos ler isto todo dia ao acordarmos:

Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida.
É a nossa luz, não as nossas trevas, o que mais nos apavora.
Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso?
Na realidade, quem é você para não ser?
Você é filho do Universo. Você se fazer de pequeno não ajuda o mundo. Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros quando estão perto de você.
Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós.
Não está apenas em um de nós: está em todos nós.
E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.
E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.
(Nelson Mandela)
Eu copiei esse trecho do orkut do meu querido Guilherme, assim como outras coisas, tá tudo numa pastinha. Pra eu ir compartilhando aqui conforme me dê vontade.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

...

Nessa última semana dois fatos me deixaram bastante triste e pensativa, um acidente de transito fatal, envolvendo uma colega de trabalho e o esposo que em conseqüência deixou dois adolescentes órfãos , e a perda de um parente próximo, vítima de um crime. Sentimos mais, quando mais próximo de nós acontecem esses dramas, um egoísmo em parte necessário para acordar todos os dias e ter ânimo pra continuar apesar dos pesares.

Já passei por esse tipo de perda, duas vezes quando bem criança, a primeira vez quando meu avô materno se foi, devia ter uns sete anos, não sei. Depois pelo meu avô paterno, já talvez com meus doze anos de idade. Não tenho recordações desses dias e nem o que eu senti, acho que não compreendia (nem hoje ainda) a dimensão e os mistérios da morte e da vida. Já mais recentemente minha avó materna, com a qual eu havia morado um tempo e tinha uma ligação mais forte, senti muita falta e tristeza, mesmo tendo consciência da sua velhice e da sua doença, ainda trago uma dorzinha n’alma que não sei o que é toda vez que lembro dela.

Há alguns meses, foi a hora de dizer adeus a uma tia querida, que aprendi a admirar e amar como mãe, já que era quem fazia esse papel de cuidadosa e compreensiva aqui. Não tem como não lamentar os abraços não dados, as palavras de afeto não ditas, as ações de carinho não praticadas. Não há como não umedecer os olhos e amolecer o coração ao recordar. E agora de novo, como nunca deixa de acontecer todos os dias, (tem sempre alguém sendo surpreendido pela temporalidade e finitude da vida) a vida mostra a morte sem explicação; quem sabe porque já sabemos, já temos essa certeza. E mesmo assim toda vez é como se estivéssemos alheios ao destino sabido de todos nós; talvez o medo, o mistério, o desconhecimento, a falta de fé nos faça encarar esses momentos com total despreparo. Talvez também, seja melhor assim, viver como se a vida nunca fosse ter fim, e receber essa surpresas certas como uma lição, onde aprendemos que devemos valorizar pessoas e não coisas, onde aprendemos que podemos mudar e melhorar enquanto estamos aqui.

É uma confusão de sentimentos, de pensamentos; penso em mim, nos meus, nos outros, no mundo, na vida, na morte... em Deus. E nesse turbilhão de emoções, resta buscar esperança, cada um onde está depositado sua crença, sua força, sua verdade, o sentido de viver; eu busco.

sábado, 20 de dezembro de 2008

espelho

Me olho e me vejo
sem um tanto de
ingenuidade e
simplicidade
genuinamente minhas.

Não olho, mas vejo
um tanto de tristeza
e desencanto
não sei de quem.

Só reconheço
algumas partes de mim
as outras permanecem
estranhas.

E o selo vai para...

Recebi meu primeiro selo do querido Abraão. Me senti lisonjeada porque segundo li o objetivo do selo é:
"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web".

A orientação seja indicar quinze blogs, e acho que eu não posso indicar quem já me indicou, se puder então é o primeiro da lista:

http://arkhipelago.blogspot.com/- A ilha de um homem só.

