segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eu mesma não gosto de vir aqui e olhar o post de vários dias, mesmo que eu não tenha nada novo a dizer, deixo aqui um poema, umas palavras que não são minhas; e que contém a novidade do belo, porque o que nos comove, o que nos abisma, sempre traz a cintilância do primeiro olhar, sempre encanta...
Vá saber

não sei se faço bem
nada do que faço bem,
se bem me faz
o que por bem conheço,
ou se mereço o nome que me fiz,
de quem no espelho busca o avesso,
de si mesmo
o vértice oposto.

posto que todo ser me contamina,
e cada nota
recompõe a pauta,
o que mais me ensina
é o que desconserta,
e o que me completa
sempre mais me falta.

João Angelo Salvadori

quarta-feira, 26 de maio de 2010

previsão

Ontem no finzinho do dia, o céu se encheu de nuvens escuras, o vento anunciava e ao longe dava pra ver que já caía água, era questão de minutos e iria chover. Fique feliz, fiquei ansiosa, queria chuva. Cheguei a casa e olhava pela janela de vez em quando, esperando; mas ai o céu foi “limpando” e a noite desceu estrelada sem nenhuma gota cair. Desesperancei. E hoje quase no mesmo horário, sem nenhum aviso, sem nenhum preparo, sem minha espera, sem eu lembrar a minha vontade, choveu. Caiu um toró. Fiquei muito feliz. É por essas e outras que eu não deixo de acreditar no improvável, no inesperado. Fico agradecida quando Deus nos ensina que ainda existe um tempo que não controlamos, ainda existe esperança, mesmo quando a gente já não mais espere.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Motivos

Acho que não estou tão ruim assim, depois de mais uma rotina árdua de trabalho, um trânsito intenso pra chegar a casa e ainda consigo ver emoldurado um céu parecendo àqueles céus após chover, como se o dia tivesse tomado banho. Uma luz avermelhada do pôr do sol, muito limpa e um pouco nostálgica, trazia uma saudade daquelas que não lembramos bem de quê, mesmo assim bonito demais. Senti-me Cecília Meireles olhando da sua janela. Será que todos estavam admirados desse jeito? Ando bastante impressionável pelas coisas desimportantes para muitos, ando bastante desligada daquilo que se espera de pessoas como eu. Hoje, novamente estou a favor da falta de pressa, estou a favor da câmera lenta para cada ato da cena, para cada ação. Ah se a gente parasse pra prestar atenção no que vemos todos os dias, aposto mesmo, como a poetiza, a gente se surpreenderia ao ver...

escrito em 20-05 mas postado hoje, segundo a norma do escreve se publica, desse blog, e só por ela .

segunda-feira, 17 de maio de 2010

abaixo a ditadura do relógio!

O dia não cabe as nossas tarefas, trazemos na bolsa textos pra ler, anotações a cumprir, preocupações cotidianas, datas e prazos pra entrega dos trabalhos do curso, as contas não ficam de fora, os afazeres domésticos; e o tempo escorre no nosso cansaço, nos cochilos em que estamos ausentes ocupados com nossos hábitos indispensáveis. Loucura se parássemos, sentássemos numa praça qualquer a olhar o corre-corre das pessoas, inconcebível esquecermos nossos compromissos e responsabilidades para vagarmos por aí, divagando e olhando um passarinho solitário que voa atordoado longe de sua árvore.
Não cabe a poesia nas nossas horas, não cabe um pouco de ócio, não cabe abandonarmos as normas, o roteiro. E tem horas que a gente pensa que é apenas personagem autômato de um game eletrônico, programado para dar as mesmas respostas limitadas, os mesmos saltos, os mesmos gestos e as coisas se repetem indefinidamente, entre um intervalo e outro enquanto o programa esteve desligado. Quando é que vai sobrar um pouco de liberdade para o não compromisso, para lagartear, para viver lentamente e sem ansiedade esse curto espaço de tempo em que estamos nos transformando em outro ser e sem precisarmos ter consciência desse milagre? Quando poderemos viver o tempo que não está no relógio, dividido, medido, programado?
Não fosse a minha hora de ir dormir eu ainda faria mil reivindicações contra essa vida regrada, mas amanhã acordo cedo, tenho que estar no trabalho antes das oito. Isso é o que eu chamo de tragicômico? Ou está mais pra TPM*?
*Tempo Pós - Moderno

