quarta-feira, 7 de maio de 2008

Mal-humor

Geralmente evito pegar o transporte alternativo (vans, lotação e afins) porque sempre tenho experiências negativas quando desobedeço a essa minha norma, o que culminou certa vez no único (espero que assim seja) assalto que presenciei, entre outros aborrecimentos. E eu como boa cristã que sou, evito situações  que diminuam minha fé nas pessoas. Porém quando horas de espera na parada, fome e cansaço se unem, a tendência é não usar o bom senso; assim peguei a primeira lotação que vejo na frente. Apesar de ter que subir no carro quase em movimento e sob gritos do cobrador que exige que eu seja rápida, eu ainda permaneço zen, me apegando a idéia de chegar logo em casa; assim tento desviar minha atenção dos inevitáveis transtornos de se “andar de van”. Então surpreendentemente, escuto:
_ Você se importa se eu acender um cigarro?
_Hã... Falou comigo?!
_Sim, se importa se eu acender um cigarro?
Eu devia ter respondido simplesmente: não. Poderia ter chegado em casa com o pulmão cheio de fumaça, mas ainda sim zen. Mas...
_Não, se não deixar a fumaça vir pra cá... Não quero ser fumante passiva. (Disse em tom amigável, com um quase sorriso, praticamente um: Claro que não, fume à vontade e dê baforadas na minha cara).
Foi então que eu desconfiei que me arrependeria de novo de não ter esperado o bus, e de não ter ficado calada. O sujeito, que era o motorista, ficou instantaneamente carrancudo, e em tom agressivo dizia que esse negócio de fumante passivo era “conversa pra boi dormir”, e nessa hora tive a certeza que ele queria mesmo era me xingar, mas continuou fazendo mil comparações cretinas pra provar que o que eu havia dito era uma grande idiotice, ou sei lá o que. Eu claro, não argumentei nada, porque nem sei se é verdade mesmo, e vi que não adiantaria tentar o diálogo.
Então me agarrando a esperança de que faltava pouco até o ponto onde eu iria descer, tentando ser tolerante; (possivelmente o brucutu estava tendo uma crise de abstinência ou mal-humor, o que ainda assim não lhe daria o direito de ser tão grosso) fui novamente surpreendida, tivemos que voltar a um posto de gasolina, onde o cobrador esquecera o celular, porém a essa hora ele já havia percebido que eu não me manifestaria mais, e se manteve silencioso, embora aborrecido (com cara de ofendido-furioso, pode?) e sem acender o bendito cigarro. Assim com minha fé no ser humano, visivelmente abalada, ainda cansada, com fome... Cheguei sã e salva (mas com leves escoriações) de mais uma viagem no transporte alternativo, e com uma promessa: não ir contra minha intuição, pelo menos nessa questão.


*Esse texto é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade, é só coincidência.

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Oi, grato pela visita ao Poema/Processo. Viu o blogue do Balaio?; talvez faça mais o seu estilo.de qualquer modo, vi que você gosta de Fernando Pessoa. Eu, também. Voltarei outras vezes, na medida do possível. Um abraço.