segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Aniversando

Sou eu, essa meio estrábica,  fora de muitos padrões de beleza, presa a muitos padrões que sequer resistem ao tempo. Livre no desalinho da palavra. Há mais de três décadas tentando andar na linha, sem sossego. Errando na teimosia egoísta de não enxergar outro ponto de vista; disso não me orgulho. Encontrando o sucesso onde menos espero, nas coisas mais simples, nas pessoas mais amáveis e verdadeiras, o resto é vaidade. Procurando coragem pra continuar  mirando em todos os espelhos escolhidos para revelar as coisas bonitas e importantes.- Encarar o tempo com serenidade é um clichê necessário e inquietante.- Olhando pra trás com a certeza de que o que foi feito era o que poderia ser naquele momento, o resto é futuro e tentativas. Esperando na fé. Enquanto  aparo arestas, acerto o passo; penso, fico, vou em buscar do que é a vida em, para e por mim. Além disso, eu não sei, ainda.

domingo, 18 de novembro de 2012

Again

Mi corazón snif...snif...
En medio al mundo tic-tac
Ni se puede bien decir
Solo es poesía pif-paf

Luís Antônio Teixeira (MINGAU) antes aqui em abril de 2009 :)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

caleidoscópio


Olhar esse vazio
Estar fora do trilho
E colocar-se dentro
De si, no centro

Preencher o espaço
Que sobra
Com a parte
Que falta
E fazer da ausência
A emenda, a arte

Voltar então
Ao marco zero
Ser o começo
Desse mesmo elo:
Eu sou, nós.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Andando contra amar é...


Não nado, não nego, não calo.
Silencio, escrevo, misturo as bóias.
Contenho a água
da lágrima.

Construo o barco, navego só
Observo o orgulho, mergulho no ar
Afogo a mágoa, solto o riso
A poesia emerge.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Passagem

Eu tenho essa mania de fincar bandeiras em território insólito, de insistir na permanência, de resistir sem armas. Tenho essa mania de buscar valorizar a busca ao invés da conquista. Tenho essa mania de achar que todo mundo cabe dentro de um sentimento, o de compreender, o de dividir as fraquezas assim como as forças. Tenho essa mania de pequenez, de quem não se basta; de quem quando pensa em desistir, recomeça.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Devaneios

Há alguns minutos cochilando no sofá, não sei se pensei ou se sonhei o seguinte:
A magia da palava está nas múltiplas possibilidades de representação do objeto, de forma a intensificar suas características pelo imaginário, muito além do observável enquanto matéria, concreta: uma maçã é só uma maçã; quando vista, tocada, mordida. Simples, suculenta ou não, madura ou um pouco verde. Quando pensada, falada, escrita, pode ser a maçã mais apetitosa ao olhos, como a maçã oferecida a Branca de Neve pela Bruxa; pode ser a maçã oferecida a Eva pela Serpente; pode ser o fruto mais vermelho, mais doce, mais bonito, mais delicioso que existe. Pode ser o fruto do conhecimento ou do prazer, intangível pelos sentidos, mas perceptível pela imaginação. A palavra escrita ganha uma eternidade que uma simples maçã real não tem.

Eu disse que isso é fruto de entre acordada e dormindo. Mas escrevo.
Boa noite pra quem escreve a vida, e para quem a abocanha, também.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Já chegou setembro....

Frevo

Minha alegria é frágil.
Se deixa levar,
leve!

Pende
para o tom mais alto.
Segue o que a banda
tocar.

Risos muitos
se o samba pedir.
Muitas lágrimas
se o choro mandar.

O importante
é dançar, sempre.
Deixa a vida me lavar!
Deixa a vida me lavar!

domingo, 19 de agosto de 2012

poeira

Que invisível,
sobre tudo,
fica,
paira.

Seca ,
desgasta,
essa aspereza.

Até quando?
Espanar
dor.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

florescer

A sua armadura era só a verdade, aquilo que era e sabia ser, sem véus, sem máscaras.