Então esses são meus indicados, espero não ser estraga prazer por não indicar quinze, eu leio muitos blogs que merecem todos os prêmios possíveis, mas penso que esses selinhos tem um quê de afetividade que influência nossa escolha. Assim indiquei aqueles que além de fazerem jus ao prêmio pelos motivos citados acima, também têm todo o meu bem-querer.
PS:Depois, siga, por favor, essas instruções:
1) Você deve exibir a imagem do selo em seu blog
2) VocÊ deve linkar o blog pelo qual você recebeu a indicação
3) Escolher outros 15 blogs a quem entregar o Prêmio Dardos
4) Avisar os escolhidos, claro.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

escrever é viver

Mais um dos guardados (especialmente para Thiago), este é recente (leia-se de um três anos atrás). Eu até já falei aqui sobre a preguiça de revisar, reescrever entre outras coisas; e relendo vi que também já pensei o contrário, além disso o que me chamou atenção no texto foi realmente esse poder que a escrita tem de nos fazer conhecer, especialmente para nós mesmos; o seu valor social como uma ferramenta de ação, de cidadania dentre outras coisas... Foi também um daqueles textos levados por um professor na faculdade, nem lembro quem foi, mas gostei muito. E além do que se alguém te disser que escrever num blog é perda de tempo, mostre apenas esse trechinhho e torça o nariz (dê uma esnobada, afinal, alguém que incontestavelmente entende do assunto, diz que escrever é o que há, rsrs)

Todo o poder da palavra

Lucília Helena Garcez*

A escrita permeia toda a nossa vida.(...)
(...) o processo de escrever é naturalmente o de reescrever, (...) a primeira versão de um texto, apesar de tão privilegiada pela escola, é apenas um rascunho, não traz mais que o embrião das idéias. O processo de reavaliar, reestruturar e reescrever é que constitui a essência da escrita, embora esta comece muito antes, no momento em que o redator tem o desejo de escrever. Desejar já é escrever, pois implica elaboração mental, processamento interior, busca, decisões e escolhas em diversos níveis. Colocar essas escolhas em linguagem verbal exata para transmitir idéias, rompendo a distância entre o que pensamos e o que escrevemos, é apenas uma das etapas da escrita. O próprio ato de produzir o texto vai recortando o mundo para o redator de uma maneira surpreendente, imprevisível.

Nesse sentido, escrever é descobrir, é desvendar, é construir, é dar forma às evanescentes sensações, emoções, representações, significações e interpretações do mundo. A trajetória humana vai sendo filtrada pela escrita e muitas vezes é o processo de escrever que nos mostra a nós mesmos o que somos e o que sabemos. Marguerite Duras considera: "Escrever significa tentar saber aquilo que se escreveria se fôssemos escrever-só se pode saber depois- antes, é a pergunta mais perigosa que se pode fazer. Mas também é a mais comum."

Somos escritos pela escrita. O ato de escrever torna explícitos pensamentos e saberes submersos, e refazer a escrita é retomar essas formulações, refletir sobre elas e reformulá-las, o que corresponde a uma reformulação de nossos fragmentos interiores. (...)

*Professora da UnB, autora do livro A escrita e o outro, publicado pela Editora Universidade de Brasília. (O papel onde estava o texto não mostrava de qual revista publicação foi retirado, só havia essa nota sobre a autora, deve valer a pena ler um livro dela, fico me devendo.)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Predestinados

Porque adoro a intertextualidade poética, adoro as releituras, as diferentes versões que cada um tem das coisas, da vida (em alguns casos). Algumas vezes resisto postar algo que eu não tenha escrito, porque afinal aqui eu deveria dar minha própria versão sobre algumas coisas, mas eu também sou aquilo que me comove, que me emociona, aquilo que gosto. Quando nos identificamos com um texto, uma imagem é por que tem ali alguma coisa de que também somos feitos. Assim ao compartilhar esses recortes, esses guardados do coração, essas preferências de todo tipo com as quais me identifico, também estou revelando o que penso, o que sinto, o que aprecio, o que sou. (sem pretensões)

Poema de sete faces
Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Com licença poética
Adélia Prado
"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
Eu adorei a versão de Adélia, particularmente e sem significar preferência. Esses dois poetas foram mesmo predestinados à perfeição, se ela existir por aqui.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não é proibido

Esse fim de semana recebi visitas, que garantiram o almoço que eu fiz ficou dilícia. Como eu queria impressionar, quis fazer uma calda quente com banana pro sorvete (receita deliciosa que eu não havia aprendido); foi errar na medida de açúcar, colocar ingredientes em momentos errados e adeus calda, mas surpreendemente eu consegui fazer um doce de banana único, parecia que tinha até canela, até eu acreditaria se não fosse eu mesma quem tivesse feito (os convidados juraram que estava mais que delicioso, saboroso...tá bom já estou exagerando).

