onde lia-se desejo
leia-se despejo
não quero mais
essa vertigem de vogais
- tantos ais -
como se fossem consoantes
por íncrivel que pareça aconteceu algo inédito ou está acontecendo, consegui me despedir de uma situação, abandonar velhos sentimentos, já imprestáveis, que trazia comigo pelo simples apego a algo, não havia lógica, nem razão. Apenas trazia comigo pelo medo de não saber lidar com o vazio que deixariam, e na verdade o que fica é espaço e possibilidade, na verdade não deve ficar, deve chegar, como o novo e surpreendente, mas bem vindo.
Se a sintaxe não é o meu forte, a semântica também não. Mas me encanto mais com a significação que com a formalidade da linguagem. O significado e todas as infinitas possibilidades de construçaõ de sentido, que se dá num processo vivo onde cada sujeito pode criar ou modificar com aquilo que o constrói e descontrói também.
Por não saber estruturar minhas orações acertadamente me perco nas minhas palavras, por insegurança muitas vezes escolho o silêncio, a não palavra, mas isso não as encerra, não as destrói; elas continuam a existir no intímo e muitas vezes extrapolam por outros sentidos, por outras faculdades que não a fala, a escrita.
Por experiência própria digo da força das palavras não ditas, dos seus significados que nos transbordam, pelos olhos, pelas feições, pelo corpo todo. Parece até uma maneira de nos obrigar a ter coragem e assumir nosso discurso, nosso pensamento, nosso sentimento diante de algo ou alguém. No meu caso, esse extrapolar foi tão forte e incontrolável que mesmo eu escolhendo outras palavras pra esconder o que eu realmente queria dizer e me pareceu mesquinho e egoísta, elas se desmancharam no ar, não contrariando aquelas que eram de fato, de verdade.
Pode ser só a força da nossa alma, que é todo e não parte, nos mostrando que somos da fala ao gesto, do pensamento a ação, somos mente e corpo, e que somos nossos próprios adversários quase sempre.