Chegou genuíno, franco, reluzente. Dizendo, fazendo, mostrando o que pensava e sentia. Inocente da malícia alheia, da maldade no olho daqueles que o viam e ouviam. Falou e disse, cantou e dançou, pensou e sonhou e riu e chorou, sendo ele mesmo; autêntico como o gosto e o cheiro da água limpa e transparente; como a pureza que não se copia. Depois saiu, deixando entreolhares e silêncio, levou a beleza de sua alma que por um momento a todos iluminou. E talvez nem saiba do seu encanto: deixar em cinzas a vaidade humana, o coração mau.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

invenção

Criaram a fórmula
Basta um gole
ou comprimido
E toda a mágoa
Haverá sumido

Encontraram a cura
Pra toda tristeza
É um milagre
Mas que beleza

Basta uma palavra
Pra que você esqueça
Não há decepção
Que permaneça.

(É mentira)

domingo, 29 de julho de 2012









Dançando com o sol.
São Luiz MA

- Julho de 2012

sábado, 7 de julho de 2012

primeira lição do dia

Ao passar no big box da via EPTG- DF cedinho, tive a grata surpresa de ser atendida por duas pessoas com necessidades especiais: o operador de caixa em treinamento e o empacotador que fez questão de empacotar cuidadosamente minhas compras mesmo eu tendo levado minha sacola de pano. Super educado, dizendo que ia colocar os produtos que amassam por último e os mais resistentes no fundo da sacola enquanto separava cebolinha e frutas para o lado. Nesse momento mais duas pessoas fazem fila.
Como é de se esperar o rapaz do caixa estava sendo orientado por outro funcionário e estava um pouco inseguro e lento, mesmo assim quase não se percebia que era alguém especial, a não ser pela pequena dificuldade motora e na fala (mais pausada), não sei se por não perceber isso, o senhor que vinha logo depois de mim na fila, incomodado com a demora começou a reclamar dizendo que o treinamento não era pra se feito aquela hora, mas sim no escritório anteriormente e continuou resmungando deixando o rapaz ainda mais nervoso.
Talvez a velhice nos deixe mais ranzinzas ou talvez estejamos mesmo perdendo a capacidade de esperar com educação ou sermos mais pacientes e compreensivos. Só sei, que a idade também me fez perder a capacidade de me calar diante do que me parece uma injustiça, mesmo que pequena e bradei:
-O mercado é que deveria colocar mais funcionários nessas mais de oito máquinas de caixa vazias, ao invés de querer que três funcionários atendam todos os clientes rapidamente. E treinamento deve ser feito é aqui mesmo, na prática, com os clientes, é assim que se aprende! (Lembrando também do meu primeiro emprego: operadora de caixa de um supermercado)
O senhor me olhou contrariado, e os funcionários supresos assim como as pessoas do fim da fila, mas ninguém falou mais nada. Depois de pagar a conta, ainda pedi crédito para o celular, ao que o rapaz atendeu um pouco nervoso, mas educadamente, e deixou o senhor ainda impaciente, porém mudo.
Ao sair, novamente falei alto para o rapaz do caixa:
- Muito obrigada e você está se saindo muito bem.
Recebi um tímido sorriso e saí pensando em quantas oportunidades temos para aprender a generosidade e a tolerância, e as deixamos passar esmagando-as com nosso esgoísmo e cegueira.

PS: Fiquei feliz também de ver (não sei se é imposição legal, talvez seja) um supermercado dar oportunidade de trabalho para pessoas especiais, quem sabe assim a gente vá aprendendo aos trancos e barrancos, o que eles já sabem: que o mais importante é o respeito ao próximo, nada é mais urgente do que nos humanizarmos.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

da fé nas pessoas

As piores misérias do homem são aquelas que estão dentro dele, às vezes, incuráveis. Não há higiene, progresso, tecnologia, alimento, informação, cultura...Não há dinheiro que compre, que garanta a cura delas.
Estão arraigadas na alma dele, e ali nada floresce, nada frutifica, nada brilha, nada reluz, nada aperfeiçoa. Sobrevivem da feiúra do seu próprio interior e dos atos e atitudes indignas, se alimentam. E pior ainda, contaminam, e também nos enfraquecem por vezes, mas nem sempre.
Ainda bem, que existe o outro lado, os outros sentimentos, as outras pessoas que emanam a beleza, o amor e nos fortalecem de novo e nos abrigam e voltam nossos olhos e nosso ser para algo maior e perfeitamente eterno. Só assim a esperança em um ser humano que traz em si algo do ser Divino que o criou, permanece, só assim.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

reverso

A beleza que vê em mim
e antes não via,
se explica sim
nada é complexo

Ao invés de me olhar
mirava o próprio umbigo
e só via o próprio
reflexo

Mas saí dessa sombra
outros olhos me fitam
e a beleza que ofusca
é a que importa
aos dois.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

código de defesa

As propagandas enganosas dão a tônica no consumo, no amor ou vice-versa. A lógica de mercado virou a lógica dos relacionamentos, valores invertidos: Ame o objeto e descarte a pessoa. Chega um momento em que não se pode acreditar mais nos dizeres: Grátis, $$ por cento de desconto, pague um e leve dois e eu te amo!


