domingo, 11 de janeiro de 2009

Personagem

Eu estou tentando escrever uma crônica onde a personagem seja uma mulher, mas acho muito autobiográfico e não consigo encontrar um nome que faça o leitor acreditar, assim como eu acredito, nas personagens dos livros que li e acho que não poderiam ter outro nome senão aquele. Acho os nomes que coloco muito inapropriados. Ninguém acha que a moça dos olhos de ressaca deveria ter outro nome que não fosse Capitu, inimaginável isso. Não que eu imagine criar uma personagem tão famosa, mas encontrar essa verdade, que só é possível na fantasia.
 
Então a mocinha dessa história não tem nome ainda, mas existe. Vou tentar falar um pouco sobre ela, tentar familiarizá-los sem que isso signifique que devam simpatizar com ela. Mas então, essa moça também não vive nada de extraordinário, não faz nada de extraordinário que faça dela a nossa heroína; embora pessoalmente, eu creia que qualquer pessoa seja digna desse título, qualquer um que esteja nessa luta diária que é viver, é herói. Alguns têm que guerrear mais, mesmo que seja difícil pra mim desmerecer alguém, julgar o quanto uns são mais fortes ou valorosos que outros, e quanto a esse pensamento eu e a moça de quem falo somos parecidas.
 
Na verdade quanto às muitas dúvidas em relação a tudo, ela é assim, eu também. Falemos dela. Outro dia mesmo, na verdade há muitos dias, mas quando acontece algo do tipo, fica-lhe na mente como um pequeno filme aquela cena, e vez ou outra se pega a lembrar de repente.
Outro dia então, foi que estava numa estrada esperando, (a espera é frequente) e viu passar o que parecia ser uma família: duas crianças, uma moça e um rapaz cada um numa bicicleta. De repente a que parecia a mãe desacelerou e esperou que o moço, que parecia ser o pai, apoiasse a mão em suas costas e lhe desse um impulso, ao que lhe retribuiu com um sorriso, a cena também agradou aos outros membros da família viajante.
Aquele gesto comoveu a moça de um jeito; como ela achou lindo aquela ajuda, aquele empurrão; não foi um empurrão puro e simples, foi cheio de cumplicidade, carinhho e afeto e aquilo a emocionou bastante, lembrou de um filme que nunca assistiu (nem eu, talvez o faça um dia) , chamado O caminho da nunvens¹ onde um família faz uma viagem sobre bicicletas.
 
Vejam vocês como eu posso fazer dessa moça alguém que também se comove, com a entrada de um casal dentro do ônibus, com a gentileza do rapaz ajudando a menina com as sacolas, tendo o cuidado de procurar um lugar pra ela ou se ficarem de pé, ficar ao seu redor como a proteger-lhe de qualquer desequilíbrio numa curva, ou qualquer outra coisa.
 
Alguns podem pensar que essa moça tem uma sensibilidade boba, gosta dessas sutilezas dos romances reais, outros podem dizer que é muito brega essa admiração, que não veêm beleza numa cena trivial dessas. Eu sinceramente começo a ter simpatia por ela, seus sentimentos, sua forma de olhar as coisas, as pessoas. Mas ainda não é essa a personagem sobre quem quero escrever. Talvez se eu lhe desse um nome...Não. Vou tentar de novo mas, outro dia.
 
1- "O Caminho das Nuvens é baseado na história real de Cícero Ferreira Dias. Caminhoneiro desempregado que, junto com sua mulher e seus 5 filhos, pedala desde Santa Rita, na Paraíba, até Bangu, no Rio de Janeiro, numa arriscada jornada de 3.200 quilômetros."(http://www.adorocinemabrasileiro.com.br/filmes/caminho-das-nuvens/caminho-das-nuvens.asp )

PS: Rascunho enviado diretamente de Teresina-PI.

Um comentário:

Thiago disse...

eu gosto de ler seus textos em voz alta. ainda não sei porque. eu me emociono.

bjoebjo.