sábado, 11 de outubro de 2008

O vestido mais bonito

Eu sempre quis escrever sobre essa lembrança da minha infância, mais que outras, nem sei o motivo; acho que porque nem consigo sequer lembrar essa passagem sem que sinta uma pontinha daquilo que senti no dia. E isso me emociona, é estranho, eu mesma acho ridículo, mas também um pouco triste e um pouco terno.

Até meus nove ou dez anos de idade ou mais, as minhas roupas assim como as de minha irmã eram feitas por uma costureira, quando já estávamos com todas as peças “surradas” era a hora de minha mãe ir até a cidade escolher os tecidos e mandar fazer, geralmente conjuntinhos de uma cor só, ou vestidinhos. Essa era uma época de pura felicidade, os olhos brilhavam quando era chegada à grande hora de experimentar a roupa nova, pra ver se servia.

Numa dessas vezes, quando eu tinha uns sete ou oito anos minha irmã mais nova ganhou um conjunto e eu um vestido, não me recordo bem da cor e do modelo da roupa nova da minha irmã, mas do meu vestido não há como esquecer, era o vestido mais bonito que alguém havia feito, o comprimento era até os joelhos, simples, sem mangas, sem rendas, sem enfeites; o que havia de especial era o tecido, na verdade a cor do tecido, porque provavelmente era uma chita como as outras; mas sua estampa eram listrinhas fininhas de várias cores, nem berrante, nem apagado, era o arco-íris mas bem representado que eu já havia visto, e passava horas admirando aquelas listrinhas no meu vestido novo, tentando imaginar qual o início da seqüência das listras, como poderiam ser reagrupadas... eu me encantava. Achava que quando eu vestia aquele vestido mais bonito de todos, ficava linda, tinha certeza.

Um dia motivadas pela rivalidade entre irmãos, que no meu caso era agravada pelo ciúme que sentia da minha irmã caçula, depois de algumas provocações e teimas infanto- fraternais entre nós, decidimos que a pessoa mais indicada pra dizer afinal, de quem era a roupa mais bonita, era nossa mãe. Eu mesma sabendo da predileção e vantagem dos irmãos caçula estava certa que dessa vez isso não contaria porque, quem seria capaz de discordar que o meu vestido era o vestido mais bonito de todos?

E lá fomos nós, cada uma mais faceira que a outra, exibindo confiantes do voto daquela que era sem dúvidas a nossa predileta , nossos trajes mais belos e preciosos. Eu não sei como minha irmã se sentiu, pois nunca mais falei com ela sobre esse fato, talvez não lembre, era muito pequena, mas eu nunca vou esquecer de como me senti depois de ouvir que o conjunto dela era o mais bonito. Creio que minha mãe falou mais pra se livrar de nossa importunação, do que por qualquer outro motivo, talvez tenha pensado que eu entenderia por ser mais velha, ou não; mas depois de escutar aquilo, eu não consegui ficar na presença das duas e de mais ninguém, porque lembro que havia mais pessoas na sala, nem sei. Eu saí disfarçando a decepção e fui para o quarto dos meus pais, me escondi ao lado da cama, onde não podiam me ver, eu não queria chorar por aquele motivo bobo, mas também não podia conter nenhuma lágrima, acho que a certeza que eu tinha descia em cada uma. Eu continuei acreditando que meu vestido era o mais bonito, mas passei a acreditar também que só eu achava isso, ninguém mais, então eu poderia estar errada, e talvez estivesse feia com um vestido horroroso.

E daquele dia em diante, mesmo que me digam: o seu vestido é lindo, o mais bonito de todos. Mesmo que eu queira, eu não consigo acreditar. Mas também decidi que um dia, quando eu tiver filhos, nunca vou deixar que desacreditem da própria beleza, mesmo que jamais me questionem eu vou dizer a eles, para que nunca duvidem, que estão com as roupas mais lindas, que são os filhos mais bonitos desse mundo.

2 comentários:

Guilherme Antunes disse...

Nossa infância é abençoada em tantas formas, porque somos inocentes, porque somos fluidos, abertos.. não vivemos em volta de prisões de pedra que construimos e que hoje, acreditamos que também é nossa fortaleza.. nossa proteção.

.. em algum momento, quando a dor nos visita e essa confiança plena da criança é quebrada, começamos a colher as pedras do caminho e por a nossa volta, na idéia de que devemos ser mais fortes e imunes a experiências semelhantes que poderão vir a nos doer.

Assim, deixamos de sorrir, deixamos de nos entregar. O amor não vem. Não nos amamos. Tão difícil amar o próximo. Não nos aceitamos. Porque o medo nos ronda.

Tão pequeno acontecer que reflete de forma profunda pela lembrança emocional que você carrega! Torna-se então grande acontecer.

.. precisamos dissolver o que nos impede de alçar vôos altos!

.. dessa gratidão de quem se é e que começamos a descobrir aos poucos!

Você é linda. Você é um doce. Tão interessante em seu exitar. Seus cabelos me parecem ser belos.. me convidando pra te dar um cafuné. Seus vestidos são agrados aos meus olhos que, quando lhe veem em alguma foto, sorriem.

Você é você! E mesmo que eu diga, o que eu digo não importa! Você é você!

Hoje eu acho, que o nascer do Sol foi tão estúpido.
Aos olhos de um enamorado, a manhã de hoje foi a mais inspiradora.

O Sol será sempre o Sol.
Você é você. O resto, realmente, não conta!

Guilherme Antunes disse...

Você é a mais bonita!