terça-feira, 20 de outubro de 2009

O outro lado

Eu sei que é difícil ver um lado bom em levar um banho de água suja enquanto se aguarda seu bus na parada já há longos quarenta minutos, debaixo de uma chuva no fim de um dia de trabalho mas...tudo bem também ainda não vi o lado bom disso; mas o fato é que se eu tivesse me deixado levar pela raiva e pelo mau humor certamente não teria reparado alguns minutos depois a seguinte cena: tentando se equilibrar entre os buracos da pequena descida de terra próxima a parada, vinha um senhor agarrado ao braço de uma senhora, apressados por causa da chuva fina, mas persistente. Até ai tudo bem, um casal de velhinhos tentando chegar à parada de ônibus.
O que me chamou atenção foi a distinção e a postura dos dois, o homem que andava com dificuldade e em certo momento desiquilibrou-se mas não caiu por estar amparado nela. Ele mais parecia aqueles velhinhos típicos do interior, chapelão na cabeça, camisa de mangas compridas amarela, calça social marrom, parecia mais velho que ela, que não lembrava em nada as vovós do interior com seus vestidões muito simples. Andava com determinação, vinha de calça jeans e regata branca, com uma sandália rasteirinha vermelha; quando chegou mais perto percebi que as maças do rosto estavam muito rosadas, marcadas pelo blush rosa como os círculos rosados do rosto de bonecas infantis, e mesmo assim não destoavam dos óculos que usava, a maquiagem parecia muito dela, muito apropriada, não estava em desarmonia com o estilo moderno.
Ao chegarem, tratou de acomodar o companheiro na pontinha do banco (pai ou marido não sei) e permaneceu de pé ao seu lado, cinco minutos depois ao passar o ônibus que esperavam, 0 segurou novamente pelo braço e o ajudou a subir os degraus e lá dentro a sentar-se e novamente permaneceu de pé, mesmo tendo assentos vazios; muito cuidadosa e resignada, como se fosse incansável. O silêncio entre eles deixava ainda mais a mostra nas atitudes, o vínculo que existia ali. Logo percebi que não se tratava de tempo e velhice o que eu acabara de presenciar, mas de coragem e força; de vida. Tratava-se da grandeza que pode existir mesmo na fragilidade e na fraqueza. E por um bom tempo eu fiquei pensando no futuro como algo bonito e bem maior que a mediocridade e a mesquinhez de alguns.

3 comentários:

Kholdan disse...

Lindo isso!!! Esses detalhes da vida que na maioria das vezes nos passam despercebidos...
Perfeito!!!
bjs

Abraão Vitoriano disse...

concordo!
e você faz da vida:
música e coração...

perceber cores
e estampas assim,
é coisa rara.

um super beijo,

do seu menino-homem.

Thiago disse...

é engraçado que a gente fantasia tanto que o simples parece tão improvável quando pensamos no futuro.
eu terei de perdoar os meus equívocos quando chegar a hora de me ver na versão mais simplificada dos meus sonhos. e serei feliz, certamente.

Um beijo, gostei muito de tudo!!!