sexta-feira, 30 de outubro de 2009

um pedaço do todo

parecem-lhes difíceis
confusas
palavras, muitas vezes,
amontoadas
desconexas
des
con
certantes...
têm razão
os pensamentos são assim:
fragmentos


Gauche

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano
Paulo Leminski


A propósito, eu confesso; idealizo, imagino, sonho. Ilusões enfeitam alguns cantos da vida e enfeiam outros tantos. E na maioria das vezes realmente as quimeras não sustentam a realidade, mas nem sempre o castelo desmorona; é possível construir novos abrigos, mesmo temporários. O importante é saber que tudo não passa de possibilidades. É preciso agüentar a queda das nuvens usando o que sirva pra suavizar o baque. Embora ao chegar ao chão, esqueça muito rápido o quanto era bom estar nos ares, estou sempre pronta para o próximo vôo*.

* voo segundo o novo acordo ortográfico, mas tirar o acento dessa palavra é tirar as asas, ninguém voa sem asas. Fica assim até eu acostumar. :P

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

por falta de termo mais adequado


Não é que eu queira fazer uma ode a indiferença mas ser solenemente ignorada pouco depois de ser estupidamente desconsiderada não é muito comum nas circunstâncias ocorridas. E aliás nem todo mundo se sente, nem todo mundo leva em conta. Mas pra registrar a afronta, e recordar, pois nem toda lembrança precisa ser boa, dessa vertigem que me deu ao lembrar o que aconteceu. Um arrepio na espinha, com jeito de repulsa, horror sem o medo; foi a primeira vez que senti por motivo tal. Feito aquela primeira vez, certa feita, que a comida não desceu, foi um desgosto e não sabia que também acontecia sem falta de fome. Pois sim, como todas as decepções a mente trata de esquecer, mas eu não; eu quero saber que um dia me furtaram a euforia por umas horas, e eu quis viver o significado, fosse dor ou qualquer outro bocado de realidade, provar que nem tudo se acaba ali, que nem tudo é isso aqui, conseguir passar, e voltar aqui outro dia quem sabe, porque na memória do meu sentimento já não consta...

favoritos desde já

Memória de náufrago

Um dia eu vi o mar
nos teus olhos ateus
e as ondas acorrentadas
ao sopro de Deus
e vi o infinito me olhar
aflito
e vi a paz
a pureza
o destino
a certeza
então teu mar
de olhos infindos
tragou-me
de um beijo
e me fez pássaro
e se fez nuvem
e morremos
de amor
nos cílios do tempo.

Clarrissa Yemisi em http://miolodepote.wordpress.com/

PS: não consegui escolher uma dentre tantas coisas lindas escritas por esta moça, para apresentar aqui, afinal escolhi este poema porque me fez lembrar um segredo parecido, muito lindo. Estou ainda perplexa com tanta perfeição na sua poesia. Merece muitas visitas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O outro lado

Eu sei que é difícil ver um lado bom em levar um banho de água suja enquanto se aguarda seu bus na parada já há longos quarenta minutos, debaixo de uma chuva no fim de um dia de trabalho mas...tudo bem também ainda não vi o lado bom disso; mas o fato é que se eu tivesse me deixado levar pela raiva e pelo mau humor certamente não teria reparado alguns minutos depois a seguinte cena: tentando se equilibrar entre os buracos da pequena descida de terra próxima a parada, vinha um senhor agarrado ao braço de uma senhora, apressados por causa da chuva fina, mas persistente. Até ai tudo bem, um casal de velhinhos tentando chegar à parada de ônibus.
O que me chamou atenção foi a distinção e a postura dos dois, o homem que andava com dificuldade e em certo momento desiquilibrou-se mas não caiu por estar amparado nela. Ele mais parecia aqueles velhinhos típicos do interior, chapelão na cabeça, camisa de mangas compridas amarela, calça social marrom, parecia mais velho que ela, que não lembrava em nada as vovós do interior com seus vestidões muito simples. Andava com determinação, vinha de calça jeans e regata branca, com uma sandália rasteirinha vermelha; quando chegou mais perto percebi que as maças do rosto estavam muito rosadas, marcadas pelo blush rosa como os círculos rosados do rosto de bonecas infantis, e mesmo assim não destoavam dos óculos que usava, a maquiagem parecia muito dela, muito apropriada, não estava em desarmonia com o estilo moderno.
Ao chegarem, tratou de acomodar o companheiro na pontinha do banco (pai ou marido não sei) e permaneceu de pé ao seu lado, cinco minutos depois ao passar o ônibus que esperavam, 0 segurou novamente pelo braço e o ajudou a subir os degraus e lá dentro a sentar-se e novamente permaneceu de pé, mesmo tendo assentos vazios; muito cuidadosa e resignada, como se fosse incansável. O silêncio entre eles deixava ainda mais a mostra nas atitudes, o vínculo que existia ali. Logo percebi que não se tratava de tempo e velhice o que eu acabara de presenciar, mas de coragem e força; de vida. Tratava-se da grandeza que pode existir mesmo na fragilidade e na fraqueza. E por um bom tempo eu fiquei pensando no futuro como algo bonito e bem maior que a mediocridade e a mesquinhez de alguns.

domingo, 18 de outubro de 2009

um amor para cuidar


Quando estou com vocês aprendo mais sobre amar.












