segunda-feira, 24 de março de 2008

Tato

Atendendo a pedidos, digo a um pedido, digo a um quase pedido ... continued...
Bem este será um dos mais difíceis da série (chique heim? ) pois falar desse sentido, pra mim, implica falar de algo mais amplo que o simples toque ou sensação; para tratar desse assunto teria que abranger tudo que as sensações através do toque nos proporcionam e confesso a vocês que não sou a pessoa adequada para isso, me considero meio travada no trato com as pessoas, ficou meio estranha essa afirmação, mais foi o que consegui. Não, não sou traumatizada por causa disso (acho que não) confesso que isso interfere um pouco nas relações interpessoais, um contato mais próximo me deixava sem jeito até pouco tempo. Mas são coisas que vamos aprendendo a lidar e vamos transformando ao longo da vida. A minha criação foi como a de diversas outras crianças do interior, pelo menos de onde eu vim era assim, porque nada é imutável e a maneira de criar os filhos também muda e mudou, mas na minha casa era assim, até uns cinco anos de idade por aí, não sei bem, as crianças recebiam todo o carinho e afeto dos pais, igualzinho eles haviam recebido dos seus e assim por diante. Lembro que meu pai sentava numa cadeira pra descansar ao chegar do trabalho e esticava as pernas sobre outra cadeira, que chamamos tamborete (vulgo banquinho), e nessa hora se dava uma disputa acirradissima entre nós, os pimpolhos, pra ganharmos aquele colo. Quem ganhava, deitava sobre as pernas de nosso pai e se sentia a própria rainha ou reizinho da casa. Mas conforme íamos crescendo, nada disso era mais permitido, nem abraços, nem beijos, havia todo um respeito e temor que nos impedia de qualquer aproximação mais calorosa com nossos pais, era um "bença pai?" e de longe, parece que seria um grande desrespeito o contrário, chegar perto etc. Deve haver muitas explicações do porquê desse jeito de agir, concerteza uma prática passada de pai pra filhos há gerações, e não culpo meus pais por seguirem e fazerem o que achavam certo, o que sabiam. Hoje a psicologia, a pedagogia e as demais ciências que estudam o comportamento humano trazem a importãncia da afetividade na formação do ser humano. E como ser afetivo sem demontrar? O abraço, o afago, o beijo, o toque são tão importantes como as outras formas de expressar esse afeto. Mas eu não quero terminar esse texto enfatizando as falhas de um modelo educacional familiar de minha época, quero demonstrar o quanto importante é o tato, o toque, essa possibilidade que temos de nos relacionar positivamente através do nosso corpo, como é determinante e reflete a maneira como encaramos o mundo a nossa volta. Eu prefiro lembrar daqueles dias em que eu era a escolhida e podia receber aquele carinho, deitar sobre as pernas do meu pai e me sentir voando alto, mas segura e protegida, receber naquele momento mesmo inconscientemente todo o amor que eu nem sabia que existia.
Bom esse aqui ficou um misto de psicologia barata com autobiografia também barata. Mas como é meu, aceito com defeitos e qualidades e ainda publico.

2 comentários:

luz disse...

Ana, lindo seu texto. bjo

Dante Accioly disse...

Oi, Ana. Passei uns dias sumido daqui, né? Mas voltei hoje para reler todos os textos sobre os sentidos. Esse aqui, do tato, foi o que eu mais gostei. É engraçado porque eu senti isso também quando era criança e fui começando a crescer. Parece que os adultos, quando encontram outros adultos, têm receio de se tocar. De abraçar. De beijar. Ainda beijo meus pais, quando os vejo em Fortaleza. Assim como abraço e beijo meus irmãos e meus amigos. Não vejo nada de errado nisso. Não tenho vergonha disso. Tomara que meus futuros filhos também não tenham. :) Parabéns pelo blog. E muito obrigado pelas visitas na Página em Construção.