sábado, 31 de julho de 2010

o que era isso, que a desordem da vida podia sempre mais do que a gente? o real roda e põe diante. homem, sei? a vida é muito discordada. tem partes, tem artes. a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. verdade maior. é o que a vida me ensinou. requeria era sarar, não desejava céu nenhum. as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – no que elas vão sempre mudando. afinam ou desafinam. eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa. atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. sertão é onde os pastos carecem de fechos. quero o outro perto, eu distante de mim. hoje em dia eu nem sei o que sei, e, o que soubesse, deixei de saber o que sabia. a gente só sabe bem aquilo que não entende. meu coração é que entende, ajuda minha idéia a requerer e traçar.


João Guimarães Rosa aqui

quarta-feira, 28 de julho de 2010

"Uma outra coisa é o verdadeiro canto. Um sopro ao nada. Um vôo em Deus. Um vento." Rainer Maria Rilke

Senhor, eu sei que devia agradecer todos os dias por todas as coisas, mas humanamente vivemos, sob nossas emoções e sentimentos, mesmo assim quero agradecer por hoje, assim imperfeitamente, por esse dia, onde nada extraordinário aconteceu, mas hoje o cansaço que meu rosto refletia foi substituído pelo ânimo, o bom ânimo e, um contentamento brilhou nos meus olhos, eu vi. Não é sempre que enxergamos o lado bom das coisas, não é sempre que nossas expectativas sempre tão egoístas são alcançadas, melhor assim. Mas às vezes sim, nossa alegria transborda, seja por vaidade ou motivos outros, subjetivos. E me sinto feliz porque minha experiência de fé em ti permite minha experiência de fé na vida, nas pessoas, fé em mim. E quando esse sentimento de satisfação se expande assim, é que tomamos um pouco de consciência da grandiosidade do mundo e de nossa pequenez, que não nos faz menos especiais. Ah! esse divino milagre de existir. . .

domingo, 25 de julho de 2010

quebra-cabeça

Não tem jeito, temos que ir aprendendo e lidando com o que a gente acha que é e o que realmente é que as pessoas estão pensando e sentindo. Lidar com a incerteza e a insegurança é talvez o grande segredo das pessoas realmente felizes. Ainda não li esse livro. Ainda não li vários livros que nos ensinem a viver, a viver bem; mas eu duvido que seja necessário. Na verdade desconfio que também tenhamos que conviver com esse não saber tudo, com essas falhas, com as partes que temos pra formar a imagem, pra significar. Interpretar como se já conhecêssemos o todo e agir como se tivéssemos razão; ainda podemos sempre voltar ao início e tentar de novo quando errarmos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

pretexto

Eu peço desculpas por outros motivos, eu continuo achando que disse o que deveria dizer e fiz o que deveria fazer, eu só acho que não valeu à pena, que não houve entendimento, que não houve intensidade, que não houve interesse. Quando o auge do meu egoísmo me diz que não houve afeto, no sentido mesmo de alguma transformação esperada, algum gesto, algum silêncio, algum afago pelo tom, pelo toque, então me desculpo e espero que se desfaçam todas as impressões, que se diluam todas as expectativas ainda ocas. O motivo é sempre egoísta, infelizmente. Eu pretendo aprender a usar as palavras para as finalidades para as quais foram pensadas, e deixar de dar sentidos diferentes, que fujam das convenções. Quando eu vou aprender a linguagem dos sentimentos alheios e deixar de falar apenas meu próprio idioma?

domingo, 18 de julho de 2010

intervalo

Essas últimas horas, as mais recentes, vieram doloridas; carregadas de palavras, as boas e as não tão; se misturaram, ai já viu, é a densidade ideal para a formação desse estado anterior à lágrima. Espaço ideal pra sensação de indefinição dos fatos e acontecimentos. Momento ideal pra não saber o que calar e por isso escrever. É tudo ideal demais pra realidade que preenche o resto do tempo. Leminski já disse bem:

tudo dito,
nada feito,
fito e deito
Eu já escrevi textos e poesias sobre outras pessoas, mas a única criatura que me faz querer escrever o tempo todo é você, Ana.
Você vê o que um simples "estou com saudades de você", faz?
Ana, é isso que acontece. Eu e você somos nós, Ana, e eu amo isso existir.
Mas eu odeio também nós não sermos nós plenamente. É a parte mais estranha, porque por Deus, Ana, eu sinto saudades de um tempo que nunca existiu! Isso não é possível e, procurando explicações, eu só encontro duas: ou nós dividimos, numa outra vida, esses tempos, ou eu estou ficando louco. E eu lhe digo, Ana, eu lhe digo: eu estou crendo que a explicação real é a segunda.
Eu não queria fazer isso com você, de forma alguma, mas eu não posso mais suportar essa dúvida na sanidade se não disser: Eu seria capaz de qualquer absurdo, só para poder ouvir de perto as coisas que você me diz.
Ah, Ana, eu estou ficando louco, louco, louco. É tão triste se sentir assim, minha doce Ana, tão triste. Jamais eu gostaria que você sentisse a metade dessa tristeza, eu não suportaria vê-la assim.
Ana, quando você achar que eu estou indo embora, que a sanidade está me abandonando de fato, por favor, encontre uma forma de me trazer de volta, não me deixe cair nos devaneios da insanidade, por favor não deixe, Ana.
Por favor, não tenha medo de mim só porque estou louco. Pegue na minha mão e diga que vai cuidar de mim, que vai fazer o possível para que nós fiquemos juntos. Eu acho que se ficar mais tempo longe de você, as coisas vão piorar muito, Ana.
Você me faz bem, minha querida, jamais se esqueça disso, e se por algum motivo eu não voltar, por favor, se lembre com alegria dos momentos que passaríamos juntos.
Daniel Ramalho
Quer ficar encantado como eu? Acreditando que um sentimento tão intenso, tão bonito e tão forte pode existir de verdade porque alguém foi capaz de escrever coisas assim?
Então vai lá: Os muros da realidade já não bastam e sonhe... rs

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Blogagem Coletiva: "Tempos de Criança"
Infância

Difícil olhar pra ontem e não me emocionar; sim porque foi ontem quando eu era a menina magrela de cabelos compridos que sempre ouvia dizerem pra mãe: “corta esse cabelo que tá sugando ela, por isso é tão magrinha.” Eu só arregalava os olhos e pensava sobre o mistério dos cabelos longos. Era sempre assim, eu queria entender tudo, eu absorvia o mundo e por não dar conta de carregar, tinha medo, e tentava agir como gente grande, pois parecia mais seguro. Eu era sempre aquela que alertava que não arriscava, me responsabilizava por tudo e por todos. A menina sensata e quietinha, mas na minha cabeça a vida era aventura, e sempre senti o perigo dessa peripécia que é viver.
Minha imaginação me salvava de crescer antes da hora. Inventava histórias para as brincadeiras, onde goiabeiras, cajueiros eram casa, avião e cidades; os animais pacatos no pasto perto de casa sofriam mutações e muitas vezes eram os monstros que motivavam a correria em pânico, e os dias da minha infância corriam mais divertidos. Não precisava de nada que eu mesma não pudesse criar. Talvez daí venha a resignação de agora. Esse não esperar muito dos outros e do mundo. Porém isso não significa limitação e comodismo, eu só acho que tudo continua grandioso demais, encantador demais pra eu dar conta, e continuo tentando crescer, para estar segura, eu continuo tentando entender o mistério de ser criança, de ser gente.
Texto comemoração aos dois anos do blog É o menino - homem?. Vivas ao menino Abraão

terça-feira, 13 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

pensamento do dia com trilha sonora

Um raio de leveza chegou pela fresta do muro e foi suficiente pra escancarar o sorriso e enxergar a vastidão da existência, lá fora. Veio a coragem pra sair ao mundo, pra desfrutar o dia. Ah como é bom, se indispor e se dispor mais com a vida; encará-la com o punho fechado, às vezes; mas com os braços abertos, sempre.

Música: Eu apenas queria que você soubesse - Gonzaguinha

terça-feira, 6 de julho de 2010

enleio

Embora continuem as dúvidas
sobre os termos e sentidos
não deixo de escrever,
ler e reler a história de mim.
Um dia eu interpreto.

Queira mas não me entenda,
não busque saber cada detalhe.
Compreenda meu gosto
pelo mistério de ser eu.

Sou do signo de sagitário
e a profecia do papel de bala
diz que não suportamos análises;
a liberdade é minha bandeira.

Tenho uma parte que é só poesia
- por outros meios não me revelo -
Só essa arte me desvenda.