quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

sintonia

A voz vai retornando aos poucos, reconhecendo os traços familiares, (en) cantando-se com as próprias feições, encontrando sua amorosidade para partir daí, e repartir quando possível. Os sons se articulam de forma bailarina novamente, desajeitados, porém dançantes. A fala ecoa ciente de sua transitoriedade e mesmo assim segura do próprio dizer. Aos poucos as vibrações vão tomando uma forma musical, indicando suavemente um ritmo outra vez...

espelhar

A imagem ainda não é nítida, parece refletida num caleidoscópio, mas fragmentada dessa forma já toma a forma de algo bonito, digno de afeição. O olhar já aceita essa perspectiva dela, já pensa amorosamente nesse jeito de ser, já entende a singularidade com todas as falhas e bonitezas. O retrato agrega a atmosfera do afeto, mesmo com todos os espaços em branco tirando um pouco da nitidez.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

palavrear

A palavra emudece também, se reclusa, se recusa a vir à tona. Fica sem saber dizer, sem querer. Sente-se pequena diante das coisas, e prefere deixá-las sem nome, até encontrar um modo, um mundo compreensível de acontecimentos, que encoraje novamente as sílabas a juntarem-se e significarem de novo.

aqui.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

poisea

(...)
Não tremulam por mim os estandartes.
Não organizo rutilâncias .
Nem venho de nobrementes .
Maior que o infinito é o incolor.
Eu sou meu estandarte pessoal.
Preciso do desperdício das palavras para conter-me.
O meu vazio é cheio de inerências.
(...)

Manoel de Barros

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

avante!


Quem não dá conta das suas certezas
Quem não garante as suas linhagens
Quem retorna ao mesmo caminho
Quem procura boas paragens
Bem-vindo ao barco!

(imagem: Pov. Lagoinha "furtada" de João Chagas)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

lúcidez

Ser poeta
Ter sol, malícia,
solenidade e insolência.
Calo no dedo médio
são os ossos que me embrulham
neste ofício intenso que me esbulha.
Carregar um nome comigo,
esta letra vazia, carregar
esta palavra tão pesada,
que te ilustra
como a última palavra
não escrita
Ter fúria
e o avesso desnudado,
anotando somente o necessário
e a muito custo mesmo
re/velá-lo.

YEDA SCHMALTZ
(1941-2003) poeta e ficcionista pernambucana, ensaísta e expert em artes plásticas.

via http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=30512