quinta-feira, 29 de maio de 2008

INCAPAZ

O mundo todo hoje, e não sei se desde que ele é mundo, valoriza a capacidade das pessoas, seja ela de qual tipo for, intelectual, esportiva, artística, física, qualquer tipo, e ao contrário abomina a falta de capacidade também de qualquer espécie, e eu como sou deste mundo, faço a mesma coisa, especialmente em relação a minha própria incapacidade.

Não há nada mais humilhante do que se sentir incapaz, por que uma coisa é considerar alguém, assim; outra é o próprio alguém se sentir assim. Faz toda a diferença. Eu posso ser julgada alguém sem talento algum pra escrever, e isso não me intimidar e continuar escrevendo meus textos como se ninguém jamais na face da terra houvesse ao menos pensado algo desse tipo; ou eu posso acreditar nisso, ou pior eu posso pensar isso por mim mesma, ter algum tipo de "semancol" e me sentir totalmente fracassada nesse aspecto, certamente eu sucumbiria ao meu próprio julgamento e jamais voltaria a escrever um bilhete que fosse.

Lembrei de minhas aulas da faculdade, a disciplina nem sei qual é (psicologia ou alguma parecida), mas lembro direitinho da professora nos contando suas experiências como assistente social, uma discussão acirrada se instalou sobre o porquê dos moradores de rua, muitas vezes, mesmo tendo oportunidade não voltam a "inserirem-se na sociedade".

Eu nunca havia pensado no que ela falou naquele dia, mesmo sendo algo óbvio: uma pessoa que vive uma sucessão de fracassos, que por mais que se esforce não consegue alcançar certos padrões considerados aceitáveis, não possui características ou outros requisitos que a "qualifiquem" para fazer parte de um grupo, seja lá qual seja; vai tendo sua auto-estima minada, a ponto de não ter mais forças para tentar de novo, não suporta mais nenhum tipo de frustração, de decepção, de falha.

Não pode simplesmente sair do que se torna uma zona de conforto, quando se estar no fundo do poço e não acredita que possa sair de lá, não acredita que tenham expectativas a seu respeito, não precisa provar nada pra ninguém, pode ser um tipo de alívio, de refúgio.

É claro que essas não foram literalmente as palavras da mestra, e nem essa é a única explicação ou situação possível nesses casos, nem mesmo quero dizer que morar na rua seja uma forma indigna ou humilhante de viver, há toda uma complexidade em torno da questão que esse texto não consegue e nem pretende contemplar. Mas me sentir incapaz de lidar com um simples sentimentozinho meu, hoje, me fez lembrar desse dia, quando eu percebi que a alma humana é muito mais inescrutável e surpreendente do que qualquer coisa.

Nós podemos limitar e tentar enquadrar as pessoas e suas formas de se relacionarem com o mundo a sua volta dentro de alguma explicação preconceituosa e mesquinha, julgar com base na nossa própria mediocridade, ou podemos tentar enxergar, perceber as ilimitadas possibilidades de ser e de estar, de viver, sem ter por parâmetros apenas a capacidade ou a falta dela.

Talvez o texto pareça confuso, entretanto, eu quis dizer isso mesmo, eu entendo exatamente o que quero dizer aqui. E não escrevi porque em algum momento da minha vida, eu tenha experimentado tal sentimento de inferioridade, talvez essa não seja a palavra, mas esse sentimento que paralisa o ser humano e o impede de tentar, de acreditar em si mesmo, de enfrentar as diversas ou adversas situações da vida, mesmo experimentando o erro, a perda, o fracasso. Embora tenha certamente vivenciado outros de maio ou menor intensidade, até semelhantes àquele, eu só espero nunca desistir de nada, nunca desacreditar em mim.


"Tudo posso naquEle que me fortalece"
Bíblia Sagrada

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