sábado, 29 de agosto de 2009

inteireza

Para ser grande, sê inteiro:nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis, 14-2-1933

olha aí o que andei achando nos meus arquivos esquecidos no pc, as coisas que guardei ainda me agradam...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

pobre rima, pobre sina

Eu dizia:
Meu dia só clareava quando te via
E você sorria; só ria.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

semântica

"No mal- entendido da linguagem nos tornamos humanos e amamos. Na palavra uma amizade se dissolve, um amor acaba, a história muda, a ciência se sustenta. Esquecemos de zelar pela palavra, que é coisa frágil e firme, líquida e consistente, efêmera e eterna. Esquecemos que a palavra é a nossa maior marca do paradoxo do desejo. Damos respostas rápidas no cotidiano, estraçalhamos a escritura do outro, acreditamos na totalidade do signo linguístico, criamos certezas ao redor de algo que é pura evanescência. A palavra não dá conta de quem somos, e nada que é mediado por ela é completo- é essa nossa angústia.

Precisamos reaprender a escutar o outro "além- palavra", escutar o silêncio da diferença. Nada mais fatal para o amor que a resposta rápida. Nada mais mortal para uma amizade que o julgamento precoce."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Inexorável

Sim.
Todos os poemas
são de amor.
Pela rima,
pelo ritmo,
pelo brilho
ou por alguém,
alguma coisa
que passava
na hora
em que a vida
virava palavra.
Alice Ruiz

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

amor tecer*
Eu entendi, eu me entendi. Realmente não posso fazer com que me olhem com meus olhos, que me ouçam com meus ouvidos e que me falem com meus desejos, pensamentos.
Eu sempre soube que é difícil se colocarem no meu lugar, porque eu já estou nele e não cabe outro, a não ser como generosidade e não como razão. No meu lugar não cabe mais matéria, mais julgamento, só cabe sentimentos que não tenham peso.
Tenho que me esforçar pra carregar o que já cansa o que já incomoda. Talvez por isso não consiga aliviar o outro um pouco, ajudar com sua carga. Eu não me orgulho desse egoísmo, ao contrário. Também queria ser para alguém uma delicadeza, um alívio, um agrado, poesia.
E é por isso que passo em instantes, do sentimento de despeito à compreensão e percebo que o outro sou eu e vice-versa. Me comovo ao perceber minhas fraquezas e defeitos em alguém que não sou eu. E sei que ninguém vai amar meu desamor, embora eu espere.
Mas perceber tudo isso não traz o que ainda falta; só me responsabiliza, transformar a estima por mim mesma em amor para alguém que "não eu".

*suavizar
imagem: fragmentos

terça-feira, 11 de agosto de 2009

fórmula

SEGUNDO CONSTA

O mundo acabando,
podem ficar tranquilos.
Acaba voltando
tudo aquilo.

Reconstruam tudo
segundo a planta dos meus versos.
Vento, eu disse como.
Nuvem, eu disse quando.
Sol, casa, rua,
reinos, ruínas, anos,
disse como éramos.

Amor, eu disse como.
E como era mesmo?

Paulo Leminski in: Distraídos Venceremos . Brasiliense. 2ª Ed. Curitiba 1987.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

vaidade


aula de modelo :p
a propósito, já disse Manuel Bandeira: A beleza, é em nós que ela existe.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Contexto criativo e verborragia

Normalmente quando me vem à mente um dos textos, microtextos que publico aqui, estou em trânsito. Hoje aconteceu algo engraçado. Já do ponto do ônibus embarquei numa viagem ao mundo imaginário. Normalmente preciso pegar dois bus para chegar ao trabalho; então estava eu no primeiro bus, distraída “avuando” na cadeira alta do fundão, escolhendo palavras, fazendo combinações na mente quando de repente voltei a mim num sobressalto, o ônibus parou por acaso na parada que eu devia descer e não tinha visto. Saí num susto do mundo da lua, e ainda atarantada desci. Eu que me encontro vez em quando na palavra escrita, dessa vez ia me perdendo literalmente, susto.