Tô falando de doces, de comida porque ouvi uma música da Marisa Monte que tem a ver com isso, se você não ficar com vontade de comer um docinho, mas vai querer cantar e dançar até o fim; outra música que fala disso com maestria é: Com açúcar, com afeto de Chico Buarque. Os poetas, os músicos é que sabem mesmo dizer e cantar a poesia que existe nesses momentos regados a algum sabor, que têm cheiro de algum gosto, têm gosto de vida; e se a gente já souber perceber desses momentos alguma doçura já está bom, se conseguirmos temperar a vida, melhor ainda...

"Fazer a própria comida:
o amor integral,

o pão, a lentilha,
o poema grelhado,
o sal na medida:
cozinhar lentamente

essa fome indefinida."

(Adriano Espínola -poeta brasileiro, em Culinária, do livro Praia Provisória in: Seção Foco- Revista Caras )
Ouça também, e veja, algumas imagens dão água na boca. Delicie-se:


Aqui um trecho da música que falei, também vale ouvir depois:

(...)
Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê
(...)

Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado

Como vou me aborrecer, qual o quê
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro meus braços pra você.

Com açúcar, com afeto- Chico Buarque

hummm, deu uma fome agora...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pra quando vier a Vaidade

Sobre ambição


de pó
Deus o fez.
Mas ele em vez,
de se conformar,
quis ser sol, e ser mar,
e ser céu...Ser tudo enfim!
Mas nada pôde! E foi assim
que se pôs a chorar de furor...
Mas - ah! - foi sobre sua própria dor
que as lágrimas tristes rolaram. E o pó,
molhado, ficou sendo lodo - E lodo só!

Guilherme de Almeida

PS: Mais um que estava anotado num dos velhos pápeis guardados...

"Poesia! Única coisa que depois de sabida continua secreta. "
Cassiano Ricardo

sábado, 6 de dezembro de 2008

Pra guardar


Como a relação espaço- quinquilharias não está equilibrada in my home resolvi jogar fora alguns papéis, e fiquei surpresa ao ver este texto datilografado numa tinta meio azul-roxo num papel que já está amarelado (como conseguiamos viver sem computador?) que eu não imaginava guardar a tanto tempo, mas vi que não conseguiria jogar fora sem guardar (entende?), como a memória é fraca, deixo aqui pra eu ler quando quiser. Foi levado por um outro professor de língua portuguesa no primeiro ano do magistério (1996-97), foi um dos primeiros texto que me fez ver quanta emoção cabe numa folha de papel, quanto sentimento e beleza podem vir em forma de palavras, depois disso já li textos que me fizeram sentir algo parecido com o que senti ao ler este, mas esse é especial.

( Sobre o autor: Júlio César Bittencourt Gomes -segundo meu professor escreveu esse texto que foi vencedor de um concurso literário, foi com essas palavras que ele nos apresentou o autor e é só o que sei, pois ainda não fiz uma big pesquisa Google.)
PS: Já digitalizei e to vendo bem seguro aqui guardadinho, mas ainda não consegui jogar a folha no lixo, terei eu alguma obessessão por papéis velhos empoeirados?? Não respondam ..rs

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Rotina

Acordar cedo. Trabalhar de sete e meia as dezesseis e meia, mais umas horinhas extras e com sorte chegar em casa por volta das dezoito horas (nem menciono o capítulo a parte: o transporte público do qual eu dependo, teria que dedicar bastante tempo relatando e resmungando, basta isso) Banho revigorante. Fazer uma jantinha que ninguém é de ferro. Lavar roupa. Limpar chão. Lavar banheiro. Arruma dali, muda um móvel daqui, que as coisas e o ambiente têm que ser práticos num ambiente pequeno. (Mãe quero registrar meu profundo respeito e compreensão quando você reclama que trabalha muito, as demais coisas espero compreender quando tiver filhos, mas já faço alguma idéia, acredite. Agradecimentos eternos, não se esqueça) Banho relaxante. Vestir o vestido preferido, mereço me senti bem, sentar no sofá e rangar. Mereço deixar a louça do jantar pro dia seguinte, só hoje.
Realmente o trabalho doméstico é repetitivo e bastante cansativo, não tem fim, nem temporário.Bastante indicado pra quem aprecia a segurança da mesmice, a imutabilidade das coisas: as louças sempre estão sujas, a casa sempre tem que ser limpa (há opiniões divergentes, mas não entrarei no mérito da questão) enfim sempre se faz a mesma coisa indefinidamente. Espero mudar de idéia e ver alguma graça nessas coisas.
Concordo de hoje em diante que todas nós temos jornada tripla de trabalho e, estou contando só as básicas, pois na verdade dariam mais de dez, concordo que devíamos ser remuneradas de acordo com tais jornadas, nada mais justo, embora algumas coisas que fazemos sejam impagáveis no bom sentido, claro. Toda dona de casa depois de um dia assim, deveria receber uma massagenzinha nos pés (seria o mínimo e sem conotações maliciosas, que depois dessa maratona acredito que uma boa noite de sono seria o máximo que se conseguiria).
Oh! vida..doce vida agridoce às vezes.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

