sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Testemunhas

Ontem eu assisti um filme na tv, Dança Comigo com Richard Gere, Jennifer Lopez e Susan Sarandon. Sou suspeita pra falar porque adoro esse tipo de filme, que fala sobre dança, que tem dança na história, mas achei emocionante mesmo, fiquei pensando numa fala da personagem Beverly Clark (Susan Sarandon) esposa de Clark (Richard Gere) onde ela explica porque as pessoas se casam. Disse que as pessoas se casam "Porque precisamos de alguém que testemunhe nossa vida. Com bilhões de pessoas no planeta o que a vida de alguém significa? Mas no casamento você promete cuidar de tudo. As coisas boas, as ruins, as terríveis. As coisas mundanas... Tudo isso, o tempo todo, todos os dias. Você está dizendo: "sua vida não passará despercebida, porque eu vou perceber. Sua vida não passará sem testemunho, porque eu serei sua testemunha." (finalmente encontrei aqui na íntegra, e consertei, alguém também achou uma linda fala)

O fato é que isso me lembrou uma situação inusitada que aconteceu há alguns dias, esperando o sinal fechar agarrada a um poste enquanto as outras pessoas se arriscavam no meio do vai e vem dos carros. Um senhor bem idoso chegou perto de mim. Perguntou se eu estava com medo, se queria viver muito. Disse que faria 70 anos tinha trabalhado não sei quantos anos pro Governo, sua mulher faria 65 anos de idade e eles fariam 45 de casamento. Eu disse a ele que isso era muito bom, e faltavam apenas cinco anos pra comemorarem bodas de ouro. Ele insensível a minha pouca atenção, tirou da carteira uma foto de sua senhora me contando que ela havia ido ver os pais no Ceará. Eu disse que era bonita (não menti), me admirei dos pais ainda estarem vivos; fiquei meio sem jeito daquele senhor esta me contando sua vida toda no tempo em que o semáforo demora para ficar verde. Abriu o sinal, disparei e ele continuou andando ao meu lado, conversando. Eu até andei mais devagar porque não quis ser grosseira e deixá-lo falando só. Mas então tive que dobrar a esquina e acho que ele tinha que seguir em frente, fiquei aliviada porque a gente sempre acha que essas pessoas são um pouco loucas, mas fiquei mal depois, porque quando eu tive que seguir em outra direção, nem olhei pra trás pra me despedir com um sorriso cordial.

Depois fiquei a pensar porque aquele senhor abordou uma estranha num sinal de trânsito pra lhe contar um pouco da sua vida, do seu cotidiano. Será que estamos tão insensíveis e indiferentes assim? Que não conseguimos nos escutar, nos falar mais. Dividir nossos pequenos dramas, comédias e romances cotidianos? Eu acho que talvez esteja faltando sim, um pouco de cumplicidade, de generosidade. Acho que precisamos sim de alguém pra dividir essa imensidão que é viver, de compartilhar essa vida que transborda em nós.
Que nesse ano sejamos mais humanos, mais generosos, mais atenciosos, sejamos testemunhas uns dos outros.

Eu me pergunto porque eu também venho contar dessas amenidades aqui, acho que eu também estou conversando com um estranho esperando o sinal ficar verde, pra continuar.

Mil beijos meus confidentes inesperados. Feliz ano novo! Oxalá que seja um ano de paz.

10 comentários:

Juliet disse...

Belissimo texto!
Feliz 2009 a voce...e que o ano continue com muitos posts como este aqui para completar os dias.
Bjukas de uma leitora silenciosa!

SUSANA disse...

Que lindinho esse texto! Feliz 2009!

Fernanda disse...

Feliz ano novo pra vc também;;;
adorei a historia,pareceu cena de cinema...
a partir de hoje darei mais atenção ás pessoas que vierem conversar comigo na rua.

Ana Aitak disse...

Obrigada meninas,de coração...

Anônimo disse...

Desde os primórdios o ser humano é duro de coração...

Nada mais natural...

Pri S. disse...

Oi, Ana! Nossa! Que coincidência! Vimos o filme exatamente no mesmo dia. Vc encontrou as falas dos personagens no meu blog "Fragmentos". Mas eu escrevi sobre ele no meu outro blog "Devaneios". Escrevi indiretamente, porque apenas contei o resultado q o filme provocou aqui em casa. rs Tocante seu texto. E o mais engraçado é q eu estava me preparando para postar uma música de "A Casa das sete Mulheres" lá no "Fragmentos", e qdo venho aqui comentar seu comentário, vc tb colocou uma música da trilha sonora. Coincidências boas! ÓTIMO 2009 pra vc.

Thiago disse...

adorei tudo o que está escrito aqui. eu queria saber falar mais, pra também não deixar que as pessoas que me abordam sentirem que sou indiferente. eles são tão especiais e raros que a gente não sabe como lidar com a cumplicidade imediata e sem cobranças.
a gente tá cada vez mais desconfiado, da pior forma possível: o que é bom, a gente desconfia que é ruim, o que é ruim a gente desconfia que é péssimo. acho que falta otimismo de verdade, falta acreditar mais nas pessoas. o que me faz lembrar dessa fala do filme: a gente precisa de alguém que seja confidente, que assista, que me faça e que se sinta importante entre os bilhões de humanos que acordam todos os dias.
te adoro,
bjoebjo.

Anônimo disse...

necessario verificar:)

Ivone Louvain disse...

Olá!
Parabéns pela busca e publicação da pesquisa.
Não me lembrava exatamente das palavras, mas sempre pensei no quanto fiquei impressionada com elas, que são bárbaras! (rs)
Amei tê-las encontrado no seu blog.
Abraços!

felipe disse...

obrigado pelo post. era essa fala dessa personagem q eu procurava. vlw