Retrato oficial -2oo6

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

de onde você vem?

O que tem de bom pra hoje. Um pingo de sutileza nas pontas dos dedos. Quer dizer foi ontem, hoje foi um alegre riso agridoce. Tem música pra esquecer um pouco a vontade de lamentar. Tem céu muito azul depois de chover. Tem vento nos cabelos e olhar de flerte. Aquele entusiasmo que move e faz a respiração mais profunda, ergue a cabeça e alinha a coluna. Tudo que faz a gente continuar e seguir; é muita coisa e olha que nem falei do que está guardado, do essencial. E ainda tem Leminski ensinando:

LAMENTE
UMA
VEZ.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

demasiadamente humano

Vendo que havia na terra
despendimentos demais
e tarefas muitas -
Os homens começaram a roer as unhas.
Manoel de Barros (daqui)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Despeito

E dizia:
_Não me importo!
_Tô nem aí!
_Não sinto nada!
Depois enxugou as lágrimas inexistentes, com lenços descartáveis.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

sem rascunhos*

sim, porque tanto aqui como na vida tento alternar um pouco de melancolia com um pouco de alegria, tá certo que se eu não me policio sobra a primeira, mesmo assim eu me esforço e tiro do fundo da memória ou do momento mais fresco um novo olhar para a vida e para eu mesma. Eu me alegro na palavra de amor vinda de quem realmente se importa comigo e que nem sempre lembro disso. Eu me comovo com a colega mais distante demonstrando que de onde menos esperamos pode vir o carinho, a amizade, a gentileza. Li num livro desses de auto-ajuda, que aliás ficam no fim das minhas preferências literárias que a gente pode educar nosso pensamento e sermos mais otimististas em relação a vida, e acredito mesmo nisso, desde então; porque eu acredito mesmo só no que eu quero, isso todos fazemos. A gente só percebe aquilo que quer ou deseja, isso é outra coisa que acredito, desde que ouvi uma certa cantora dizer isso numa entrevista na tv. Ainda bem que amanhã eu posso acreditar em outras coisas e pensar diferente, ainda bem que amanhã eu posso estar muito feliz sem ter que me esforçar pra isso, porque o mundo gira e a mudança é o que é certeza. Ultimamente tudo, absolutamente tudo, me afeta intensamente, parece que eu estou no mundo há poucos dias e tudo é absolutamente novo, surpreendentemente maravilhoso ou ruim; e não é que eu esteja nos extremos, é que a realidade se apresenta extraordinária para mim; mas tenho vivido toda essa saturação com entusiasmo ou mesmo com uma euforia interna, que só eu sei, que só eu sinto. Por isso também tenho tentado mais vezes extravasar um pouco nessas linhas imprecisas, confusas, e não pode ser diferente, eu também ainda to descobrindo do que se trata, mas mesmo que eu não descubra não vou ter perdido um momento sequer, seja de tristeza, seja de felicidade, seja o que for, seja o que eu for, serei eu. Viva!

à propósito:
“Tentar levantar às seis horas. Variar as emoções”.
“Apaixonar-se por sua própria inquietação”.
André Gide (daqui)

*mas com uma revisãozinha que ninguém é perfeito.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

tempestades e copo d`água

Que este texto seja como um choro e cada palavra uma lágrima que vá lavando, vá levando aquela dorzinha, aquela tristezinha cotidiana, acumulada das pequenas coisas, principalmente daquelas que a gente não queria ouvir e ouviu, não queria ver e viu, não queria nem saber e soube, não queria dizer e fez, não queria nem pensar e sentiu. Aquelas, sim que não são problema de ninguém e comparadas, ahh nem seriam consideradas, mas sim; agridem, magoam, entristecem e machucam um pouco. Porque a gente tenta sustentar o riso, o bom humor, o amor. A gente tenta entender, esquecer, perdoar; mas a gente é fraco, e mais dia menos dia tiramos a armadura só por um instante, pra limpar, pra arejar; certos de que ninguém nos atingirá enquanto isso. E nos enganamos, somos surpreendidos e por isso não sabemos como reagir. E a gente se veste de novo, se ergue num susto e se prepara pra luta que pensávamos ter nos dado trégua. A gente não tem tempo pra curar os arranhões, eles vão cicatrizando junto com a nossa sensibilidade, e quando pensamos que estamos inatingíveis é então que somos vulneráveis e a vida segue...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

curtas

O mundo anda tão sem feitio
que ando achando o cúmulo da gentileza
alguém fechar a janela do ônibus
quando percebe que estou com frio.
#
O impossível
traz o possível
no seu cerne.
#
Me revelo,
me entrego
nas palavras,
mas continuo
a ser minha.