
Todo o poder da palavra
Lucília Helena Garcez*
A escrita permeia toda a nossa vida.(...)
(...) o processo de escrever é naturalmente o de reescrever, (...) a primeira versão de um texto, apesar de tão privilegiada pela escola, é apenas um rascunho, não traz mais que o embrião das idéias. O processo de reavaliar, reestruturar e reescrever é que constitui a essência da escrita, embora esta comece muito antes, no momento em que o redator tem o desejo de escrever. Desejar já é escrever, pois implica elaboração mental, processamento interior, busca, decisões e escolhas em diversos níveis. Colocar essas escolhas em linguagem verbal exata para transmitir idéias, rompendo a distância entre o que pensamos e o que escrevemos, é apenas uma das etapas da escrita. O próprio ato de produzir o texto vai recortando o mundo para o redator de uma maneira surpreendente, imprevisível.
Nesse sentido, escrever é descobrir, é desvendar, é construir, é dar forma às evanescentes sensações, emoções, representações, significações e interpretações do mundo. A trajetória humana vai sendo filtrada pela escrita e muitas vezes é o processo de escrever que nos mostra a nós mesmos o que somos e o que sabemos. Marguerite Duras considera: "Escrever significa tentar saber aquilo que se escreveria se fôssemos escrever-só se pode saber depois- antes, é a pergunta mais perigosa que se pode fazer. Mas também é a mais comum."
Somos escritos pela escrita. O ato de escrever torna explícitos pensamentos e saberes submersos, e refazer a escrita é retomar essas formulações, refletir sobre elas e reformulá-las, o que corresponde a uma reformulação de nossos fragmentos interiores. (...)
*Professora da UnB, autora do livro A escrita e o outro, publicado pela Editora Universidade de Brasília. (O papel onde estava o texto não mostrava de qual revista publicação foi retirado, só havia essa nota sobre a autora, deve valer a pena ler um livro dela, fico me devendo.)
*Professora da UnB, autora do livro A escrita e o outro, publicado pela Editora Universidade de Brasília. (O papel onde estava o texto não mostrava de qual revista publicação foi retirado, só havia essa nota sobre a autora, deve valer a pena ler um livro dela, fico me devendo.)
2 comentários:
Eu fico imensamente feliz por ter sido citado neste lindo texto, que mostra o poder e a função dos nossos escritos, da importância da informação, da revelação e da formulação daquilo que somos. Eu escrevo para me descobrir.
Gostei muito das idéias expostas no texto e concordo plenamente que a escrita é o recorte do mundo, é o modelo e a forma como vemos o que acontece ao nosso redor, e também dentro de nós.
Escrever é (re)viver!
Mil beijos para você!!
Belo texto, de uma significância incrível. Realizei um projeto de leitura, e considero que infelizmente esta visão pronunciada no texto, não condiz com a prática escolar. É necessário que a leitura e a escrita sejam encaradas com algo transformador, com o deposito de sentimento, sensações, realidades, e jamais vinculada com um ato mecânico.
“Ana você permeia em tantas atmosferas...” E por isso, e por mais outras coisas, adoro você... adoro esse cantinho...
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