Foi mesmo atípico, normalmente penso em algo pra escrever e demoro alguns dias pra ter outra “inspiração”, a média é de uma a cada três ou mais dias. Hoje foram três pequenas narrativas que me vieram à mente, tudo que via me dava vontade de transformar em palavras, em história. Foi o senhor bonito quase correndo, de bengala na mão, tentando alcançar o ônibus que já saía, e o vento trouxe uma sacola plástica que se enroscou em suas pernas, e fez ele me ensinar que na velhice, agilidade e equilíbrio não se entendem. Foi o casalzinho adolescente dentro do ônibus que se abraçava entre brincadeiras deixando-nos em dúvida se era amizade ou amor também.

Mas por causa dessa rica experiência diária de usar o transporte público para ir trabalhar, no momento não pude imediatamente fazer isso, estava no busão lotado, e usando as duas mãos para tentar me equilibrar no corredor, já que não tive sorte de encontrar uma cadeira vazia; senão teria procurado uma caneta e papel na bolsa pra rabiscar, anotar, mesmo que obviamente não encontrasse, pois se eu encontrar uma caneta dentro da minha bolsa quando precisar, toda a lógica do mundo se inverteu.

Mas fiquei só na vontade de fazer como os escritores fazem quando lhes vêm a vontade, o desejo e aproveitam o que estiver à mão, um guardanapo, um saco de pão, um espaço onde lhe seja permitido gravar aquele recorte de vida que cintilou a realidade, aquele tantinho de poesia. E é isso que quero quando faço meus escritos, meus rabiscos; é guardar na memória, é registrar uma imagem, sensação, pensamento que naquele momento tomou conta de todos os meus sentidos, me ofuscou momentaneamente e me fez querer deixar disponível pra olhar de novo, sentir de novo quando eu quiser ou apenas lembrar. Essa ansiedade de escrita também me fez lembrar a mãe do poeta Fabrício Carpinejar, poetisa Maria Carpi (se não me engano) que conta o filho, usava até o próprio avental como suporte para seus versos, essas coisas formam cenas lindas na minha cabeça e me encantam. Olha que lindo:
"Queremos o desejo de estar sendo. Quando pequeno, meu pai me levava para a sinfonia das árvores em frente de casa, em noites cheias de vento. Ele levantava a cabeça para ouvir melhor. Ele levantava a cabeça ao escrever, não baixava como o normal. Enquanto ele anotava, eu ficava intrigado: será que meu pai está plagiando as árvores? Minha mãe não era diferente. Um dia eu a vi escrevendo no avental. Não achava folhas e assinou um longo poema no avental. Sabe o que significa a um menino chegando com bola debaixo do braço, fedido de mato, enxergar a mãe redigindo em um pano? Tudo. A escrita é linha de costura. Mas uma costura por dentro. Ninguém enxerga os pontos." in: http://www.carpinejar.blogger.com.br/2004_04_01_archive.html

Então é isso, queria dizer dessa sensação de cumplicidade com a vida, dessa felicidade que transborda das mínimas coisas, dos mínimos gestos, das delicadezas quase imperceptíveis, ando respirando uma felicidade tão vívida que me espanto, porque não está ligada a nada novo, a nenhum fato específico que não seja minha existência inteira, essa dádiva. E mesmo que me entristeçam às vezes, e mesmo que eu aborreça alguém às vezes; ainda assim o que me habita é incrivelmente melhor e mais fascinante; perdoa, supera.

Desculpe a incoerência, a falta de técnica. Mas prefiro o conteúdo à forma (desculpa esfarrapada de quem não sabe) e não quero deixar passar a oportunidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

quer um gole?

De novo. Estou inebriada. Tomei minha dose regular de realidade, na verdade duas, a segunda foi pensando que era água, e não era.
Andava precisando, sóbria de sonhos e imaginações. Andava tropeçando em alguma ilusão.
Agora sim, ébria andando na linha reta da vida com meus passos trôpegos.

sábado, 1 de agosto de 2009

Atenção

Atenção
essa vida contém cenas explícitas
de tédio
nos intervalos da emoção
quem não gostar
que conte outra
vire artista
e faça sua própria versão

aqui não tem
segunda sessão
Alice Ruiz
Foto: in julho de 2007, assistindo Uma mente brilhante, e a câmera que estava no sofá embaixo das almofadas, disparou sozinha registrando um recorte, a bagunça e um momento de um tempo atrás in my life. Olhando um cd de fotos que guardei, achei. Até as coisas esquecidas e já passadas nos compõe.