segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada

V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

Manoel de Barros, daqui

Um comentário:

Thiago disse...

o Poeta Manoel de Barros nasceu em Mato Grosso, mas se considera sul matogrossosense. Posso dizer: é quase meu.