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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sur-realidade

Antes de mais nada, Manoel de Barros: "É preciso desformar o mundo."

Não é do meu feitio fazer críticas do tipo, há profissionais mais indicados, mas ando ansiosa com o tcc e o horário eleitoral com seus candidatos mutantes, tentando se metamorfosear no ideal de político do brasileiro a cada nova aparição, dá nos nervos de qualquer cristão. É tanta inconsistência, dá vergonha alheia cada frase ensaiada, cada gesto zero genuíno, cada má intenção que há por trás.

O fato é que também pensei no resgate dos mineiros do Chile, um milagre da vida, da tecnologia, de esperança, que não vale por ser tanto; tem que render, tem que ser transformado em espetáculo. Agora, ainda mais virá a mídia, especular, transformar cada minuto de tudo aquilo em dinheiro, em assunto, em lucro; até não agüentarmos mais ouvir, claro, só até o dia de ir assistir ao filme, em sua estréia mundial. Que mundo louco, onde o valor e o alcance de coisas insignificantes e fatos históricos, importantes, se igualam na sua efemeridade enquanto produto midiático, enquanto o produto descartável indispensável e mais cobiçado do momento.
Não há tempo pra escolhermos, pra conhecermos, pra nos posicionarmos, tudo nos sobeja tão brutalmente, que nos sentimos levados pela onda, a onda desse tsunami informacional, cultural, social e todos os “al” desse caos globalizado. Saudade de quando o mundo era o meu quintal e a população e a vida acontecia nos limites do pequeno povoado onde nasci. Saudade da privacidade, da simplicidade, da naturalidade, da viva-cidade enquanto meu lugar no mundo. Será que isto é um apelo a momentos necessários da nossa solidão enquanto indivíduos? Tudo é tão divulgado, tão devassado, pouco resta de nós mesmos, do nosso aconchego, do nosso sossego.
Pronto! passou a vertigem. Que saudade é mais da lembrança. E eu gosto é do caminho fluído para o futuro, já disse aqui. Mas pensemos nisto. Em preservar uma essência humana, uma compaixão, o amor, sim. Seja meu apelo o maior dos lugares-comuns. Eu acredito, tanto quanto os poetas e os profetas que sem amor nada vale a pena.

E também por fim, Manoel de Barros, com toda licença de eu também dizer pra me desculpar pelas queixas:
"Eu sempre guardei nas palavras os meus desconcertos."

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O outro lado

Eu sei que é difícil ver um lado bom em levar um banho de água suja enquanto se aguarda seu bus na parada já há longos quarenta minutos, debaixo de uma chuva no fim de um dia de trabalho mas...tudo bem também ainda não vi o lado bom disso; mas o fato é que se eu tivesse me deixado levar pela raiva e pelo mau humor certamente não teria reparado alguns minutos depois a seguinte cena: tentando se equilibrar entre os buracos da pequena descida de terra próxima a parada, vinha um senhor agarrado ao braço de uma senhora, apressados por causa da chuva fina, mas persistente. Até ai tudo bem, um casal de velhinhos tentando chegar à parada de ônibus.
O que me chamou atenção foi a distinção e a postura dos dois, o homem que andava com dificuldade e em certo momento desiquilibrou-se mas não caiu por estar amparado nela. Ele mais parecia aqueles velhinhos típicos do interior, chapelão na cabeça, camisa de mangas compridas amarela, calça social marrom, parecia mais velho que ela, que não lembrava em nada as vovós do interior com seus vestidões muito simples. Andava com determinação, vinha de calça jeans e regata branca, com uma sandália rasteirinha vermelha; quando chegou mais perto percebi que as maças do rosto estavam muito rosadas, marcadas pelo blush rosa como os círculos rosados do rosto de bonecas infantis, e mesmo assim não destoavam dos óculos que usava, a maquiagem parecia muito dela, muito apropriada, não estava em desarmonia com o estilo moderno.
Ao chegarem, tratou de acomodar o companheiro na pontinha do banco (pai ou marido não sei) e permaneceu de pé ao seu lado, cinco minutos depois ao passar o ônibus que esperavam, 0 segurou novamente pelo braço e o ajudou a subir os degraus e lá dentro a sentar-se e novamente permaneceu de pé, mesmo tendo assentos vazios; muito cuidadosa e resignada, como se fosse incansável. O silêncio entre eles deixava ainda mais a mostra nas atitudes, o vínculo que existia ali. Logo percebi que não se tratava de tempo e velhice o que eu acabara de presenciar, mas de coragem e força; de vida. Tratava-se da grandeza que pode existir mesmo na fragilidade e na fraqueza. E por um bom tempo eu fiquei pensando no futuro como algo bonito e bem maior que a mediocridade e a mesquinhez de alguns.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

curtas

O mundo anda tão sem feitio
que ando achando o cúmulo da gentileza
alguém fechar a janela do ônibus
quando percebe que estou com frio.
#
O impossível
traz o possível
no seu cerne.
#
Me revelo,
me entrego
nas palavras,
mas continuo
a ser minha.