Pra Rir Ou Chorar Ou Não!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

ALVORADAS

então bebo
o descompromisso
do amanhã
o dia engendra coisas
à minha revelia
e tudo é
bem maior que
a mesquinhez do destino
e se anuncia na bruma
surda
tola
linda
de hoje

Sonia Pereira (aqui)

sábado, 9 de junho de 2012

afinal

Todos temos certeza dos fins
do fim do ano, do fim do dinheiro
do fim da vida
...
Do fim do amor
digo, de algo parecido com amor
porque amor mesmo nao tem fim, né?

domingo, 3 de junho de 2012















Paint love ;)

sobre a cereja de um bolo

Duas pessoas
Dois mecanismos distintos
De ver o mundo.

O mesmo fato
Vira do avesso
Visto
De cada ponto
Por cada parte.

Partem
Por caminhos diferentes
Não há luz no fim
Não avistam
A mesma chegada
Outro começo
Aparecerá.

(Durante a prova de concurso, enquanto uns se esforçavam pra redigir um parecer técnico eu já havia desistido e rabiscava a folha da redação me distraindo com os saberes que não estão à prova! E tenho dito :)

sábado, 2 de junho de 2012

auto-retrato

Eu sempre andei assim
quase absorta
quase abstrata
quase perdida


Eu sempre entristeci
quase obscura
quase culpada
quase escondida

(...)
Eu sempre fui assim
quase exaltada
quase encantada
quase feliz.


Amneres, poeta paraibana, mora em Brasília desde 1979 in http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=32248

terça-feira, 29 de maio de 2012

apontamentos e disappointments

Resultados parciais dos processos de conhecimento e reconhecimento de si mesmo. Incompleto, mas fortes indícios apontam para a grande probabilidade da diminuição dos dissabores sempre advindos destas questões de motivação emocional, sentimental com sufixação para ismo ou não. Observa-se grandes avanços quando do entendimento de que algumas coisas estão além das nossas forças e vontades e ismos ou não, que bom. A aceitação dos próprios limites e que algumas coisas não tem mesmo conserto ou sequer estiveram quebradas, erradas, há sempre uma perspectiva razoável, o que não significa indolor.
Parece-me que Drummond é quem estava certo a dor é inevitável o sofrimento opcional, não sei onde li, acho que foi esse o poeta. Venho descobrindo também involuntariamente que há um descompasso entre pensar que já passou e realmente passar (o passado, claro). Por isso voltei a ouvir Adele (tenho que medir a oscilação ou regularidade de cada minuto, nesse sentido). As boas notícias são que em grande parte da história, a protagonista é outra, às vezes, ainda um verso, uma nota, uma palavra escapa.

Mas não daqui, é claro, aqui todas elas são acolhidas, tem lugar, tem poder; transformam esse tanto de frases desconexas num momento, num fato, num ato de reflexão (falho, mas sincero).

"A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento.
Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo." ..... Fernando Sabino

quinta-feira, 24 de maio de 2012

roteiro

Quando olho para coisas que acontecem na minha vida, concluo:
seria trágico se não fosse cômico (nessa ordem mesmo)
Só rio
desse desaguar.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

sábado, 19 de maio de 2012

entendimento

A vontade volta aos poucos, a coragem não. To pagando caro, mas não paguei pra ver, nem pago. Deixa coração que você não tem olhos, nem ouvidos. A cabeça tem sempre razão e quase todos os sentidos: fala, vê, ouve (até o que não quer), cala quase sempre. Mas o toque está é ao alcance das mãos, então vamos com calma todos aí. Eu confio em todas as partes, assim eu confio em mim, e qualquer hora encontramos motivos, só não sei se será um presente, só tenho certeza do fim (ou sim).

