segunda-feira, 12 de maio de 2008

Divagando

Estive pensando, não na fúria louca com que os homens se lançam à busca do dinheiro, estive pensando, em coisas assim sem sentido.

Eu sempre quis saber tudo das pessoas, não o que elas fazem ou deixam de fazer, mas o que elas pensam ao tomar determinadas atitudes, mania de querer explicação pra tudo, não sei se é por que sempre me encantei com o mistério das coisas e do mundo, sempre imaginei que as coisas acontecem por certa magia; achava que os trocados que sempre existiam no bolso da bermuda que meu pai deixava pendurada dum lado da cama, era algo assim; porque eu sabia que todo o seu trabalho era transformado em tudo que precisávamos da comida ao lápis, e não sobrava muito pra outras coisas, mas quando eu achava que nem adiantava pedir daquela vez, eu ia antes verificar se havia acontecido algo inexplicável e os trocadinhos estavam lá. Eu não queria perguntar de onde vinha o dinheiro tinha medo de saber que haviam vendido alguma coisa ou outra resposta lógica, porque isso não seria um encanto, seria comum e um dia poderia dar errado, poderia faltar...eu preferia a esperança e as possibilidades do desconhecido.

Desde menina sempre tive essa mania de pensar nisso, que era algo parecido com a sorte, mas que não era sorte, pois esta envolve mais incerteza e probabilidade do que esperança.

Acreditei que vi um anjo aos sete anos; num dia em que perdi um dos meus chinelos dentro da lama; depois de sujar as duas mãos procurando e já um tanto aflita apareceu alguém com uma lanterna e me ajudou, e eu que conhecia todo mundo de onde morava não reconheci a voz e nem pude enxergar o rosto da pessoa, eu sempre preferi acreditar no inacreditável, e continuei pensando assim até depois de certo tempo. Mas ultimamente venho descobrindo que estou deixando de perceber as coisas desse jeito mais encantador, estou descobrindo que seria melhor não saber o que as pessoas estavam pensando, num certo momento, pois começo a enxergá-las sem aquele mistério, sem o pedacinho onde a não-explicação abre espaço pra imaginação; percebi que na maioria das vezes onde o silêncio curioso foi substituído pelos porquês, também veio junto um pedacinho de decepção, descubro que as pessoas são tão humanas e reais quanto eu, e isso traz a certeza da limitação, da normalidade (ou anormalidade, em alguns casos), do determinismo.

Não estou dizendo que tudo que é humano é falho e imperfeito, mas que quando já não se é mais criança e deixamos esse jeito único de perceber o mundo, perdemos um pouco da capacidade de nos encantar, de enxergar novas possibilidades, de esperar algo surpreendentemente especial das situações mais adversas; de fantasiar mesmo, por que às vezes isso é muito necessário.

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