sexta-feira, 11 de julho de 2008

Louco??

Entro no ônibus tentando me equilibrar com uma sacola na mão e a bolsa na outra, enquanto o motorista treinava para fórmula 1; chego enfim ao fim do ônibus, numa das poltronas próximas à saída; é ...eu também não entendo por que todo esse desespero de passageiro para conseguir um lugarzinho nessa região do busão. (serão os motoristas tão maldosos que não esperam os passageiros se dirigirem até a saída quando o bus pára, se já não estiverem com os pés praticamente fora do veículo? Não sei, mas prefiro não arriscar também...)

O caso é que o ônibus estava quase vazio e alcancei essa dádiva, e de repente o passageiro a minha frente levanta perguntando se quero que feche as janelas. Pensei : que sorte a minha, conseguir lugar no fundão e ainda encontrar um cavalheiro sensível que percebeu que odeio janelas abertas nesse frio de lascar, sem eu nem demonstrar isso.

De repente o homem saca um papel da bolsa, contendo um endereço e uma frase, Jesus te acompanha, te protege ou algo do tipo; perguntou se eu sabia onde ficava o endereço, eu disse que não e orientei a pedir ajuda ao cobrador, ele respondeu que aquele havia levado uma pancada na cabeça e não saberia explicar... Olhei rápido na direção do cobrador tentando encontrar algum indício que comprovasse isso, entretanto ele aparentava está com a cachola intacta, inclusive estava a paquerar a moça ao seu lado.

Daí em diante o moço cavalheiro tirou uma gravata da bolsa, e falava em emprego, ser contratado; em filhos pra criar, que eram só crianças, que o jeito era cuidar e mais outras coisas não conexas a estas; dizia que não queria saber; se estava escrito que Jesus ia ajudar, ele iria descer não sei onde e coisa e tal. Foi aí que notei que ele era um sujeito incomum, as outras pessoas no ônibus fingiam não escutar suas conversas em alto e bom som consigo mesmo, pois nessa hora já não se dirigia mais a mim.

Percebi que estamos muito indiferentes, não nos permitimos ao menos olhar pro lado, receio de sermos tocados pela loucura, pela miséria, pela alegria alheia? Não queremos nos envolver nos problemas de ninguém, não queremos ter parte em nada, já nos basta nossas cruzes. Como disse Mário Quintana: o pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.(Eu jurava que quem havia dito isso era Paulo Leminski, mas não é, viva o Google). E nós seguimos isto à risca, nada nos sensibiliza.

Eu também não fiz nada, me limitei a rir um pouco amarelo daquela situação meio triste, meio engraçada e desci na parada seguinte.

Mas eu me perguntei: Quem é o louco? Aquele que mostra o que sente, que diz o que pensa, que não se importa com os olhares inquisidores ou quem não se importa com seu semelhante, quem não se solidariza com as fraquezas e felicidades, quem é frio e indiferente a outro ser humano igualzinho a si, toda a vida?

Deveria haver mais gente incomum, estranha, verdadeira, maluca; nessas ruas, nesses ônibus, que fechassem as janelas no frio e abrissem-nas no calor, que cedessem o lugar, que falassem alto que estão com medo, que provassem a gravata pra ver se vai ficar legal caso sejam contratados, deveria haver mais gente que não sabe o endereço mais que sabe que se está escrito: Deus está contigo, pode descer onde quiser.

Um comentário:

israel disse...

ele sempre esta conosco...

realmente seria bom se os seres humanos se tornassem mais humanos..

belo blog..

otimo texto!

parabens.