Ufa, enfim o último texto sobre os sentidos...
A primeira palavra que vem à mente ao falar do paladar é sabor, não só esse gosto dos alimentos, mas o gosto pela vida. Por isso essa ligação forte que fazemos entre lembranças, épocas de nossa vida e comida. Sempre temos um doce que marcou nossa infância, uma especialidade inigualável feito por nossa mãe e até mesmo as frutas roubadas em algum quintal na infância.Pra mim uma das melhores lembranças vem com um tipo de mingau feito com leite quente e farinha que era um manjar dos deuses, eu nunca imaginaria que a frequência com que aparecia no café da manhã era resultado da falta de alternativas, chego a quase sentir o gosto na boca, lembrando daquele tempo; cada um de nós cinco com sua tigelinha pessoal esperando a sua porção, que era saboreada entre assopros e alegria. As balas de hortelã e biscoitos sortidos que meu pai trazia a cada ida quinzenal à cidade eram aguardadas como quem espera o que de mais gostoso existe no mundo. Hoje as mesmas balas, os mesmos biscoitos não despertam as mesmas sensações. As expectativas mudam, os desejos mudam e com eles o que gostamos. Depois da televisão passei a desejar o morango com creme de leite que a moça do comercial fazia crêr não existir nada igual, o que mais tarde pude comprovar não era bem assim. Também desejava; aos seis, sete anos de idade; saborear maçãs, pessêgos, uvas e demais frutas que desconhecia; com a familiaridade com que saboreava as goiabas do quintal ( que eu mesma pegava nos galhos mais altos e arriscados, o que me rendia às vezes alguns acidentes, felizmente meu anjo da guarda sempre trabalhou bem). Mais tarde também percebi, que devia ter pensado menos nessas raridades e ter valorizado a fartura de goiabas, mangas e cajus. Vez ou outra ainda me pego realizando um pequeno desejo do genêro, e que pouca satisfação me trazem hoje em dia e cada vez me convenço mais que nada traz um sabor em si mesmo, cada um de nós dá um sentido, um sabor diferente a tudo, a vida.Nós a deixamos doce ou amarga, até azeda de acordo com o que fazemos e, ou esperamos, e que por mais ruim que possa parecer algumas vezes, certamente é melhor que a insipidez.
um beijinho pra quem chegou até aqui (o doce, claro rsrs)