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A dança

...E quando o som de todas as declarações das
nossas mais sinceras
intenções tiver desaparecido no vento,
dance comigo na pausa infinita antes da grande
inalação seguinte do alento que nos sopra a
todos na existência,
sem encher o vazio a partir de dentro ou de fora.
Não diga "Sim"!
Pegue apenas a minha mão e dance comigo.

Oriah Mountain Dreamer in A dança, pág. 16 (o livro que estava louca pra lê e já vi que vou amar)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Hiato

Praticando agramaticação aqui, com a licença de Iana Carolina, que é quem manda bem Agramaticando a vida por inteiro!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Bom dia, Murphy

Como não perder a calma, não descer do salto, não perder a classe, não armar barraco, não perder o humor ??? Quando num dia só e bem resumido: te cortam no trânsito, o pc e a internet não funcionam (no trabalho) nada de editar documentos, pesquisar, enviar/receber emails. A xerox quebra; o almoço atrasa, faz muito calor. Seu lanche cai no chão.

Não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam, não se envolvem.
Interditaram a rua onde você estaciona pra realizarem um concurso de miss, com faixas pintadas no chão e tudo (sendo que na mesma rua há um espaço para eventos e shows para grande público que não necessitava da interdição da via). Todos os fortões da academia decidiram usar o último aparelho da academia que faltava pra você terminar seu treino. Usaram sua roupa predileta; comeram todo o bolo de ricota. E pasmem, a chave da porta da sua casa resolve não abrir a porta da sua casa e começa a chover.

Acho que este é um dia bom pra se dizer logo, boa noite!
Atenção! Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. :P
Em 19-04-12

quarta-feira, 11 de abril de 2012

serenando

O aprendizado da leveza demora, mas acontece. Suavemente, quase imperceptível para nós, na dureza dos dias. Não dá tempo de nos agarrarmos as sutilezas das horas, passamos apressados pelas experiências valiosas; o bom é que elas deixam vestígios, que aos poucos vão nos modificando, agregando um pouco de delicadeza ao nosso ser.

segunda-feira, 26 de março de 2012

avistar (se)

Lançar um novo olhar sobre a vida, às vezes, não basta; é preciso que nos lancem também um olhar diferente. Enxergar-nos igualmente, nesse jeito diverso com o qual somos vistos, faz bem e pode se tornar um bonito ciclo: ser como já éramos sonhados, sonhar como podemos vir a ser. Olhos amorosos fazem milagres.

sexta-feira, 16 de março de 2012

ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade (li aqui)

quinta-feira, 15 de março de 2012

(r) existir

Quem não nos sujeita,
quem não nos contém;
não suporta a derrota
de não aprisionar ninguém

e vai soltando farpas,
lascas de desdém;
vai oco, louco,
mas sem um vintém

da liberdade rara,
dessa alma clara
que só a gente tem.

[escrito dia 07 de março, mas publicado hoje, porque veio a calhar]

domingo, 4 de março de 2012

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

sintonia

A voz vai retornando aos poucos, reconhecendo os traços familiares, (en) cantando-se com as próprias feições, encontrando sua amorosidade para partir daí, e repartir quando possível. Os sons se articulam de forma bailarina novamente, desajeitados, porém dançantes. A fala ecoa ciente de sua transitoriedade e mesmo assim segura do próprio dizer. Aos poucos as vibrações vão tomando uma forma musical, indicando suavemente um ritmo outra vez...

espelhar

A imagem ainda não é nítida, parece refletida num caleidoscópio, mas fragmentada dessa forma já toma a forma de algo bonito, digno de afeição. O olhar já aceita essa perspectiva dela, já pensa amorosamente nesse jeito de ser, já entende a singularidade com todas as falhas e bonitezas. O retrato agrega a atmosfera do afeto, mesmo com todos os espaços em branco tirando um pouco da nitidez.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

palavrear

A palavra emudece também, se reclusa, se recusa a vir à tona. Fica sem saber dizer, sem querer. Sente-se pequena diante das coisas, e prefere deixá-las sem nome, até encontrar um modo, um mundo compreensível de acontecimentos, que encoraje novamente as sílabas a juntarem-se e significarem de novo.

aqui.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

poisea

(...)
Não tremulam por mim os estandartes.
Não organizo rutilâncias .
Nem venho de nobrementes .
Maior que o infinito é o incolor.
Eu sou meu estandarte pessoal.
Preciso do desperdício das palavras para conter-me.
O meu vazio é cheio de inerências.
(...)