sobre a vida

Outro dia vasculhando algumas gavetas me deparei com um jornal antigo, do mes julho acho, vi uma reportagem que trazia uma foto, e me assustei pois era a notícia de um crime, e na foto reconheci meu professor de faculdade, de uns três anos atrás. Ali dizia que ele havia sido assassinado, por tentar acabar com tráfico de drogas na escola onde era diretor.

Eu nunca fui de ficar muito próxima de meus professores, as relações professor-aluno sempre foram baseada em respeito, e em alguns casos admiração. O primeiro sentimento porque tive uma educação tradicional e o segundo porque sempre há alguns mestres que vão além do ato de ensinar, que fazem diferença em nossas vidas, em muitos casos sem se darem conta disso. Nesse caso foi assim. Por causa de minha timidez talvez ele nunca soube, que foi um desses que me fez mudar, perceber coisas que eu nunca havia imaginado, pensar diferente sobre o mundo. Não apenas pelo conhecimento da sua matéria, mas pela forma como se apresentou à turma, seus pensamentos e atitudes, sua maneira de viver, por que eu o via como alguém que vivia o que acreditava, alguém com ideais e com atitude e isso é raro.

No primeiro dia de aula nos deu um texto, uma folha onde vinha uma foto sua no canto superior esquerdo da folha e a imagem de um barco no canto superior direito, com a frase: Navegante da vida. Abaixo em prosa ele falava de si, disse querer fugir ao currículo tradicional. No texto falou de suas origens, dos seus ideais, da sua profissão, citou Fernando Pessoa e outro poeta que não conhecia, falou da sua amada Rita(eu achei a coisa mais bonita o jeito que descreveu sua Rita, como uma musa digna do poeta que ele certamente também foi) e de seus filhos. Um texto tão bonito, que eu guardei até hoje, como tantos outros que nos levou para ler e refletir, e resgatei empoeirado para reler depois de ver a tragédia no jornal.

Fiquei pensando, nessas coisas que não conseguimos acreditar, nessas pessoas que achamos que não vão embora. Apesar de não ser próxima eu fiquei bastante sensibilizada; sei que acontecem coisas tão tristes e indignantes, coisas piores. Mas cada um de nós é quem dá essa medida pra tudo que acontece à nossa volta, a partir de tudo aquilo que nos constitui, e como em mim há algo daquele mestre, uma admiração pela vida, uma alegria de viver e um jeito diferente de perceber o mundo que ele com certeza deixou em todos nós alunos seus, naqueles dias.

Um dia escreveu no quadro:

Como sei pouco, e sou pouco,faço o pouco que me cabe me dando inteiro.

Anotei e mais tarde descobri que era de Thiago de Mello:

Para os que virão

Como sei pouco, e sou pouco, faço o pouco que me cabe me dando inteiro. Sabendo que não vou ver o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente para não enganar a ninguém: principalmente aos que sofrem na própria vida, a garra da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido no meu bolso de palavras. Sou simplesmente um homem para quem já a primeira e desolada pessoado singular - foi deixando, devagar, sofridamente de ser, para transformar-se - muito mais sofridamente - na primeira e profunda pessoa do plural.

Não importa que doa: é tempo de avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo, mesmo que longe ainda esteja de aprender a conjugar o verbo amar.

É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. ( Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros. ) Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando

Thiago de Mello

Se eu só mostrasse esse poema, que certamente era um de seus preferidos, quem lêsse, já teria uma idéia do grande homem que foi meu professor.