quinta-feira, 13 de maio de 2010

evidente
No dicionário, procurando a palavra que daria nome ao post, intuição. "Ato de perceber, pressentimento. Primeiro lance dos olhos". Sim, foi um primeiro lance dos olhos, foi aquele ato falho sutil, foi aquele olhar diferente e já era. Nada pode ser mais como antes. Uma mulher não pode fugir a essas magias peculiares. Basta o nosso olho num relance perceber aquele movimento imperceptível a todos os demais e quebra-se o encanto que nós mesmas havíamos nos lançado. Pluft! Finito. Ainda não é possível ignorar esses sinais dos sentidos; aflorados, alarmados como que dizem: Pare! Não continue!
E eu só queria seguir nesse estado de encantamento, mas houve o primeiro lance dos olhos...
(texto urgente, sem rascunhos)

sábado, 8 de maio de 2010

dia-rio

Levei a tarde para dormir, com a desculpa de um cochilo após o almoço e quatro horas depois volto a prestar contas ao dia; que cansou de me esperar e já deixou o comecinho de noite das seis horas pra uma conversa. Ouço o tempo dizer o mesmo de muitos adultos na minha infância: “Quem muito dorme, pouco vive.” Finjo que não escuto, pela velha superstição de que as palavras ganham força, quando bem assimiladas, escutadas e quando repetidas com estes intuítos. E saio a fazer as pequenas tarefas que preenchem o espaço entre o despertar e o deitar, tudo muito mecanicamente, sonolenta. Faço um café, ligo o pc, faço um pouco do trabalho que trouxe pra casa, envio emails. Desisto de olhar se as novas disciplinas do curso já iniciaram. Leio um desses blogs lindos que deixam a gente num estado de encantamento agudo.
O sono da sesta deve ter sido mesmo exagero, pois sinto a vida ainda devagar como no poema de Drummond. Os sentidos não captam toda a velocidade do mundo fora das paredes. Toda preocupação e caos do cotidiano, momentaneamente se desbotam e penso em tudo e em todos com delicada sensação de sonho, como se tudo não passasse de uma história de ouvir e não do real (penso que tem um pouco de felicidade não razoável em mim nesse momento).
Fecho os olhos um pouco pra despertar devagar pro habitual. E aos poucos lembro da repetição que me espera amanhã, e também do inesperado, graças a Deus; embora a blusa colorida de três babados, pendurada no pegador da porta do guarda- roupa me lembre também do quanto as horas passam uniformes e semi prontas. E espero o sono do restinho de hoje.

terça-feira, 4 de maio de 2010

impressões

Não sei direito o que se passou, e por não saber, também nem sentir ao certo, se alegria ou não. A incerteza e o engano foram maiores que dois, mesmo que até aqui estivessem em letras maiúsculas, sob muita ênfase. Agora apenas borrões, e a tinta escorrendo salgada de um lado do rosto. Fica ainda mais difícil entender o que está escrito se os olhos embaçam, embora tenha sido dito literalmente em alto e bom som, mas não foi de bom tom. E por falar em cores, o colorido seguiu a ordem alfabética da vida e agora está dolorido, nem dá pra tocar senão quebra; se desmancha como um sonho, não um doce. Foi o bastante pra acordar, bastou perceber que eu também já estive naquele papel. Mas esperava que ao contrário de mim, você errasse o texto, os gestos e surpreendesse inclusive eu.