terça-feira, 21 de outubro de 2008

Há alguns anos atrás quando uma prima querida estava prestes a decidir morar com o namorado, mudar de cidade, mudar de vida. Depois de uma conversa em que me confidenciou sua intenção, cheguei em casa e fui pensar sobre o assunto, não sei por que, acho que pensei que ela realmente fosse embora, resolvi escrever uma carta pra ela, na verdade vasculhei meus livros didáticos, meus papéis guardados, meus recortes e copiei alguns poemas, escrevi alguns desejos de felicidades e lhe entreguei numa folha de caderno, no dia em que ela viajou para tomar a decisão.
O tempo passou de novo, ela não casou com o pretendido na época; voltou, e depois eu é que fui embora. Mas numa das vezes em que nos reencontramos, numa conversa entre primas, ela tirou da carteira a folha de caderno já marcada pelas dobras, já envelhecida e me disse que guardou o presente todo esse tempo, que havia gostado muito, que leu junto ao namorado na época. Eu fiquei feliz em saber que aquele gesto, meio infantil, foi agradável e bonito. Eu reli o que tinha escrito, nem lembrava mais, e também gostei do que estava ali. E um dos poemas também ficou sendo um dos meus preferidos, esse:

Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não.
A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
Adélia Prado

Um comentário:

Thiago disse...

companheirismo é o que há de melhor ;]
bjos e boa quarta!