segunda-feira, 17 de agosto de 2009

amor tecer*
Eu entendi, eu me entendi. Realmente não posso fazer com que me olhem com meus olhos, que me ouçam com meus ouvidos e que me falem com meus desejos, pensamentos.
Eu sempre soube que é difícil se colocarem no meu lugar, porque eu já estou nele e não cabe outro, a não ser como generosidade e não como razão. No meu lugar não cabe mais matéria, mais julgamento, só cabe sentimentos que não tenham peso.
Tenho que me esforçar pra carregar o que já cansa o que já incomoda. Talvez por isso não consiga aliviar o outro um pouco, ajudar com sua carga. Eu não me orgulho desse egoísmo, ao contrário. Também queria ser para alguém uma delicadeza, um alívio, um agrado, poesia.
E é por isso que passo em instantes, do sentimento de despeito à compreensão e percebo que o outro sou eu e vice-versa. Me comovo ao perceber minhas fraquezas e defeitos em alguém que não sou eu. E sei que ninguém vai amar meu desamor, embora eu espere.
Mas perceber tudo isso não traz o que ainda falta; só me responsabiliza, transformar a estima por mim mesma em amor para alguém que "não eu".

*suavizar
imagem: fragmentos

6 comentários:

Thiago disse...

terminei de ler 'maçã no escuro' da Clarice, e esse texto vem como uma luva. É sobre algo que está queimando, algo que percebemos pelo tato, mas que recebe um falso nome às claras. é sobre o íntimo revelado e a função de não ser compreendido, afinal, de que adianta compreender? vivemos primeiro. e temos esta função de reconhecer, de subir as cortinas e, quando nos olhamos, não nos reconhecemos.

Acho que este texto está sem igual, está fabuloso. É algo que eu, honestamente, gostaria de ter escrito. Calma, não é inveja, é admiração.

Um bjo!

Ana Aitak disse...

eu não quero nem saber se é exagero seu, fico feliz demais com seu entusiasmo...encantador.
obrigada

Thiago disse...

exagero que nada.
arrisco até em dizer que fui modesto.
um bjo!

Claudi Costa disse...

Lindo o texto!! De sua fiel seguidora.
bjocas!

Abraão Vitoriano disse...

"E sei que ninguém vai amar meu desamor, embora eu espere."

Ana,
infinita é você...
que texto bonito, num tom novo, um estilo seu, e isso me fascina!

beijos, e beijos, e um abraço e luz e calor

do seu homem-menino-apaixonado.

Guilherme Antunes disse...

faço minha, todas as palavras acima pelo encanto da poesia que te vai ao coração e que externas!

... muiiiito bom! .. tanto que a transcrevi em meu blog, com seus devidos créditos, óbvio!

Beijão!