Manoel de Barros

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

avante!


Quem não dá conta das suas certezas
Quem não garante as suas linhagens
Quem retorna ao mesmo caminho
Quem procura boas paragens
Bem-vindo ao barco!

(imagem: Pov. Lagoinha "furtada" de João Chagas)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

lúcidez

Ser poeta
Ter sol, malícia,
solenidade e insolência.
Calo no dedo médio
são os ossos que me embrulham
neste ofício intenso que me esbulha.
Carregar um nome comigo,
esta letra vazia, carregar
esta palavra tão pesada,
que te ilustra
como a última palavra
não escrita
Ter fúria
e o avesso desnudado,
anotando somente o necessário
e a muito custo mesmo
re/velá-lo.

YEDA SCHMALTZ
(1941-2003) poeta e ficcionista pernambucana, ensaísta e expert em artes plásticas.

via http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=30512

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Dos textos da agenda antiga -1

"Durante toda a vida é preciso aprender a viver. Sêneca"

Tenho medo, ao olhar o tempo, de ficar presa às coisas
que não fazem mais sentido e esperar outras que não são concretas.
Medo de não fazer o melhor, de não construir algo que valha a pena.
Ainda existem barreiras, ainda há incerteza...
Mas por outro lado há uma firme convicção, há uma verdade que me move,
há um caminho percorrido na esperança.

Em 20/09/05 eu já era muito dramática :P

sábado, 21 de janeiro de 2012

aspectos

A poesia vem por meio formal, num recorte de jornal, e colide inesperadamente com a sensibilidade, traz qualquer afeto incidental, inexplicável, coincidente ao passado ou ao futuro dos meus sentidos. Um pedaço de jornal velho, amarelado é mais espelho do que o próprio espelho, quem entende?
Essa imagem no reflexo depende mais do ponto de vista de quem olha do que da incidência da luz que a forma. A nitidez e a clareza nem sempre importam, já faz tempo que o foco é outro. Enxerga-se bem mais pelo coração que pelos olhos; suspeito olhando o mundo nessa perspectiva convexa.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

tempos

Vi-te futuro, bem-te-vi adentrar
em ares límpidos, fagueiro de tudo
dono e senhor, entrelaçando o hoje
e o amanhã na humanidade sem
raça e sem cor.

Eliana Aparecida G. Moraes Longo (daqui)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Cadência

No tempo da delicadeza, abrem-se caminhos, apesar de qualquer embaraço. As coisas mais recentes alumiam porque se impõem na força de um presente, literalmente sobre qualquer ressentimento, que se esmaece como desbotam as cores de um papel colorido, guardado e antigo. As qualidades que se permite imprimir são os tons suaves, que atenuam as sensações ásperas, gritantes. Algumas coisas devem ser mesmo silenciadas, alguns sons não têm lugar no espaço, novo. De resto, vale tudo, de ouvir a sentir todas as coisas que se fazem num ritmo cadenciado entre a alegria e o sossego.

sábado, 7 de janeiro de 2012

esclarecer

Daqui, deste momento, sob a atmosfera de um tempo; versando quase sempre sobre e a partir da imaginação, do pensamento subjetivo, do sonho; exarcebando a poesia que é transparente, e mesmo assim avistando-a nessa perspectiva lírica, que embala essa hora de dormir acordada. Assim mesmo, sempre paradoxal e por isso nem sempre lógica e real para todos. A despeito da utilidade prática, persistindo nessa atividade inócua e, talvez dispensável, letra após letra. Ela revigora, suaviza, acolhe não o objeto inacessível do desejo, mas essa capacidade - necessidade (des) humana de desejar apenas; existir e ser.


"Não há verdadeiramente coisa alguma que venha estancar esta falta que dá origem a um sujeito."

(Nadiá Paulo Ferreira in Vem cá Luiza, me dá tua mão.)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

idem ibidem

Respirar
(...) e a gente esquece que para viver é preciso também respirar. E quando nos vemos por inteiro no reflexo da vida que nos acontece entre suas sombras e sóis, respirar fundo pode ser sopro suficiente para virar mais uma página da nossa história. Somos versões daquilo que não somos mais; mas também do que viremos a ser.


"Depois da tempestade vem a bonança."














imagens: arquivo pessoal